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Apelido: All Blacks
População: 4.600.000
Capital: Wellington
Continente: Oceania
Principais títulos: Copa do Mundo (1987 e 2011) e Tri-Nations/The Rugby Championship (13 vezes)
Mundiais disputados: Todos
Melhor campanha em Mundiais: Campeã (1987 e 2011)
Copa do Mundo de 2011: Campeã
Caminho para o Mundial 2015: Classificada antecipadamente como uma das 12 melhores da Copa do Mundo de 2011
Técnico de 2015: Steve Hansen
20/09 – x Argentina – Histórico: 21 jogos, 20 vitórias da Nova Zelândia e 1 empate. Último jogo: Nova Zelândia 39 x 18 Argentina, em 2015 (The Rugby Championship)
24/09 – x Namíbia – Histórico: nunca se enfrentaram;
02/10 – x Geórgia – Histórico: nunca se enfrentaram;
09/10 – x Tonga – Histórico: 4 jogos, 4 vitórias. Último jogo: Nova Zelândia 41 x 10 Tonga, em 2011 (Copa do Mundo);
Melhores do mundo, melhores da história. Os All Blacks dispensam maiores apresentação e, depois de quebrarem o incômodo jejum e vencerem a Copa do Mundo de 2011, os neozelandeses voltam a reinar como os grandes favoritos em 2015. Ainda há um tabu, no entanto. Nos dois títulos conquistados, a Nova Zelândia atuou em casa, o que significa que jamais levantou a taça longe de Auckland. O desafio está dado para os Homens de Preto, que vão à Inglaterra com a missão de superar esse que é o último porém de sua história brilhante e irretocável. E o título transformaria a Nova Zelândia na primeira tricampeã mundial, enfim ultrapassando Austrália e África do Sul. No seu histórico, mais vitórias que derrotas contra qualquer seleção do mundo, e invencibilidade contra todos os seus oponentes da primeira fase do Mundial 2015. Até hoje, apenas África do Sul, Austrália, França, Inglaterra e Gales (há mais de 60 anos), além da velha Rodésia, Lions e Barbarians, tiveram a honra de vencer os neozelandeses.
A história de sucesso é prematura e a fama veio cedo. Em 1888, uma seleção dos maoris – a população nativa do país, de origem polinésia – viajou à Europa, usando camisas negras, e foi aclamada pela qualidade de seu rugby. Eram os New Zealand Natives, cuja fama logo daria lugar à primeira seleção de fato do país, os Original All Blacks, a mítica seleção neozelandesa, organizada pela União Neozelandesa de Rugby e capitaneada pelo mítico Dave Gallaher, que foi à Europa em 1905-06 e brilhou. Em 1904, os neozelandeses já tinham vencido os Lions na primeira visita da seleção britânica ao país e a retribuição da visita foi uma série impressionante de 35 jogos com 34 vitórias. A única derrota foi em célebre encontro com Gales, mas nos primeiros duelos com Inglaterra, Escócia, Irlanda e França a Nova Zelândia emergiu vitoriosa, arrancando aplausos. E dessa excursão veio seu apelido: All Blacks, cuja história tem duas versões. Seriam All Blacks por conta das vestimentas ou pela confusão feita por um jornalista que recebeu a mensagem de que os neozelandeses seriam “All Backs” (isto é, todos atletas de linha, pelo estilo aberto e ofensivo), mas teria redigido “All Blacks”. A segunda história é muito mais um mito que outra coisa, já que a seleção já era conhecida como “Blacks” em casa. E, além do apelido, os Originals também estabeleceram a tradição da haka, a dança de guerra maori, já apresentada antes pelos Nativos, e tornada nacional pelo Originals. O sucesso da seleção nacional de rugby foi essencial nos primeiros anos para forjar uma real unidade no país. O rugby se tornou o denominador comum entre brancos e maoris, criando desde os primeiros anos, desde o primeiro tour dos Natives, uma das essências da nacionalidade neozelandesa, tanto por ter sido praticado pelos maoris desde os anos de 1880 como pela presença constante de maoris na seleção. A colonização europeia fora tardia e a Nova Zelândia só se tornara colônia britânica em 1840, com os conflitos entre europeus e maoris ainda muito recentes.
