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ARTIGO COM VÍDEOS – Hora de análise de vídeo, hora de um olhar mais profundo sobre a Seleção Brasileira M19. No último mês, o Brasil entrou em campo no Chile pelo Sul-Americano Juvenil, repetindo a terceira colocação do ano passado. Os brasileiros perderam na estreia para o Chile, (16 x 00), foram superados pelo Uruguai no segundo embate (37 x 25), mas sacaram uma vitória sobre o Paraguai na despedida (29 x 13). Pedimos a nosso especialista português em vídeos, Francisco Isaac, fazer sua análise imparcial da campanha. Confira já a análise!
O Brasil M19 no Sul-Americano Juvenil 2016
Os Curumins, a seleção brasileira de M19, participaram no Sul-Americano Juvenil 2016 conseguindo uma vitória em três jogos. O Portal do Rugby analisou as prestações contra o Uruguai (derrota por 25-37) e o Paraguai (vitória por 29-13), num torneio que poderia ter corrido melhor.
Ponto prévio da análise feita: os Curumins vivem de jogo fechado. O que significa isto? Nos três jogos do Sul-Americano, a equipe brasileira opta por favorecer o jogo de avançados seja no espaço curto (excesso de pick and go), a meio do campo (os avançados, principalmente a 1ª linha quer “abusar” da sua oportunidade ter a bola), o que impede as linhas atrasadas de participarem no jogo. É notório que um dos grandes problemas do Brasil é a relação 9-10, já que ambos demonstraram uma qualidade abaixo do satisfatório na realização das suas “missões” (passes lentos, sem pressão, má análise de jogo, chutes ruins). Mas ao tentar não dar bola ao seu abertura, ou dar oportunidade ao formação de “comandar” o jogo, os Curumins não permitem que haja um desenvolvimento desses jogadores e entram num ciclo vicioso, sem fim e com graves consequências a médio-longo prazo. Nenhuma equipe de rugby é feita só de avançados e de jogo curto… e é isso que foi notório na nossa análise.
Os jovens jogadores brasileiros demonstraram duas facetas diferentes nos dois jogos analisados. Contra Uruguai defenderam pior em termos de tackle individual mas conseguiram dar uma boa réplica a nível de defesa coletiva (boa comunicação, boa pressão e um trabalho responsável com a equipe); já com o Paraguai viu-se um bom tackle individual, mas com muitos erros na defesa coletiva, seja por estarem com mais atenção a outros pormenores, ou não se concentrarem nas movimentações dos paraguaios (que infelizmente, para eles, terminavam quase sempre em knock-on ou para fora).
São várias as faltas que o Brasil faz na defesa, com penalidades sucessivas (só no jogo com o Paraguai foram cerca de 18 penalidades, 12 nos primeiros 30 minutos) e que podiam ter complicado, em certos momentos, o jogo para os Curumins contra o Paraguai. Porém, a equipe paraguaia tem grandes dificuldades em conseguir fazer um jogo equilibrado à mão, perdendo-se em knok-ons, bola para o chão, pontapés desnecessários ou intercepções. É notório o bom tackle individual, com a “agressividade” certa e pressão ideal (a técnica poderia ser melhor e mais esclarecida), atirando os adversários para trás. Este tipo de defesa vai possibilitar ao Brasil conquistar a bola em momentos críticos e conseguir construir o caminho para dois tries, ou seja, passam bastante tempo a defender mas conseguem ser eficazes no ataque.
No que toca ao breakdown, o Brasil apresenta-se algo lento, na maioria das vezes, assim como algo desconcentrado. A disputa pelo ruck pode ser melhor e mais “agressiva”, invés de se preocuparem a ficar com todas unidades disponíveis. Há no entanto ideias claras, em alguns jogadores, de como devem operar assim que um adversário cai no chão. Há uma consciência em lutar pela bola, mas ainda deficitária… parece que não há vontade de tentar “limpar” o ruck de forma a tentar virá-lo e conquistar uma posse de bola que pode “quebrar” com a equipe adversária.
Já contra o Uruguai, há alguns pontos a adicionar extra como o caso do tackle individual. Contra uma oposição mais forte, os brasileiros mal conseguiram aplicar um tackle individual forte que parasse o adversário no sítio. É possível visualizar essa situação em vários momentos do jogo, o que põe a equipe em “cheque” tendo chegado ao intervalo a perder por 32-03. O Uruguai apercebeu-se das dificuldades dos Curumins e atacou a linha brasileira sempre que possível.
Outro detalhe importante é o facto de os Curumins não olharem para o adversário que está a sua frente (e assim ler como é que estão a processar possíveis movimentações) mas sim para o ruck onde está a bola. Este tipo de erro pode criar problemas, pois o que interessa nesse preciso momento, é olhar para o adversário que está à sua frente e perceber o que pode ou não vir acontecer.
Conclusão: a defesa brasileira funciona de formas diferentes, dependendo dos adversários, porém há uma notória deficiência na técnica de tackle que acaba por trazer problemas aos jovens jogadores do Brasil. Alguma falta de atenção e de concentração, assim como de comunicação acabam por resultar em erros coletivos de organização defensiva. Existe uma vontade comum em quererem defender, mas muitas vezes de forma errada. O nº7, 5 e 12 demonstram boas qualidades enquanto defesas, a 1ª linha tem de saber trabalhar melhor no tackle apesar de terem uma boa técnica no breakdown.
PORMENOR: A recuperação de bola no pontapé de recomeço de jogo contra o Uruguai, especialmente, foi tremendamente interessante. Em 6 recomeços, o Brasil conseguiu criar pressão suficiente para recuperar a bola no ar (por 2 duas vezes) ou forçar um erro do adversário (2 vezes), tendo perdido outras duas com knock-ons. O nº5 e 7 têm uma explosão e confiança suficiente para criar este tipo de situações. Bom indicativo.
O maior problema do Brasil… sair para o ataque de forma clara e lúcida. Nos dois jogos observados, a equipe brasileira “soluçou” várias vezes, optando por efetuar um jogo “feio”, mais fechado e lento, o que criou sérios problemas na hora de fazer tries. Lembramos que em toda a competição os Curumins somaram 54 pontos a favor contra 66 sofridos em três jogos. Não deixa de ser um registro, minimamente, interessante mas se olharmos para o que o Brasil devia conseguir fazer, ficou aquém do esperável.
Antes de partirmos para o lado negativo, é de realçar o grande try que o Brasil marca frente ao Uruguai, numa demonstração clara do que pode e deve fazer, invés de optar pelo jogo mais “seguro”, mais “feio” e sem grandes resultados práticos.
Voltando à “realidade”, o Brasil tem o problema de fechar o seu jogo nos seus avançados, partindo do princípio que é com eles que vai conseguir avançar no terreno de forma fluída. Contudo, o exagero de ida ao contacto por parte dos Curumins (especialmente a 1ª e 2ª linha) leva a que certo momento o cansaço momentâneo “ataque” e percam a bola no contacto ou no ruck por falta de apoio. O exagero chega a tanto, que vamos ver no jogo com o Uruguai duas penalidades seguidas a serem jogadas só pela avançada, especialmente pela 1ª linha… ao fim de 5 picks podiam ter aberto a bola e conseguir uma situação de try.
Outro pormenor importante é as fases estáticas (scrum e lineout) onde os brasileiros destacaram-se pela sua incrível eficácia. Há alguns alinhamentos perdidos, mas o Brasil consegue sempre construir algo, seria importante focarem-se em conseguir um maul bem dinâmico ou explorar os lineouts curtos para tentar jogar com os asas nas linhas atrasadas. Há um trabalho bem interessante neste aspecto e poderá ser uma “arma” de futuro para os jovens jogadores. Podem também simular o salto as unidades que estão mais atrás ou à frente, de forma a arrastar os adversários e assim criar outros espaços para atacar com um maul ou uma jogada interior de alinhamento.
A maioria dos tries provêm dos avançados ou de erros do adversário (veja-se o primeiro try contra o Paraguai, que nasce num pontapé mal posto do nº10 do Brasil mas que o nº15 do Paraguai não consegue interceptá-lo com confiança e acaba por permitir uma recuperação fatal brasileira), o que prova, em parte, o jogo mais “pesado”, “lento” e pouco móvel dos brasileiros. Apesar disso, há uma predisposição para atacar de todos os jogadores, especialmente os asas, 2ª linha e nº12.
Os rucks ofensivos são 90% seguros, com uma boa comunicação entre quem vai “limpar”, garantir e assegurar os postes, para permitir que o formação consiga sair a jogar em sem problemas. A questão vem a seguir… na fase de jogar rápido, uma vez que a maior preocupação dos avançados brasileiros é bater e os ¾’s estão muitas vezes sem a profundidade equilibrada ou a velocidade errada, para fazerem a diferença no contacto. Isto tudo tem a ver com a falta de organização e comunicação entre jogadores (erro do 9, 10 e 15) ou a confiança dada a movimentações mais “abertas” no contacto.
Conclusão: O Brasil está longe de ser uma equipe de excelência ofensiva, pecando muitas vezes na organização, comunicação e estabilidade. Apesar de saber e querer mostrar algo diferente, optam por ir a um rugby muito estático, pesado e sem “imaginação”, algo contrário ao estilo sul-americano do rugby (veja-se a Argentina). Há um trabalho sério a fazer, pois é fundamental que se tornem as unidades 9 e 10 em criadores de jogo e não em problemas para sair a jogar para dar sequência ao bom jogo nos lineouts, scrums e rucks. O Brasil é uma equipe esperta, já que sabe virar uma situação de erro do adversário numa situação de try iminente para si.
Chile 16 x 00 Brasil
Chile
Try: Videla
Conversão: Baraona (1)
Penais: Baraona (3)
Brasil
15 Ariel Silva (Jacareí), 14 Victor Guilherme Silva (São José), 13 Frederico Pasquali (Charrua), 12 Thiago Evaristo (Curitiba), 11 Daniel Lima (Rio Branco), 10 Leo Ceccarelli (Jacareí), 9 Douglas Rauth (Curitiba), 8 Matheus Cláudio (Jacareí), 7 Devon Muller (Sharks Academy, África do Sul), 6 Felipe Rosa (São José), 5 Matheus Rocha (Jacareí), 4 Arthur Etlin (Pasteur), 3 Pedro Bedin Franco (Tornados Indaiatuba), 2 Brendon Pinheiro (Pasteur), 1 Piero Pozzi (Jacareí);
Suplentes: 16 Michael Oliveira (Iguanas), 17 David Páscoa (BH Rugby), 18 Levy Silva (São José), 19 João Vitor Silva (São José), 20 Igor Campos (São José), 21 Felipe Cunha (Pasteur), 22 Luiz Felipe Trindade (SPAC), 23 Federico Padilla (Curitiba);
Uruguai 37 x 25 Brasil
Uruguai
Tries: Manuel Ardao (3), Marcos Pastore (2) e Maurício Bruno
Conversões: Alejo Piazza (2)
Penais: Alejo Piazza (1)
Brasil
Tries: Matheus Cláudio, Ariel da Silva e Igor de Campos
Conversões: Felipe Cunha (2)
Penas: Felipe Cunha (2)
15 Luiz Felipe Trindade (SPAC), 14 Federico Padilla (Curitiba), 13 Frederico Pasquali (Charrua), 12 Thiago Evaristo (Curitiba), 11 Daniel Lima (Rio Branco), 10 Felipe Cunha (Pasteur), 9 Douglas Rauth (Curitiba), 8 Matheus Cláudio (Jacareí), 7 Devon Muller (Sharks Academy, África do Sul), 6 Igor de Campos (São José), 5 Felipe Rosa (Jacareí), 4 Arthur Etlin (Pasteur), 3 Matheus Rocha (Jacareí), 2 Brendon Pinheiro (Pasteur), 1 Levy da Silva (São José).
Suplentes: 16 Michael Oliveira (Iguanas), 17 David Páscoa (BH Rugby), 18 Pedro Badin Franco (Tornados Indaiatuba), 19 João Vitor Silva (São José), 20 Thiago Campos (São José), 21 Lucas Spago (Pasteur), 22 Ariel da Silva (Jacareí), 23 Victor Guilherme Silva (São José).
Brasil 29 x 13 Paraguai
Brasil
Tries: Levy Silva, Daniel Lima, David Páscoa, Matheus Cláudio e Thiago Evaristo
Conversões: Felipe Cunha (1) e Leo Ceccarelli (1)
15 Luiz Eduardo Trindade, 14 Victor Guilherme Silva, 13 Frederico Pasquali, 12 Thiago Evaristo, 11 Daniel Lima, 10 Felipe Cunha, 9 Douglas Rauth, 8 Matheus Cláudio, 7 Devon Muller, 6 Igor Campos, 5 Felipe Rosa, 4 Arthur Etlin, 3 Pedro Franco, 2 David Páscoa, 1 Levy Silva.
Suplentes: 16 Michael Oliveira, 17 Brendon Pinheiro, 18 Matheus Rocha, 19 João Vitor Silva, 20 Rafael Santos, 21 Lucas Spago, 22 Leonardo Ceccarelli, 23 Federico Padilla.
Paraguai
Tries: Gorostiaga (2)
Penais: Heinecke (1)
Escrito por: Francisco Isaac
Foto: Brasil x Paraguai – Sudamérica Rugby – Facebook
Bem interessante a análise…
Seria legal colocar a lista dos jogadores que participaram dos jogos