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A seleção brasileira feminina de rugby tem uma nova identidade visual, idealizada por um movimento independente criado pelas próprias atletas. O novo símbolo será usado já no novo uniforme oficial, resgatando a origem do nome de batismo Yaras, escolhido também de maneira autônoma pelo grupo e que reflete o espírito guerreiro da mulher brasileira.
Para o lançamento, a CBRu está usando a hashtag #TempoDeCorrigir. “Corrigir” é o tema principal da campanha. Desde que adotou o apelido de Yaras, no fim de 2013, a seleção feminina atuava com um símbolo masculino no peito, o Tupi. O manifesto escrito pelas próprias atletas – e lido pela ex-atleta olímpica Beatriz Futuro – responde à seguinte pergunta: “Por que você luta?”.
Para a CEO da CBRu, Mariana Miné, as Yaras construíram um legado que reúne talento, resistência e superação. “A história da escolha do nome ‘Yaras’, da nova identidade, é uma história de coragem e coletividade das mulheres do rugby brasileiro. Uma história de reconhecimento que não foi pedido, foi conquistado. As atletas criaram um nome, um símbolo que representava o coletivo, criaram um uniforme de forma completamente independente e começaram a vender para trazer receitas ao grupo. Estamos agora dando o destaque para esse processo. Acredito que todos nós temos que reconhecer e honrar esse movimento”, avalia Mariana Miné, primeira mulher a assumir o comando da Confederação.
Construção coletiva – o processo da definição da nova identidade visual, do manifesto e
até mesmo da música-tema (Minha Força, da cantora Kaê Guajajara) contou com uma
construção coletiva. Atletas do elenco atual e ex-atletas se reuniram virtualmente para
chegar ao conteúdo final. Empreender, inclusive, é uma marca do grupo, que já havia
criado uma imagem prévia da Yara e incluído em uma linha de roupas de treinamento e
outros objetos.
O uniforme foi confeccionado pela marca esportiva brasileira Kick Ball. As Yaras seguirão com um uniforme amarelo como titular e ganharam um uniforme branco como reservas. Ambos estampam a imagem de uma representante dos povos originários do Brasil, em alusão à personagem Yara. Na mitologia tupi-guarani, ela é
filha de Pajé e temida guerreira que, para escapar da morte, se refugiou nos rios
amazônicos. Por essa razão, é conhecida em partes do país como a “senhora das águas”.
A coleção foi criada pelo designer paulista e jogador de rugby Liam Piacente e foi uma encomenda das jogadoras da seleção à CBRu. Demandou do artista cerca de dois meses de pesquisas até atingir a expressão desejada, dividindo as referências com as atletas da seleção e buscando sintetizar o espírito coletivo do grupo. Também foi necessário utilizar como referência o guia de marcas da CBRu e o símbolo dos Tupis, para harmonizar os traços, as cores e as formas da lenda feminina que estará em campo a partir de agora com as Yaras. A ideia é mostrar que não deve existir contraposição entre os dois gêneros dentro e fora do esporte.
“A essência de ser uma Yara é ter a consciência de que precisamos uma das outras para vencer nossos desafios e sonhar com mais conquistas. Esse reconhecimento é muito importante para esse grupo de mulheres que construiu identidade própria em um esporte que ainda é considerado essencialmente masculino”, ressalta Isadora “Izzy” Cerullo, uma das jogadoras mais experientes e vitoriosas do atual elenco.
“Essa conexão com a natureza interna e externa que os povos indígenas nos ensinam é uma referência muito forte para quem pratica rugby e sabe que tem que acreditar em cada lance, em cada oportunidade”, observa Juliana Esteves, ex-pilar da seleção entre 2010 e 2016, período marcado na vida dela por muitos títulos, pelo encerramento da carreira após os Jogos Olímpicos do Rio e pelo aprendizado com a cultura indígena, à qual ela ainda se dedica por meio de estudos e vivências.
O símbolo também será usado pela Seleção Feminina de Rugby XV.
Música-tema
Utilizada no manifesto que lança a nova identidade das Yaras, a música ‘Minha Força’ chegou para o grupo como uma indicação da ex-manager da seleção feminina, Marjorie Enya, esposa da jogadora Isadora Cerullo. Marjorie já era fã da artista Kaê, indígena do povo Guajajara, cantora, compositora, atriz, autora e ativista indígena brasileira. A letra da música – que você confere abaixo – conquistou o elenco. Virou hit no vestiário e traduziu o sentimento das meninas: ‘Ah, se eu soubesse sempre da força que carrego’. O contato para solicitar autorização da música no manifesto foi prontamente aceito pela equipe da artista, que também deixa sua marca na história das Yaras.
Minha Força (Kaê Guajajara)
Ah, se eu soubesse
Sempre da força carrego
Fico tipo um cavalo
Sem entender a força que eu tenho
Ah, se eu soubesse
Sempre da força carrego
Fico tipo um cavalo
Sem entender a força
É raro me ver assim
Te dei minhas rédeas
Mas elas não cabem na tua mão
Entrei no teu jogo
De novo e de novo
Me queimei no fogo
De novo e de novo
Eu não vou ouvir
Quando cê vier me iludir
Eu não vou ouvir
Quando quiser me fazer desistir
De ser eu mesma
Tua mente tu comanda
Não entra na pilha
De quem quer te derrubar
Mais uma vez encanta
E só tu sabe a força que tem o teu cantar
Olha pro céu e respira fundo
Seja a força