Em 1908, os Lions voltaram a visitar a Nova Zelândia e novamente saíram derrotados, enquanto a esperada visita da África do Sul em 1921 acabara com uma vitória de cada lado e um empate, inaugurando talvez a maior rivalidade do rugby mundial. E, em 1924, o mito dos All Blacks já tinha se consolidado, com a geração chamada de The Invincibles (Os Invencíveis), que foram à Europa e venceram todas as suas partidas, tendo a frente o maori George Nepia. Em 1928, a Nova Zelândia retribuiu a visita e foi à África do Sul, se impondo sobre os Springboks com duas vitórias e uma derrota, mas no ano seguinte pela primeira vez os neozelandeses sofreram três derrotas seguidas, caindo contra a Austrália. A hegemonia conquistada foi logo rivalizada pela África do Sul, que voltou a visitar a Nova Zelândia em 1937, saindo vitoriosa.
Custou até 1949 para os All Blacks voltarem a duelar com os Springboks, em 1949, quando saíram novamente derrotados. Mas, o orgulho seria logo retomado, com o tour dos Lions de 1950 e nova vitória neozelandesa. Em 1956 veio outra série contra a África do Sul e nova vitória para os neozelandeses, com a liderança do chutador e capitão Don Clarke e do pilar mítico Kevin Skinner. Em 1963-64, a geração dourada liderada pelo pilar Wilson Whineray acumulou 18 jogos de invencibilidade, recorde quebrado logo depois, entre 1965 e 1970, sob a capitania do terceira linha Brian Lochore, com 19 tests invicta e 17 vitórias seguidas, também recorde, e que dura até hoje. Nas duas gerações invencíveis outra lenda, o segunda linha Collin Meads. Em 1971, os All Blacks perderam famosa série para os Lions, a última sem sucesso até hoje, e voltaram a visitar os Springboks, depois que, em 1967, em meio a protestos, a Nova Zelândia cancelou sua visita à África do Sul pela negação de vistos a seus atletas. Em 1971, a vitória foi sul-africana, mas em 1974 veio o troco, com o terceira linha Ian Kirkpatrick, forwards artilheiro, como capitão, apesar da violência dos Springboks, e os All Blacks voltaram a prevalecer. Em 1981, os Springboks visitaram a Nova Zelândia, sofrendo com sistemáticos protestos contra o regime racista do apartheid, e a vitória foi dos All Blacks, liderados pelo asa Graham Mourie.
Em 1985, a crise envolvendo os jogos com os Springboks chegou ao limite quando a União Neozelandesa de Rugby rejeitou um convite para jogar na África do Sul, mas um grupo de atletas optou por formar os New Zealand Cavaliers, uma seleção não oficial para jogar contra os Springboks. O resultado foi a exclusão dos mesmos atletas dos All Blacks, que foram à Copa do Mundo de 1987 com uma seleção renovada. E, jogando em casa, os All Blacks se provaram imbatíveis no primeiro mundial, vencendo todos os seus jogos com contundência, inclusive a final diante da França, abrilhantada por nomes imortais como o asa Michael Jones, o hooker Sean Firzpatrick, a dupla de scrum-half e abertura David Kirk (o capitão Kirk) e Grant Fox, e o ponta John Kirwan.
Nos anos seguintes, a invencibilidade dos All Blacks chegou a níveis nunca antes vistos, com 24 partidas sem derrota até 1990, quando, enfim, caíram diante da Austrália. A mesma Austrália que roubaria a cena na Copa do Mundo de 1991 eliminando a Nova Zelândia nas semifinais e inaugurando uma sina dos All Blacks, que voltariam a falhar sistematicamente nos Mundiais, apesar de se manterem no topo do mundo nos demais anos. Em 1995, já o ícone Jonah Lomu em campo, os neozelandeses conheceram nova derrota, dessa vez na final da Copa do Mundo para os arquirrivais sul-africanos. Veio o profissionalismo, os títulos do Tri Nations e nova derrota na semifinal da Copa do Mundo de 1999, em jogo épico contra a França. Em 2003, tudo de novo, e derrota em mais uma semifinal para a Austrália, novamente quando a Nova Zelândia reinava. Em 2007, a catástrofe foi maior, com derrota para a França nas quartas de final. O jejum só veio ao fim em 2011, novamente jogando em casa, e em final tensa e emocionante contra a França, encerrada em 8 x 7. Com o feito, o capitão Richie McCaw levantou a taça, coroando uma geração que se provaria ainda melhor nos anos seguintes, ao embalar 20 jogos de invencibilidade até 2012, quando caiu diante da Inglaterra. Três vezes melhor do mundo, McCaw seguiu conduzindo os All Blacks a recordes, que incluem os incríveis 13 títulos do Tri Nations-The Rugby Championship, engrandecidos por quatro títulos seguidos entre 2005 e 2008 e outros três consecutivos de 2012 a 2014. Recordista na geração também, o abertura Dan Carter se tornou o atleta com maior número de pontos na história do rugby.
E para 2015? A Nova Zelândia chega à Inglaterra com uma geração de alto nível e certamente conta com o melhor elenco do mundo. Como sempre, os All Blacks atingiram seu máximo um ano antes do Mundial e iniciaram em 2015 leve queda com a perda do Rugby Championship para a Austrália. A idade também chegou a alguns dos seus expoentes, como McCaw, Carter e Mealamu, que apesar de ainda terem um nível de rugby elevado, não estão mais no auge. Ainda assim, é inegável que os All Blacks tenham o melhor elenco do mundo, repleto de opções. Na primeira linha, Dan Coles está voando, enquanto na segunda linha lá está Brodie Retallick, melhor do mundo ano passado. A terceira linha é estrelada, com Kieran Read, ex melhor do mundo, ao lado de Richie McCaw, atleta mais vezes eleito o melhor do mundo, além de opções de nível como Liam Messam, Victor Vito, Jerome Kaino e Sam Cane. Algum defeito no pack? Sim, as formações ainda não atingiram a perfeição, enquanto os rucks terão forte oposição de outras seleções.
E na linha? A camisa 9 é do mágico Aaron Smith, que ainda tem TJ Perenara de sombra. Já a 10 vem sendo muito debatida entre quem defende Dan Carter, não mais em seu melhor, e quem aposta em Lima Sopoaga, que brilhou no Super Rugby. No centro há a dupla inseparável Conrad Smith e Ma’a Nonu e o pop star Sonny Bill Williams, além do ascendente Malakai Fekitoa, enquanto as pontas têm o demolidor Julian Savea, a revelação Milner-Skudder e o finalizador Charles Piutao, ao passo que a 15 é disputada por Ben Smith e Israel Dagg. Muita gente boa em um só time.
Na primeira fase, os adversários não oferecem resistência. Namíbia, Geórgia e Tonga não deverão levar problemas aos All Blacks com o único jogo difícil sendo contra a Argentina, que, no entanto, jamais venceu os All Blacks. Os Pumas vêm diminuindo a distância para os neozelandeses e irão pressionar muito o pack rival, que terá uma ótima prova antes das quartas de final, quando o oponente poderá ser a Irlanda, velha freguesa, ou a França, que cresceu perigosamente nas últimas semanas. A Nova Zelândia tem tudo para chegar à final e ser campeão, mas, mais uma vez, um pinguinho de dúvida caiu das nuvens e será preciso muito foco e confiança para não deixar os velhos fantasmas reaparecerem. Muito haka será preciso, seja Ka mate ou Kapa o Pango. Eis o time a ser batido.
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