Foto; Queensland Reds

Tempo de leitura: 5 minutos

ARTIGO OPINATIVO –  Já tivemos a estreia da Western Force no Super Rugby AU e por pouco não havia surpresa no encontro frente aos Waratahs, mas a falta de “pernas” na 2ª parte foi decisiva para que a equipa de Michael Hooper e companhia conseguissem dar a volta ao marcador.

Esta é a análise ao pormenor da 2ª ronda do Super Rugby AU!

 

- Continua depois da publicidade -

“Ups”: Reds mestres do scrum e Force de volta

Os Reds foram demolidores na formação-ordenada e é pena que não tenham feito desse total domínio uma ponte para chegarem mais vezes aos postes, de forma a desatar o nó da igualdade que se prolongou até ao apito final, tanto do tempo normal do tempo como do prolongamento de 10 minutos (Super Time). Garantiram as suas oito formações-ordenadas forçando quatro penalidades, duas delas transformadas em penalidades que adicionaram pontos à equipa treinada por Brad Thorn, aplicando uma pressão extra nos Rebels, que acabariam por “respirar” devido aos erros sucessivos dos Reds no que toca ao garantir a posse de bola após a placagem (7 penalidades neste aspecto).

Mas em termos de domínio entre os packs na formação-ordenada, não há dúvidas que estes Queensland Reds são uma das franquias principais nesse ponto e que pode lhes permitir garantir uma ida até à final, já que quem detém o poder nas fases-estáticas terá uma vantagem clara sob as suas adversárias.

Por falar em domínio e controlo, o que dizer da estupenda primeira parte da Western Force frente aos Waratahs? A franquia sediada em Perth, que foi afastada do Super Rugby a partir da época de 2017, entrou em grande e controlou por completo o ataque dos Waratahs, forçando erros no adversário o que lhes permitiu ter espaço para ir montando o seu jogo e subindo no terreno, chegando a estar 14 minutos seguidos dentro do meio-campo ofensivo.

Não foram geniais ou incríveis em termos de ataque, já que só por uma vez conseguiram penetrar na defesa dos tahs, mas foi possível assistir a uma solidez na movimentação ofensiva e nas constantes entradas no contacto, que a certa altura permitiu chegarem à área de validação pelas mãos de Byron Ralston, depois de uma combinação de elevada categoria com Henry Stowers (internacional pela Samoa que esteve presente no Mundial de Rugby em 2019), isto depois de Jono Lance ter organizado toda a operação ofensiva com engenho. Perderam fôlego na segunda-parte, mas é um sintoma natural para quem esteve quase quatro anos longe de um nível competitivo elevado vincando que há raça, “fome” e qualidade para serem encarados como um adversário duro e resistente neste Super Rugby AU.

 

“Downs”: Péssimo primeiro tempo dos Waratahs e desordem em Reds vs Rebels

Os Waratahs fizeram ou não uma exibição abaixo do esperado? Não tirando mérito à Western Force, elogiada no segmento anterior, a verdade é que os Waratahs efectuaram uma das piores primeiras-partes dos últimos anos, podendo ter mesmo a sair para o intervalo sem qualquer ponto somado não fosse aquele ensaio de Angus Bell aos 40′.

Na segunda metade do encontro, a formação de Perth não foi capaz de manter o mesmo ritmo da primeira parte e a equipa da casa foi capaz de ter acesso à oval com outra calma, encetando numa recuperação natural mas que não pode esconder a confluência de falhas e pouca eficiência das linhas atrasadas dos ‘tahs. No total dos 80 minutos, a franquia dos Waratahs que sempre foi reconhecida pela sua capacidade enérgica de mover a bola nas linhas atrasadas registou apenas 6 quebras-de-linha (a Force só furou a linha de defesa por uma ocasião), todas elas nos segundos 40 minutos, mostrando assim que houve pouca “fantasia” ou capacidade de inventar um pormenor espectacular que colocasse em xeque a linha defensiva dos seus adversários.

