Tempo de leitura: 6 minutos

ARTIGO COM VÍDEO – Mais um tabu caiu a favor da Argentina! Pela primeira vez na história, os Pumas derrotaram os Springboks em solo argentino e, claro, não foi nada fácil. Salta ficará eternizada nas mentes dos rugbiers argentinos como o palco onde eles derrotaram enfim a África do Sul em casa, com um sofrimento de 26 x 24 que valeu a festa no Estádio Padre Martearena.

 

Daniel Hourcade, técnico dos Pumas, não efetuou em seu time antes do jogo qualquer modificação, mantendo, assim, a confiança nos quinze que alinharam na derrota da semana passada por 30 x 23 na África do Sul. Do outro lado, os sul-africanos efetuaram uma única troca com a entrada do pilar Koch (de grande temporada nos Stormers) no posto do lesionado Redelinghuys. O resultado foi mais um embate parelho e emocionante, mas ainda cheio de erros das duas partes, que precisam melhorar muito se quiserem uma chance contra os All Blacks.

- Continua depois da publicidade -

 

CVC_PORTAL_pumasallblacks_03

 

O encontro iniciou-se, praticamente, com uma penalidade a favorecer a formação do técnico Alister Coetzee, que Elton Jantjies não deu a melhor direção. Os primeiros dez minutos foram de ritmo baixo e com bastante choque físico, o que impossibilitava a Combrinck, Klerk, Jantjies ou Mapoe realizarem as linhas de corrida que tanto gostam e procuram… a estratégia dos Pumas tinha de passar por aqui e, sempre que possível, acelerarem o jogo num pico de corrida que resultasse em pontos. Aos 15’ um momento caricato do encontro: Sánchez, dentro da sua área de 22, chuta a bola com Jantjies a pressionar e a tocar ligeiramente na oval, com esta a voar até dentro da área de validação sul-africana… Goosen controla-a e pensando que o pontapé não tinha tocado em ninguém mete um pé fora e outro dentro, agarrando a bola… numa situação normal isto resultaria numa scrum nos 22 metros defensivos dos Pumas para os Boks. Porém, uma vez que o nº10 da África do Sul tocou na bola, a scrum acaba por ir parar às “mãos” dos argentinos nos últimos cinco metros sul-africanos. Por sorte, a jogada seguinte não terminou em ensaio uma vez que Montero, o nº11, acaba por deixar cair a bola para a frente quando estava a milímetros da área de validação. Este deslize da equipe da casa, permitiu à África do Sul em acreditar em si e a carregar no ataque, conseguindo uma penalidade e cartão amarelo para o nº3 dos Pumas (jogo ilegal), com Jantjies a não falhar a conversão da penalidade.

 

Mas, ao bom estilo dos Springboks de 2016, não conseguem manter a frente e acabam por consentir o empate logo de seguida, com uma penalidade por bola presa no chão… Sánchez analisa, aponta e converte para o 3-3 aos 22’. Sempre na mesma toada, com muito pouco rugby de perfume e mais um jogo de contacto, onde os avançados iam roubando o protagonismo: Agustín Creevy com 9 carries no espaço de 30 minutos e 8 tackles ou Facundo Isa (uma unidade super móvel). A partir dos 29’ o jogo passou para o controlo argentino, que conseguem fazer o 06-03, por Sánchez e, no minuto seguinte, uma jogada de categoria entre Hernandez, Sánchez e Tuculet, termina com o ensaio deste último para o 13-03 aos 32’. A África do Sul estava com problemas em conseguir garantir espaço e abrir os espaços na linha defensiva, como aconteceu com De Allende aos 38’ que corre de lado por uns bons 8 metros sem conquistar metros de terreno de jogo. Jogo fraco, de intensidade muito baixa, sem as duas equipes a se apresentarem na melhor forma possível: os Springboks estavam sem ideias no ataque, sem situações claras de ensaio, enquanto que os argentinos efetuavam o jogo que mais lhes interessava, sem impressionar mas com as melhores ocasiões para pontuar.

 

Recomeço da contenda como  começou a 1ª parte, com uma penalidade a favorecer os Springboks, que Elton Jantjies converteu com excelência. Pouco depois veio o ensaio do 13-13, com Habana a receber um passe espetacular de J. Kriel após uma movimentação à Super Rugby. Grande entrada dos sul-africanos que em cinco minutos passam de 13-03 para 13-13, demonstrando outra lucidez e vontade em comparação com a 1ª parte. Porém, mais uma vez, os Boks não conseguiram manter o seu caudal ofensivo, pois aos 47’, Leguizámon (o asa dos Jaguares) marcou um ensaio formidável, captando do ar um cross kick de Sánchez (para já o homem do jogo a par de Facundo Isa), perante uma defesa perdida e sem controlo. Os argentinos “acordaram” e ao estilo que encantou o público no Mundial, voltaram a carregar sobre os seus adversários, com Facundo Isa a quebrar a linha de forma impressionante (nem Mapoe ou De Allende conseguiram bloquear a entrada do nº8 dos Jaguares) e a quase dar mais um ensaio à sua formação. Nicolás Sánchez sobe a diferença para os 23-13 aos 54’, castigando nova falta no chão dos sul-africanos. O jogo ia escapando aos comandados de Coetzee, que se pôde queixar de um erro de “azar”, quando De Allende esteve a centímetros do ensaio, mas uma grande tackle de Cordero e Leguizámon “obriga” ao centro a fazer um erro (knock-on).

