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ARTIGO OPINATIVO – A chegada do SARS-CoV-2 alterou a vida de tudo e todos, forçando no desporto a adiar os principais eventos como os Jogos Olímpicos, o Campeonato da Europa de Futebol, diversos eventos da Fórmula 1 ou Moto GP, o torneio de ténis de Wimbledon, entre outros, massacrando totalmente o ano 2020 em todos os pontos. Com ainda esta “sombra” a seguir os movimentos da população mundial, temeu-se que 2021 fosse um ano igual nos termos de adiamento/cancelamento das principais provas desportivas, mas, e para já, tudo o que foi adiado ou planeado para este ano, mantém-se na agenda e poderá sobreviver aos avanços/recuos de uma situação sanitária delicada à escala global. A agenda esportiva de 2021 está bem ativa, e com o Código Promocional 1xBet, você garante as melhores odds em campeonatos de todo o mundo.

No caso do rugby, o evento mais significativo deste ano passa pela realização do tour histórico dos British and Irish Lions (selecção dos melhores 45 atletas das ilhas britânicas), que nesta edição será (ou seria?) realizado em solo dos actuais campeões do Mundo, a África do Sul, depois de uma ida à Austrália (vitória no somatório dos três jogos ante os Wallabies) e Nova Zelândia (empate no fim das Series, apesar dos All Blacks terem terminado com melhor diferença de pontos).

 

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A SITUAÇÃO PANDÉMICA SUL-AFRICANA E AS “AJUDAS” DE OUTRÉNS

Porém, devido à expansão e dificuldade de combate à infecção do covid-19 em território sul-africano, estão a ser lançadas várias dúvidas sobre a possibilidade do tour britânico e irlandês visitar efectivamente a África do Sul, por variadas razões:

– O combate à pandemia não está a ser o mais efectivo (até o fim de Janeiro estavam a ser confirmados 18 mil casos diários), existindo problemas em conter a situação a nível das cidades, onde a população mais necessitada não se poder dar ao “luxo” de permanecer em lockdown durante muito tempo (necessidade de sustentação e de garantir as condições básicas de subsistência);

– A movimentação de trabalhadores na indústria alimentar, agricultura e de minérios não pode parar, já que são as bases actuais para a economia local e de exportação (ouro, platina, carvão e outros da mesma “família” representam 30% da exportação sul-africana), sendo necessário a circulação destes no dia-a-dia;

– É o principal pólo comercial no continente africano, tendo uma circulação humana alta e que impede o fecho de estradas, aeroportos e outros pontos de acesso a este país mais a sul de África;

Estas são duas razões, entre várias, que explicam o porquê da situação da África do Sul ser similar a vários países da Europa, Ásia e Américas, criando assim um certo receio para a realização de um tour desportivo em 2021. Todavia, alguns países aproveitaram-se do problema do País do Arco-Íris e movimentaram-se no sentido de se apresentarem como sede dos jogos dos British and Irish Lions contra os Springboks, entre os quais a Austrália e os Emirados Árabes Unidos.

Os primeiros têm feito valer o seu combate contra a propagação do vírus, em que a imposição de regras duras, em especifico no acesso ao território australiano (turismo externo está suspenso até ordem em contrário), é suficientemente boa para realizar estas Series sem existir o medo diário de um adiamento ou cancelamento de jogo, para além dos argumentos normais como a Austrália ter as condições ideias, ser um dos principais países do rugby e de que existe poder de compra para a aquisição de bilhetes – no entanto, quando surgem casos de covid-19, as autoridades australianas ou neozelandesas avançam logo para o lockdown e adiamento de jogos ou outros eventos, não existindo uma total e verdadeira segurança.

Em relação aos EAU, os pontos são as boas estruturas desportivas, o acesso rápido e mais centralizado que a Austrália, perdendo depois no que toca à cultura de jogo, à existência de números suficientes de interessados em adquirir bilhetes e às altas temperaturas que se fazem sentir neste país da Península Arábica. Ou seja, existem duas soluções para o suposto “problema”, só que nem uma nem a outra são realmente cenários positivos ou justos para o que este tipo de tour pretende, ou para o qual foi “construído” e que passa por ser muito mais um simples cruzamento de jogos de rugby.

Este tour é, ao mesmo tempo, um evento desportivo e social, uma sequência de jogos entre os supostamente melhores atletas da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda, versus os seus “irmãos” da Austrália, Nova Zelândia ou África do Sul e uma visita para conhecer um país distante que tem a sua própria cultura(s), identidade(s) e vivência(s), sendo uma ponte para criar laços, perceber melhor o “outro” e sentir o que é ser algo mais que um cidadão de um país só. É este o sentido e espírito por detrás dos tours dos British and Irish Lions, é uma forma de expandir a modalidade, ganhar notabilidade e ficar a compreender como se vive a modalidade (e muito mais) nesse dado país que em tempos teve presença britânica, pelas melhores e piores razões, numa forma de apaziguar um passado mais conturbado, construído uma ponte de familiaridade entre nações que partilham certos pontos culturais e identitários.

 

QUANDO A ECONOMIA HUMANA SÓ VAI BENEFICIAR UNS…

Contudo, em 2021 os British and Irish Lions parecem estar a ser vislumbrados como uma fonte de rendimento e de salvação para a SARU (South Africa Rugby Union) uma federação falida e carregada de problemas económicos, que vinham a ser anunciados anos atrás, colocando quase de lado a essência do tour em troca de rentabilização económica imediata, algo possível caso estas series sejam realizadas em solo australiano, de acordo com algumas personalidades. Porém, esta ideia cai por terra quando se apresentam certos argumentos, como:

– A rentabilidade única garantida à priori são as transmissões de jogo, que terão de ser divididas agora por três partes (se não forem mais), ou seja entre a África do Sul, British and Irish Lions e Austrália – ou outro potencial organizador -, a não ser que o país-residente prescinda desses direitos a 100%, algo que não deverá acontecer;

– Sem a circulação livre de adeptos, pois a Austrália poderá forçar 14 dias de isolamento obrigatório a qualquer turista o que afasta a maioria dos adeptos da viagem, a bilheteira decididamente terá uma queda substancial, que poderá ser nos limites correspondida por 85% dos adeptos locais, que terão ou não ter interesse em acompanhar os jogos, lembrando que não é a “sua” selecção que vai jogar e que decorrem outros eventos em paralelo (no caso australiano, Rugby League, AFL, futebol e críquete);

– Só os Springboks poderão enfrentar os British and Irish Lions, limitando o número de encontros para três, e não os habituais 8/9, já que as franquias de “Super Rugby” (para os sul-africanos, o “unlocked” até existir acordo com o PRO14, altura em que se pode dar o fim desse modelo estreado em Outubro de 2020) não terão capacidade e liberdade para viajar, instalar-se e jogar, sendo uma despesa que a SARU não pode suportar e que a federação australiana de rugby não vai pagar;

Olhando para estes três simples argumentos de índole económica-desportiva, a África do Sul não fica a ganhar em nada e acaba por sair sempre prejudicada, dando à Austrália a primazia de ter dois tours dos Lions dentro do seu território, beneficiando economica/política/desportivamente deste reajuste em 2021.

 

AS SOLUÇÕES PARA DESBLOQUEAR OS LIONS

Se não é possível realizar a visita dos B&IL à África do Sul em 2021 nos moldes normais, o que fazer? Podemos ir para três cenários diferentes:

Mudança total da tour para a Austrália em 2021, com os B&IL a jogarem frente aos Wallabies e franquias do AU, ficando os sul-africanos com 2025, mantendo assim alguma da lógica e identidade por detrás do tour. Para amparar a suposta bancarrota da federação sul-africana, o lucro conseguido em 2021 poderia ser dividido entre as duas federações, e no tour seguinte os Springboks dividiram também numa espécie de reposição da ajuda dada pelos seus congéneres australianos;

Realização do Tour na África do Sul, aceitando todas as dificuldades, consequências e perigos que isso poderá representar. Limitar as interações sociais, sem as erradicar totalmente do programa, garantir a realização dos jogos com um percentagem mínima de público presente (se possível), o que permite somar os lucros das transmissões, bilheteira e marketing, sem ter que dividir com outrém;

Adiamento do tour da África do Sul para 2025, empurrando a vaga da Austrália e Nova Zelândia para outras datas, dando espaço aos países para realizarem tours “normais”, ou, para pelo menos garantir o The Rugby Championship e o Autumn Nations Cup (esta competição já está fora do calendário para este ano, mas por força das circunstâncias pode voltar a entrar na ordem dos trabalhos) em condições;

Há ainda uma última solução que pode agradar todas as federações e que é baseada na proposta anterior apresentada de adiamento do tour da África do Sul para 2025: um torneio de super-selecções. Isto significa que os British and Irish Lions entrariam em campo numa competição a uma volta com uma selecção mista de All Blacks e Wallabies (The Trans-Tasman Coalition), as Ilhas do Pacífico (Pacific Islanders), os Springboks e um mix entre França e Itália (um nome que faça alusão a uma figura ou tratado do passado, como Garibaldi), formulando algo nunca antes visto em qualquer modalidade à escala global.

Aqui entram dois problemas em exercício, a começar na cedência de jogadores pelas federações, que teriam algum receio devido a potenciais lesões e a sua recuperação e com isto perturbar o trabalho dos staff técnicos nacionais (os Lions conseguem-no fazer por força da sua história e comercial dos mesmos, um jogo de cintura que os seus outros adversários não têm neste momento); e a divisão de lucros/despesas, pois a ideia passaria por uma divisão igualitária dos rendimentos pelas federações participantes, abrindo-se aqui também um potencial debate sobre quem recebe e como.

Não há dúvidas que qualquer decisão será difícil para a África do Sul, seja a realização “normal” do tour, a emigração deste para um “vizinho” ou o adiamento para 2025, mas também não há margem para discussão, que a SARU não pode sair prejudicada em todas as frentes, ajudando a “engordar” um rival que ainda há pouco tempo criticou o posicionamento sul-africano e contratou o antigo CEO da SANZAAR, Andy Marinos, numa daquelas decisões estranhas e que complicam a transparência das vontades e “bondades” do rugby australiano.

Os British and Irish Lions são muito mais que uma confluência de jogos a cada 4 anos, é uma troca cultural, desportiva, política e social humana que criar ligações e pontos de entendimento entre adversários e rivais, motivando os adeptos a seguir com mais atenção um evento completamente diferente e que normalmente cria uma onda de acompanhamento de altas proporções. O rugby é profissional e as suas classes dirigentes deveriam fazer as suas decisões com base em estudos, em acordos e no ouvir quem adquire os bilhetes, quem entra dentro de campo e em quem clica para ver o jogo numa plataforma digital, não se ficando só por uma esfera menor de decisão e de gestão nociva e em só prol do negócio ao quadrado, evitando também cair nas falácias do “amadorismo positivo”, esperando-se que a decisão da visita ou não da selecção das Ilhas Britânicas seja feita da forma mais correcta e responsável possível.