Will Harrison pareceu estar demasiado recuado nas movimentações após fase-estática e o par de centros composto por Walton e Newsome foram completamente arredados da construção de jogo, o que tornou todo o processo de ataque colectivo dos Waratahs mais “mastigado” e pautado pelo avanço territorial a partir dos avançados quase exclusivamente.

O empate entre Rebels e Reds foi, no mínimo, estranho mas justo, já que as duas equipas apresentaram na maioria das ocasiões um rugby atribulado de contornos extremamente confusos, surgindo constantes avants e perdas de bola no contacto, transformando-se num duelo caótico e convoluto. No total foram 35 erros próprios, alguns do mais impressionante possível, com os Rebels a serem mais competentes no alinhamento de jogadas de ataque, enquanto que os Reds imperaram na formação-ordenada e no jogo ao pé.

Os dois elencos tentaram apresentar uma boa estrutura de jogo, notando-se as tentativas de tanto Toomua como O’Connor em montar os melhores sistemas de jogo, só que a execução e a inconsistência no controlo da oval foi detonando e condenando qualquer ideia de coesão ou de inteligibilidade, tirando espectacularidade e emoção ao encontro mais aguardado deste 2ª ronda do Super Rugby AU.

A culpa não é directamente dos pares de médio, apesar dos aberturas de ambas equipas terem sido responsáveis por falhas estranhas – James O’Connor tem um pontapé torto que quase oferecia uma oportunidade de ensaio aos Rebels -, mas sim de problemas em redor dos alinhamentos (42% foram perdidos) e na saída do breakdown, com a oval a sair disparada do mesmo por causa da queda de jogadores que se entregaram totalmente a este “combate”. Precipitação, riscos assumidos em momentos que pediam contenção e poucos cuidados no transporte de bola ou apoio ao portador da oval foram letais para tornar um suposto bom jogo numa contenda quase paralisada e confusa durante a maior parte do tempo.

 

Craques da jornada: Fa’amusili, Daugunu, Stander e Ramm

Muita atenção a este pilar de 23 anos que finalmente começa a ter tempo de jogo concreto nos Melbourne Rebels, de seu nome Pone Fa’amusili. É um autêntico brutamontes no contacto, castigando os placadores com uma dureza dominadora que abriu brechas na defesa dos Reds em dois momentos, registando duas quebras-de-linha e 50 metros conquistados (2º avançado das duas equipas com mais metros somados), sem esquecer com a atitude agressiva na placagem.

Filipe Daugunu aproveitou a saída de Henry Speight para se tornar um elemento essencial dos Reds e, pela segunda semana consecutiva, voltou a percorrer quase 100 metros de conquista territorial, com três quebras-de-linha e quatro defesas batidos, coroando a exibição com um bom ensaio à ponta.

Bynard Stander, um verdadeiro desconhecido do público do Super Rugby, impressionou no regresso da Western Force ao Super Rugby aplicando boas arrancadas e entradas que forçaram um agrupamento de placadores em redor de si, somando 110 metros e 6 tackle busts.

Pela segunda semana consecutiva, James Ramm merece total destaque pela boa exibição produzida, em específico na segunda-parte, tendo sido importante para dar algum tipo de profundidade ao ataque dos Waratahs, que sofreu em demasia de alguma paralisação.

Os números da jornada

Mais pontos marcados: Will Harrison (Waratahs) – 13 pontos
Mais ensaios marcados: Vários – 1
Mais quebras-de-linha: Filipo Daugunu (Reds) – 3
Mais placagens: Richard Hardwick (Rebels) – 18 (só 1 falha)
Mais turnovers: Michael Hooper (Waratahs) e Ned Hanigan (Waratahs) – 3
Mais defesas batidos: James Ramm (Waratahs) – 4
Melhor da Jornada: Filipe Daugunu (Reds)

Ensaio de Daugunu (1:07)