 

Jogo caótico, com as duas equipes a distribuírem bons lances de ataque e com as defesas sob pressão, onde os vários erros iam precipitando boas ocasiões para gerar mais ensaios… não fossem os erros nos últimos metros de jogo. Aos 68’ novo ensaio dos Springboks por Pieter-Steph du Toit, que aproveitou uma boa sequência de entradas curtas, onde finalmente apareceu Faf de Klerk a acelerar a sua equipe… 23-21, Morné Steyn falha a conversão que daria o empate. Os últimos dez minutos foram um “sufoco” completo, com os sul-africanos a fazerem o 24-23 por Steyn e a dois minutos do final Iglesias faz o 26-24. Aos 78 minutos uma scrum decisiva para os sul-africanos poderia voltar a virar o resultado, mas um excelente coletivo como os Pumas, aguentaram-na, subiram as linhas e conquistaram a bola em novo knock-on… vitória por 26-24, a Argentina é a justa vencedora deste jogo “agressivo”, físico e de contacto, que esteve longe do esplendor do rugby do Hemisfério Sul. Com esta vitória dos Pumas, a Nova Zelândia domina o Rugby Championship com 10 pontos, seguindo da África do Sul com 5, Argentina com 5 e Austrália com 0.

 

Uma nota final, que não é bem vista no “Mundo da Ovalad”a: arbitragem. Jérôme Garcés voltou a realizar uma exibição medíocre, perdendo o controlo do confronto físico e a prejudicar largamente o espetáculo. Mal pôde enviou um argentino para o sin bin, após uma ombrada ilegal… mas então e Teboho Mohoje? O asa realizou 3 gravatas que eram puníveis com cartão e subsequente penalidade, para além de uma falta clara de Du Toit num lance que daria o 26-21. Já não é a primeira vez que Garcès fica debaixo de uma chuva de críticas… e sabemos que nesta modalidade ninguém gosta de criticar a arbitragem… mas quando o jogo sai claramente prejudicado pelos erros excessivos dos juízes de jogo, há que se rever a situação. Foi um fato da partida.

 

No próximo sábado o Rugby Championship terá uma folga e no dia 10 de setembro Pumas e Springboks voltarão a campo jogando na Oceania. A África do Sul duelará com a Austrália em solo australiano e a Argentina visitará a Nova Zelândia.

 

UAR_copy_copy.jpg26versus(13)24springboks logo

Argentina 26 x 24 África do Sul, em Salta

Árbitro: Jérôme Garcès (França) / Assistentes: Glen Jackson (Nova Zelândia) e Ben O’Keefe (Nova Zelândia) / TMO: George Ayoub (Austrália)

 

Argentina

Tries: Tuculet e Leguizamón

Conversões: Sánchez (1) e Hernández (1)

Penais: Sánchez (2), Hernández (1) e Iglesias (1)

15 Joaquín Tuculet, 14 Santiago Cordero, 13 Matías Orlando, 12 Juan Martín Hernández, 11 Manuel Montero, 10 Nicolás Sánchez, 9 Martín Landajo, 8 Facundo Isa, 7 Juan Manuel Leguizamón, 6 Pablo Matera, 5 Tomás Lavanini, 4 Matías Alemanno, 3 Ramiro Herrera, 2 Agustín Creevy (c), 1 Nahuel Tetaz Chaparro.

Suplentes: 16 Julian Montoya, 17 Felipe Arregui, 18 Enrique Pieretto, 19 Guido Petti, 20 Javier Ortega Desio, 21 Tomas Cubelli, 22 Santiago Gonzalez Iglesias, 23 Lucas González Amorosino.

 

África do Sul

Tries: Habana e Du Toit

Conversões: Goosen (1)

Penais: Jantjes (2) e Steyn (2)

15 Johan Goosen, 14 Ruan Combrinck, 13 Lionel Mapoe, 12 Damian de Allende, 11 Bryan Habana, 10 Elton Jantjies, Faf de Klerk, 8 Warren Whiteley, 7 Teboho Mohoje, 6 Francois Louw, 5 Lood de Jager, 4 Eben Etzebeth, 3 Vincent Koch, 2 Adriaan Strauss (c) , Tendai Mtawarira.

Suplentes: 16 Bongi Mbonambi, 17 Steven Kitshoff, 18 Lourens Adriaanse, 19 Pieter-Steph du Toit, 20 Jaco Kriel, 21 Rudy Paige, 22 Morne Steyn, 23 Jesse Kriel.

 

 

PaísJPPaísJP
Grupo AGrupo B
Austrália38Nova Zelândia39
Fiji37França37
EUA36Espanha35
Colômbia33Quênia33
Grupo C
Grã Bretanha39
Canadá37
Brasil35
Japão33Veja mais

 

Escrito por: Francisco Isaac

Foto: UAR/Rodrigo Vergara