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ARTIGO OPINATIVO – O Super Rugby Aotearoa já acabou e é altura de vos dizermos quem foram os melhores da competição, sejam os novato (rookies), as surpresas, os veteranos e o MVP. Da formidável época de Richie Mo’unga até ao surgimento de Jona Nareki, passando pelo papel de Scott Robertson, isto é o último artigo do Super Rugby Aotearoa 2020!


O melhor jogador: Richie Mo’unga (Crusaders)

O melhor da época tanto pelo aspecto individual como colectivo, realizando mais uma temporada de altíssimo nível que acabou com a renovação de título de melhor franquia na Nova Zelândia. Mo’unga joga numa equipa que lhe permite ter liberdade para arriscar e expandir as suas melhores características, sempre bem compreendido por Scott Robertson que desde 2017 tem potenciando o internacional All Black para um patamar de excelência.

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Rápido com a oval nas mãos, dinâmico nas manobras colectivas onde combina perfeitamente quer com Jack Goodhue ou com o três-de-trás – em especial com o Will Jordan -, “forçando” os agora campeões do Aotearoa a manterem a mesma sagacidade e vontade de dominar os jogos, ou pelo menos naqueles 20 minutos finais em que normalmente ditam o resultado. Mo’unga foi responsável por o maior pontuador da competição com 99 pontos, o abertura mais metros conquistados (a par de Mitch Hunt, terminando ambos com 380), o segundo com mais defesas batidos (35), encerrando a temporada com 3 tries e 8 assistências.

O novato da temporada: Jona Nareki (Highlanders)

Atenção, é importante referir que para ser considerado rookie (novato) tem de obrigatoriamente obedecer uma regra: nunca ter jogado no Super Rugby e só se estreado nesta época de 2020. Ou seja, Hoskins Sotutu, Caleb Clarke, Marino Mikaele-Tu’u, Pari Pari Parkinson, Peter Umaga-Jensen, não podem entrar nesta categoria porque já antes se tinham estreado por uma das franquias do Super Rugby em anos anteriores. No meio das várias escolhas disponíveis (e caso tenham interesse deixamos aqui a lista oficial dos rookies desta temporada) assinalamos cinco nomes que competiram pelo prémio: Mark Talea (Blues), Jona Nareki (Highlanders), Tom Christie e Cullen Grace (Crusaders) e Kurk Eklund (Blues). O prémio foi dado ao ponta dos Highlanders que já prometia trazer algo de diferente a esta franquia, depois das saídas de Waisake Naholo, Tevita Li e Matt Faddes, reforçando assim a ponta esquerda (ou direita).

Olhando só para os seus dados do Aotearoa, Nareki foi capaz de aparecer no top-10 em três rankings diferentes: quebras de linha (em 3º lugar com 12), defesas batidos (foi capaz de fintar 22 durante toda a campanha dos ‘Landers) e metros conquistados (3º lugar com quase 500 metros). Não foi tão espetacular ou fisicamente expedito como Caleb Clarke, outra das revelações nas pontas das franquias neozelandesas, nem com uma visão de jogo tão aprumada como Josh McKay, mas mostrou toda uma energia que fez lembrar levemente Ben Smith e Rieko Ioane, rei de uma destreza e uma agilidade alegre e que fez constantemente furor quando a oval ia ter às suas mãos.

Melhor defesa: Dillon Hunt (Highlanders)

Para chegar à conclusão que Dillon Hunt foi o melhor defesa do Super Rugby Aotearoa, analisámos três parâmetros: número de tackles efetuados, número de tackles efetivos (e furados) e turnovers realizados no breakdown (o denominado fetching). Com as contas feitas, os números são supra conclusivos, pois o asa dos Highlanders foi capaz de realizar 110 tackles, 100 efetivos, significando um taxa de 90% de sucesso e 8 turnovers, imperando em todos os stats perante os seus adversários directos que foram Du’Plessis Kirifi (95 tackles efetivos, 18 falhadas e 6 turnovers), Lachlan Boshier (foi um excelente fetcher com 7, realizando 67 tackles efetivos e apenas 4 falhadas), Shannon Frizell (98 tackles corretos, com mais 16 mas falhados e 4 roubos de bola), Dalton Papali’i (ao todo 86 tackles confirmadas, 77 efetivos e 5 turnovers) e Sam Cane (72 efetivos, 9 errados e 4 turnovers).

Hunt poderá ser uma boa possibilidade para a camisola nº6 ou 7 dos All Blacks para o The Rugby Championship, muito devido à qualidade que apresentou a temporada toda ao serviço de uma franquia algo frágil em termos de experiência e fisicalidade, assumindo-se um como um tacleador letal, frio e constantemente a mostrar excelência no aspecto defensivo.

