Tupis em busca de classificação ao Pan 2019. