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ARTIGO OPINATIVO – Foi um fim de semana diferente do anterior já que as equipas australianas ofereceram dois jogos emocionantes, pulsados por um ritmo intenso e energético que “financiou” correntes para que acontecessem ensaios para todos os gostos! Os Reds sobreviveram a uma primeira parte extraordinária dos Force e
“Ups”: o show total do Reds-Force e a excentricidade dos Waratahs
Electrizante! É a melhor expressão para explicar como se processou o encontro entre Reds e Western Force, com a equipa de Brad Thorn a conseguir a vitória na 2ª parte, depois de ter tremido nos primeiros 20 minutos, graças a uma tremenda exibição da franquia de Perth. 965 metros foram galgados com a bola nas mãos, elevando o jogo para um patamar de emoção intimidador que só foi “encerrado” aos 79 minutos, momento em que James O’Connor (ainda está longe de convencer como abertura, tamborilando entre pormenores espectaculares e erros estranhos) atirou um drop bem armado, pondo fim ao sonho da Western Force fazer uma surpresa na competição.
Se na semana passada houve queixas (justificadas) perante a qualidade dos encontros, é impossível apontar o dedo tanto a Reds ou Force nesse aspecto, deliciando quem estava nas bancadas e na televisão. Mas vamos aos números: 24 quebras-de-linha (a equipa visitante saiu a ganhar), 51 defesas batidos (a franquia de Queensland foi responsável por 34, com Hunter Paisami a ser o principal “bailarino” com 7 defesas tirados da frente), 20 offloads e um total de 8 ensaios.
Podendo existir a retórica que só foi um excelente jogo no ataque porque as defesas não estiveram ao mesmo nível, então rapidamente podemos pôr de lado esse argumento ao mostrar que Reds completaram cerca de 90% das suas placagens (150 acertaram o alvo) e da formação reintegrada no Super Rugby foram só 193 efectivas de um total de 223, sem esquecer os 9 turnovers conseguidos, onde Harry Wilson e Brynard Stander se exibiram em alta – o que dizer daquela placagem aos 31 minutos de Longbottom a Paisami? Foi o primeiro jogo que vimos rugby total neste Super Rugby AU, com uma excelsa combinação no ataque e defesa, com direito a jogadas estupendas – Byron Ralston foi soberbo em tudo o que fez – e habilidades defensivas que expressaram as melhores qualidades do rugby australiano.
De exultar a exibição de Nic Berry. O árbitro conseguiu ter a visão para saber quando parar uma jogada, o dar seguimento a uma vantagem ou no como falar com os jogadores, mostrando que não é só Angus Gardener a dar cartas no rugby australiano.
Outra exibição que merece aplausos é a primeira-parte dos Waratahs, surgindo vários elementos que são fundamentais para o futuro da franquia de New South Wales. A excentricidade e o princípio técnico de arriscar certos tipos de movimentação ou passes foram pormenores para chegarem à área de validação, como se viu por aquele momento de génio de Will Harrison que seguiu rápido uma penalidade e atirou um pontapé cruzado para as mãos de James Ramm (mais uma boa prestação do ponta), explorando assim a compacta estrutura defensiva dos Brumbies. Na segunda metade do encontro os Waratahs “esqueceram-se” de voltar com o mesmo chip em termos de inventar e criar lances que alterassem a toada de jogo, caindo exactamente naquele tipo de ritmo que os seus adversários de Canberra preferem, tornando-se assim um alvo fácil, explicando-se assim a derrota consumada nos últimos minutos.
Os Waratahs têm jogadores para procurar essa tipologia de estratégia de mais risco e de maior vibração ofensiva, seja por avançados como Michael Hooper ou Ned Hanigan, ou nas linhas atrasadas, como se viu na exibição de Will Harrison e Karmichael Hunt. Contudo, Rob Penney parece mais focado em desenvolver uma estratégia mais dura e física, similar aos Brumbies, anulando quase por completo com o sentido de risco e a força dos desequilibrios defensivos, explicando-se assim o arranque trémulo no Super Rugby AU.
“Downs”: Brumbies ganha, mas até quando?
Foram justos vencedores os Brumbies? Sim, mas admitia-se a vitória dos Waratahs caso estes tivessem tido outra presença de espírito para aguentar com aquele embalo físico que a formação de Canberra tanto procura impor quando tem a bola sob o seu controlo. Contudo, quando os Brumbies se vêm frente a uma defesa altamente desperta e aguerrida e um ataque de alto risco e imprívisivel – um factor que está algo “desaparecido” destas franquias australianas do Super Rugby -, ficam com o seu sistema em chamas e sob alta pressão, abrindo falhas nocivas que possibilitam aos seus rivais desenvolverem uma vantagem no marcador alargado, como aconteceu neste encontro frente aos Waratahs, que chegaram a estar na frente por 20-05 até aos 34 minutos.
Ou seja, os Brumbies dominam por completo uma área do jogo que uma boa parte do público não aprecia nos dias de hoje, do sentido táctico, da gestão simples da posse de bola e do avanço territorial vagoroso mas sustentado e inteligente… contudo, quando são “vítimas” de uma equipa mais de risco e de criar espectáculo, surgem os problemas apesar de já terem sobrevivido aos Chiefs na época normal do Super Rugby.
É estranho criticar a equipa que ganhou, mas em abono da verdade são o elenco com o favoritismo para conquistar o título e seria interessante vermos algumas opções ofensivas diferentes e mais dinâmicas, até porque têm jogadores competentes nessa área como Peter Samu, Andrew Muirhead, Tevita Kuridrani, Noah Lolesio (saiu lesionado e agarrado à coxa, com uma possível rotura) ou Tom Banks.
Os craques: Ralston, Feauai-Sautia, Muirhead, Harrison
O ponta da Western Force teve competência no finalizar de boas jogadas, percorrendo quase 150 metros com a oval em seu poder combinando bem com as três quebras-de-linha e quatro defesas batidos, numa exibição que ainda teve dois turnovers conquistados no breakdown, neste segundo jogo de Byron Ralston no Super Rugby AU.
Nos Reds também foi um ponta que merece o total destaque, de seu nome Chris Feauai-Sautia. O polivalente 3/4’s completou um trio de quebras-de-linha, cinco defesas batidos, seis tacklebusts (foi um “aríete” munido de um motor V8), 80 metros conquistados, realizando assim um bela exibição.
Muirhead foi um espectáculo em todos os apontamentos do jogo, com dois turnovers, 8 placagens, 100 metros conquistados, 2 quebras-de-linha, 5 defesas batidos e 5 tacklebusts, sentindo-se a sua importância na vitória dos Brumbies em Sydney.
Will Harrison foi um inventor total pelos Waratahs, com pontapés letais, sidesteps especiais, impondo toda uma passada elétrica durante o encontro frente aos Brumbies. Apesar de ter falhado dois pontapés de penalidade aos postes, cumpriu na maioria das ocasiões e vai galgando na direcção à estreia pelos Wallabies.
Os números
Mais pontos marcados: Will Harrison (Waratahs) – 13 pontos
Mais ensaios marcados: Byron Ralston (Force) – 2
Mais quebras-de-linha: Chris Feauai-Sautia (Reds) – 3
Mais placagens: Henry Stowers (Force) – 21 efectivas (2 falhadas)
Mais turnovers: Andy Muirhead (Brumbies) – 3
Mais defesas batidos: Hunter Paisami (Reds) – 7
Melhor da Jornada: Tate McDermott (Reds)