Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

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ARTIGO OPINATIVO – Se houve algo positivo para o rugby mundial com a pandemia foi o teste de uma nova competição: a Autumn Nations Cup. Sem poderem enfrentar as potências do Hemisfério Sul, as seleções europeias montaram uma competição que ganhou o apoio da Amazon e, apesar de alguns jogos cancelados pelo COVID-19, tem até aqui saldo positivo. O motivo da empolgação, ao menos da minha parte, é que tal competição poderia servir de modelo para uma futura Liga Mundial – projeto que foi congelado após a derrota de Pichot na eleição para a presidência do World Rugby, mas que não está morto, com o presidente eleito Bill Beaumont prometendo rediscutir o tema.

Uma coisa está clara: ninguém mais tem real interesse em manter o sistema de amistosos internacionais, que geram poucas receitas para as federações – agora, mais do que nunca, sedentas por novos recursos econômicos, devido à crise da pandemia. O apoio da Amazon sinaliza que uma nova competição pode oferecer muito mais do que amistosos.

A Nations Cup, a princípio, é solitária e não tem sequência assegurada para o futuro, mas poderia servir de embrião para uma liga mundial. Pichot estava certo sobre a necessidade de uma competição anual mundial que sirva de referência para os fãs e atraia nova e maior audiência para o esporte. Muito se criticou a proposta por oferecer risco à Copa do Mundo e isso, honestamente, não faz sentido. A Copa do Mundo seguiria sendo o evento especial jogado de 4  em 4 anos, em uma grande festa num país sede. É o evento diferente, especial.

O melhor exemplo para o rugby é a UEFA (a federação europeia de futebol), que não teve medo de lançar sua Nations League, que não parece colocar em risco o status da Euro. Coisas diferentes.

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A UEFA Nations League foi uma grande saída para o futebol europeu se livrar dos enfadonhos amistosos e criar um sistema empolgante de rebaixamento e promoção, que permite os melhores se enfrentarem e as seleções mais fracas terem glórias – deixando de serem “sacos de pancadas” por um momento. O rugby, em escala global, poderia seguir o mesmo caminho.

 

Como a competição poderia ser formatada?

Primeiramente, tudo isto é uma proposta minha e hipotética, acreditando que a pandemia será em breve controlada.

Num cenário ideal, há espaço para 3 divisões com 10 equipes cada, com 2 grupos de 5 times em cada divisões.

Neste caso, seriam 2 jogos em casa e 2 jogos fora de casa para cada time, totalizando 4 jogos por seleção. Os 1ºs colocados fariam uma final em sede neutra, ao passo que os 5º colocados seriam rebaixados. Nas divisões inferiores, os 1ºs colocados seriam promovidos.

Atualmente, são destinadas 6 datas pelo World Rugby para amistosos intercontinentais (3 em julho e 3 em novembro), mas alguns países chegam a disputar 7 partidas. Nesta proposta, a nova competição ocuparia 5 datas, abrindo espaço para finais de semana de folga, que permitam o descanso após viagens maiores (já que estamos falando em jogos intercontinentais).

Utilizando o Ranking (em parênteses) como critério neutro para este exemplo, poderíamos ter as seguintes divisões e grupos:

  • 1ª divisão:
    • Grupo A: África do Sul (1), França (4), Irlanda (5), Argentina (8), Gales (9);
    • Grupo B: Inglaterra (2), Nova Zelândia (3), Austrália (6), Escócia (7), Japão (10);
  • 2ª divisão:
    • Grupo A: Fiji (11), Itália (14), Samoa (15), Uruguai (18), Romênia (19);
    • Grupo B: Geórgia (12), Tonga (13), Estados Unidos (16), Espanha (17), Rússia (20);
  • 3ª divisão:
    • Grupo A: Portugal (21), Namíbia (24), Holanda (25), Suíça (28), Chile (29);
    • Grupo B: Hong Kong (22), Canadá (23), Brasil (26), Bélgica (27), Alemanha (30);
  • 4ª divisão (acesso para a 3ª divisão):
    • 4 times, sendo melhor de cada uma das 4 regiões: Quênia (África), Coreia do Sul (Ásia/Oceania), Colômbia (Américas), Polônia (Europa);

Assim, por exemplo, poderíamos ter Gales e Escócia rebaixados num ano, para Fiji e Geórgia serem promovidos para a 1ª divisão. Poderíamos ter Portugal e Brasil promovidos para a 2ª divisão nos lugares de Romênia e Espanha, por exemplo. Um sistema dinâmico.

 

A ideia é realista?

O grande erro de Pichot com sua proposta original de Liga Mundial foi tentar obrigar o Six Nations a ter rebaixamento. O Six Nations é uma liga privada, cujos donos são os 6 países membros (Inglaterra, França, Irlanda, Gales, Escócia e Itália). Por tal razão, rebaixar a Itália é uma proposta irreal, sem chances de ocorrer, por ser ela uma das donas da competição.

Uma nova competição global manteria intocado o Six Nations, mas abriria espaço para a ascensão de novos países. Uma liga do World Rugby precisa ter um sistema justo de promoção e rebaixamento para não privilegiar ninguém e promover devidamente o rugby pelo mundo. Competições como The Rugby Championship, Americas Rugby Championship ou Rugby Europe Championship seguiriam existindo sem conflito com uma Liga Mundial.

Sistema ideal, mas seria factível? A questão (além de sanitária) é econômica e, por isso, a Nations Cup abriu uma luz de esperança para um projeto dessa natureza. Países como Itália e Escócia poderiam se opor, temendo riscos de rebaixamento (como já fizeram no passado), mas o fato de não haver interferência no Six Nations faz com que a decisão esteja muito mais em quanto dinheiro seria possível distribuir entre os países a partir de tal competição.