As supresas: Sotutu (Blues), Clarke (Blues) e Tu’u (Highlanders)

Dois Blues e um Highlanders, sendo que os Crusaders Tom Christie e Cullen Grace podiam aqui surgir, ou Peter Umaga-Jensen dos Hurricanes, mas ficamos bem com o dominador nº8 Hoskins Sotutu, o ponta que conjuga a fisicalidade e velocidade como poucos, Caleb Clarke e o papa-léguas do bloco de avançados dos ‘Landers, Marino Mikaele-Tu’u. Qualquer um destes nomes esteve amplamente bem neste Super Rugby Aotearoa, com Clarke a somar mais elogios, pois nunca falhou no aproveitar de espaços e arrancar boas situações de ataque mesmo no limite, terminando com 350 metros conquistados, 10 quebras de linha e 18 defesas batidos e nunca esquecendo os 17 tackle busts (um dos 3/4’s com melhor registro neste parâmetro).

Hoskins Sotutu acabou por só jogar cinco jogos no SR Aotearoa, devido a uma lesão no joelho (ainda não é totalmente seguro que vá estar no North vs South no dia 29 de Agosto), sendo que nessa mão cheia de encontros foi sempre um dos melhores do elenco dos Blues, sendo sempre um alvo difícil de parar na primeiro tackle (que o digam os Crusaders), sedento de ultrapassar a linha de vantagem, agressivo e confiante na saída das fases estáticas e um tackle de franca qualidade. Mikaele-Tu’u entra na mesma linha que Sotutu, postulando algumas diferenças como a capacidade de encontrar mais facilmente espaços para efetuar quebras de linha, um talento reconhecido e temido, já que atingiu a marca das 11 penetrações efetivas, para além dos 351 metros engolidos com a oval em seu poder.

A desilusão: Aaron Cruden (Chiefs)

Cruden teve dois anos afastados do Hemisfério Sul e o retorno não foi de todo positivo quando só se considera estas dez jornadas do Super Rugby modo Nova Zelândia – no Super Rugby geral estava a efetuar uma temporada de franca qualidade, ao ponto que se teorizou se podia ou não ser chamado para os All Blacks – e a pergunta a fazer é: foi por causa dos problemas dos Chiefs? Ou a franquia treinada por Warren Gatland sofreu porque as suas melhores unidades não se afirmaram? Como sempre, é no cruzamento destas duas perguntas que se encontra a resposta, pois foi uma mistura explosiva, já que os Chiefs tiveram por três vezes a vitória na mão (Highlanders por duas ocasiões e Chiefs noutra) mas o descontrolo emocional e a incapacidade para segurar melhor a oval ou dar um uso francamente mais esclarecedor (como aconteceu contra os Blues), e Aaron Crude, como Brad Webber ou Damian McKenzie estiveram vários furos abaixo no liderar a equipa a bom porto.

Números nada auspiciosos, com Cruden a não ter realizado qualquer assistência ou try, relegado mesmo para o banco em três ocasiões – Caleb Trask nunca foi uma opção viável -, com quase nenhuma quebra de linha ou quase nenhum defesa batido, sendo por isso um Cruden completamente diferente daquele que saiu para França em 2017.

O melhor treinador: Scott Robertson (Crusaders)

É impossível não dar o título ao fantástico Scott “Razor” Robertson, conseguindo manter a mesma vontade de ganhar, surpreender e dominar ano após anos. Os Crusaders não foram tão imparáveis como em 2019 ou 2018, sendo que no Aotearoa só consentiram uma derrota em todo o percurso, acumulando três pontos bônus positivos, ostentando ainda o melhor ataque (219 pontos marcados e 27 tries) e defesa mais segura (148 pontos sofridos e 13 tries sofidos), e não há margem para discussão em relação a quem é o treinador referência neste momento do rugby mundial.

O VETERANO: ASH DIXON (HIGHLANDERS)

31 anos (fará 32 em Setembro) e um dos maiores nomes do rugby Maori neozelandês: Ash Dixon. Poderíamos ter ido para Samuel Whitelock (não fez uma boa época em números, sendo essencial do ponto de vista da estabilidade da estratégia e voz de comando) ou Aaron Smith, mas é Ash Dixon que merece o prêmio de vet da temporada e estas são as razões: 4 tries em 8 jogos e 2 assistências; uma capacidade emocional para guiar a equipa nos momentos mais críticos; um tacleador fiável e que vai dando confiança aos colegas no trabalho defensivo; excelente nas fases estáticas ou espontâneas, especialmente nos mauls dinâmicos ou scrum.

Mas a razão central de termos escolhido Dixon como o veterano do Aotearoa 2020 prende-se com o papel de líder e de agregador de homens numa franquia debilitada e com sérios problemas no elenco, que estava a meio de uma transição entre a velhanova escola de jogadores e Ash Dixon assumiu essa função, impondo uma paixão total em cada exibição e um compromisso ao nível de uma lenda dos All Blacks, um pormenor em falta na sua carreira. Merece a chamada para os trabalhos da seleção neozelandesa para 2020 por tudo aquilo que foi capaz de fazer entre Junho e Agosto.

O melhor XV

Foto: o melhor XV da temporada pelo FairPlay.pt