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ARTIGO COM VÍDEOS – Não é demais dizer: 2016 foi o maior ano da história do rugby no Brasil. Não somente porque neste ano recebemos os tão aguardados Jogos Olímpicos, que foram o motor de tanto crescimento no rugby nacional nos últimos anos, mas porque muitas “primeiras vezes” foram registradas pelas seleções brasileiras. Para citar algumas, vencemos os Estados Unidos pela primeira vez na história do nosso XV, logo na edição inaugural do festejado Americas Rugby Championship, e conquistamos a inédita vaga de seleção central da Série Mundial de Sevens Feminina.
Vamos revisitar o que ocorreu ao longo do ano com os e as Tupis? É hora da nossa primeira Retrospectiva 2016! Aguarde por mais nos próximos dias!
Bom dia 2016, welcome África do Sul
O ano de 2016 começou, como sempre, com os torneios masculinos de sevens disputados nos países vizinhos. Os Tupis encararam os torneios de Mar del Plata e Viña del Mar e conseguiram feitos importantes. Em Mar del Plata, o Brasil venceu a seleção de desenvolvimento do Canadá e bateu o Uruguai pela primeira vez desde 2013, ao passo que em Viña os Tupis alcançaram seu objetivo de garantirem classificação ao Hong Kong Sevens, depois de vencerem o Uruguai mais uma vez. Porém, o maior feito no torneio de Viña foi a vitória inédita sobre a seleção de desenvolvimento da África do Sul: 21 x 12 colossais.
O mundo em Barueri
Pelo terceiro ano seguido, em fevereiro, a Arena Barueri foi palco da Série Mundial de Sevens Feminina, com as melhores jogadoras do mundo dando o ar da graça no Brasil, já em ritmo de Jogos Olímpicos. Esse era o segundo de três torneios do circuito que o Brasil disputou como convidado na temporada 2015-16. Com muita imprensa brasileira de olho nas ações em Barueri, o Brasil ensaiou bater sua melhor campanha. Na primeira fase, as Iaras perderam para França e Inglaterra, mas venceram o Japão e se garantiram nas quartas de final, onde tiveram pela frente a Nova Zelândia. A derrota jogou novamente França e Inglaterra para o Brasil na disputa pelo quinto lugar e mais duas derrotas deixaram as brasileiras com o oitavo lugar no torneio, igualando sua melhor marca.
O maior mês da história de nosso XV
Fevereiro marcou a abertura da edição inaugural do Americas Rugby Championship, mais importante e forte competição de XV que o Brasil já disputou em sua história. O objetivo dos Tupis era não terminar em último lugar e ele foi cumprido, com o Brasil encerrando as disputas com o quinto lugar, ficando acima dos chilenos, com uma vitória e quatro derrotas.
A partida de estreia foi fora de casa contra o Chile e a vitória foi dos Cóndores, em jogo apertado e aberto até o fim: 25 x 22. Depois, o Brasil estreou em casa, na Arena Barueri, contra o Uruguai, e novamente flertou com a vitória, caindo por sofridos 33 x 29, o melhor placar contra os Teros em décadas. No sábado seguinte, o Brasil encarou o Canadá fora de casa e não resistiu à pressão, 52 x 25, podendo, ainda assim, comemorar três tries (significativo) contra os Canucks.
Mas, o melhor estava por vir. No dia 27 de fevereiro, os 2 mil torcedores que estiveram na Arena Barueri presenciaram a maior vitória da história do rugby XV brasileiro: 24 x 23 para cima do poderoso Estados Unidos, que mesmo poupando atletas, era considerado o grande favorito ao duelo. Jogo épico e com desfecho à altura da emoção proporcionada, com Moisés Duque chutando o penal da virada e da vitória já com o tempo esgotado.
A campanha brasileira se encerrou em São José dos Campos, com derrota esperada para a Argentina por 42 x 07.
A dinastia das Iaras: 11 vezes campeãs
Em março, os olhares do mundo do rugby estiveram pela primeira vez em Deodoro, no Rio de Janeiro, porque o campo que meses depois seria palco do Rio 2016 recebia seu evento teste, o Sul-Americano Feminino. Ainda sem arquibancadas e com o campo recém instalado, o complexo de Deodoro (ou melhor, o grupo de jornalistas, familiares das atletas e convidados especiais) testemunhou a seleção brasileira feminina fazer mais um torneio continental irrepreensível, mantendo com brio sua histórica invencibilidade no torneio e faturando seu 11º título invicto consecutivo. Seis vitórias e apenas um try sofrido, na final, contra a Argentina. Uma dinastia brasileira inabalável.
De Vancouver a Hong Kong e um gostinho de decepção
O sevens masculino voltou a campo em março, com os Tupis encarando a etapa de Vancouver da Série Mundial na condição de convidados. O Brasil saiu do Canadá sem vitórias, mas deu alguns sustos nos oponentes, chegando a marcar try na África do Sul, que tinha Bryan Habana em campo.
Depois, em abril, o Brasil encarou o torneio de Hong Kong, a segunda divisão mundial, e decepcionou, mesmo com um início promissor de ano. Os Tupis caíram em um grupo difícil, perdendo para o Japão na estreia e para Tonga na sequência. A vaga nas quartas de final foi perdida de vez com o terceiro jogo, em um empate desapontador com o Marrocos.
A seleção feminina, por sua vez, também entrou em campo em abril, enfrentando como convidada a etapa de Langford, no Canadá, da Série Mundial, em seu último grande desafio antes do Rio 2016. As Iaras conseguiram uma vitória sobre a Irlanda e o 10º lugar no torneio.
Depois, em maio, já em preparação intensiva para os Jogos Olímpicos, a seleção feminina foi para a Europa e disputou um torneio amistoso em Guildford, na Inglaterra, vencendo um jogo e perdendo o outro contra o Japão, seu grande oponente no Rio 2016. O duelo prometia!
Pacaembu, Palmeiras e Amazônia ovalados e com TV aberta: o rugby XV é espetáculo!
Em abril e maio, a seleção de XV voltou à ação, encarando as disputas do Sul-Americano. Em campo, o Brasil caiu contra o Uruguai em São Paulo, por esperados 36 x 14, e empatou pela primeira vez com o Chile, também na capital paulista, 20 x 20, em partida que deixou um goste de que os Tupis poderiam mais. Na despedida, fora de casa, veio a única vitória, um 32 x 21 para cima do Paraguai.
A grande conquista esteve fora de campo. O torneio ganhou transmissão da TV aberta com a Rede TV!, batendo recorde de audiência da modalidade no país, e foi jogado com públicos ótimo em palcos de primeiro escalão. Contra o Uruguai, mais de 7 mil torcedores torceram pelos Tupis no Allianz Parque, casa do Palmeiras, que recebeu pela primeira vez o rugby e poderia ter tido público maior, se não fosse a fila na entrada do jogo. Depois, contra o Chile, público semelhante testemunhou o empate com segundo jogo da história dos Tupis no Pacaembu.
Para completar, em junho, o Brasil ainda realizou um amistoso com o Quênia e pela primeira vez na história os Tupis jogaram na região Norte do país, com Macapá, no Amapá, recebendo a partida. O palco foi o famoso Estádio Zerão, cuja linha de meio campo está em cima da linha do equador, e a transmissão foi do SporTV. A vitória, no entanto, foi queniana, 18 x 17.
Paris, Londres, Roma: os Tupis são mais internacionais que nunca
Maio também foi grande para a seleção masculina de sevens, que se preparou em grande estilo para o Rio 2016, disputando as etapas de Paris e Londres como convidada na Série Mundial. O Brasil enfrentou grande times, como África do Sul, Inglaterra e Nova Zelândia, e não conseguiu vitórias nos dois torneios, flertando com um triunfo no duelo contra a Rússia, em Londres.
O último torneio antes dos Jogos Olímpicos foi em Roma, em um torneio aberto de sevens, com os Tupis vencendo a Tunísia, o Chile e a seleção de desenvolvimento da França para chegarem a uma inédita final, quando levaram o troco dos sul-africanos, ficando com um ótimo vice campeonato.
O mundo no Rio de Janeiro
Era uma espera de mais de seis anos. Em 2009, o anúncio que o mundo ovalado esperava foi feito: o rugby sevens seria esporte olímpico a partir de 2016. A notícia foi seguida no Brasil pela criação da Confederação Brasileira de Rugby e pelo estabelecimento de um projeto profissional para nosso rugby, que mudou a cara do esporte no país. Para atletas que militavam para elevar o rugby brasileiro desde muito antes do rugby virar olímpico, foram seis anos de ansiedade e expectativa, de muito trabalho e doação. Em agosto de 2016, o dia chegou e as seleções brasileiras entraram em campo no Rio de Janeiro, diante de seu público, no momento histórico para o rugby mundial da volta da bola oval aos Jogos Olímpicos.
As medalhas não eram um sonho realista, mas o Brasil comemorou ao final dos intensos seis dias de rugby em Deodoro. As mulheres brasileiras novamente quebraram mais uma barreira e conquistaram o sonho de serem umas das 11 melhores seleções do planeta, uma das onze seleções fixas da Série Mundial de Sevens. Nas primeiras partidas no Rio, duas derrotas esperadas, para Grã-Bretanha e Canadá. Mas, no terceiro jogo, o Brasil ganhou confiança e venceu o Japão por 26 x 10. A vaga nas quartas de final não veio, mas o Brasil seguia na briga pelo 9º lugar, que lhe daria a vaga de seleção central do circuito. Para isso, as Iaras seguiram no ritmo das vitórias, bateram a Colômbia por 24 x 00 e, na grande decisão da vaga, novamente tiveram o Japão pela frente, e venceram por embriagantes 33 x 05. Vitória com sabor dourado!
Findado o torneio feminino, foi a vez da seleção masculina entrar em campo. O objetivo de provar a todos que o Brasil podia jogar em bom nível com os melhores do mundo foi cumprido, mas infelizmente sem vitórias, apesar do investimento e do aumento de experiência da equipe. Derrotas para o futuro campeão olímpico Fiji e para Estados Unidos, Argentina, Estados Unidos de novo e Quênia fecharam a participação brasileiro no Rio com o 12º lugar. Sem as derrotas embaraçosas temidas por alguns lá em 2009.
Da Argentina ao Chile, em aprendizado
Para a Seleção Brasileira M19, 2016 foi mais um ano de aprendizado. Não foi neste ano que o Brasil quebrou tabus na categoria, perdendo novamente para Uruguai e Chile no Sul-Americano Juvenil, disputado em setembro, do qual saiu com vitória sobre o Paraguai.
A novidade do ano foi o aumento no número de partidas do M19, com o Brasil participando em agosto do inédito Torneio das Nações na Argentina. No primeiro semestre, dois amistosos também em solo argentino. Tudo em Córdoba, que virou uma casa do nosso juvenil fora de casa.
A primeira vez não se esquece
Em novembro, a temporada do XV brasileiro se encerrou com a primeira viagem da seleção adulta do Brasil para a Europa, em uma gira de duas partidas contra a Alemanha e uma contra Portugal, duas seleções que haviam já enfrentado o Brasil em solo brasileiro. Contra os alemães, a diferença com relação aos amistosos realizado no fim de 2015 caiu, apesar de duas novas vitórias dos alemães: 16 x 06 e 36 x 14, com frio e gramados longe do ideal. Depois, no dia 1º de dezembro, o Brasil encarou Portugal e chegou a flertar com uma vitória, mas caiu por 21 x 17, em jogo de equilíbrio e que provou a evolução brasileira, quando comparado com os 68 x 00 aplicados pelos Lobos sobre os Tupis em 2013 em Barueri.
Enfim entre as grandes e por direito
A vitória no Rio 2016 sobre o Japão teve seus frutos colhidos ainda em 2016, em dezembro. Agora, como seleção central da Série Mundial de Sevens Feminina, o Brasil estava garantido para todas as etapas do circuito. E, já sem o peso dos Jogos Olímpicos pela frente, o trabalho de renovação da seleção começou, com técnico novo – o neozelandês Reuben Samuel – e já sem algumas veteranas históricas, como Júlia Sardá e Paulinha Ishibashi. O primeiro desafio brasileiro foi em novembro, no tradicional Valentin Martinez, no Uruguai, que as brasileiras venceram mais uma vez, com tranquilidade.
Depois, em dezembro, o destino foi Dubai, abrindo a temporada 2016-17 da Série Mundial. E o recado para 2017 foi claro: o desafio de se manter na elite mundial será árduo. Cinco jogos e cinco derrotas nos Emirados Árabes. Mas, com bons jogos do Brasil, que assustou Canadá, Espanha e Estados Unidos. Agora, que venha 2017!
Crédios das fotos (em ordem): Fotojump / Seven Viña / Daniel Venturole / Bruno Ruas / Aquece Rio / World Rugby / Fotojump / World Rugby / Fotojump / Sudamérica Rugby / Tárlis Schneider / World Rugby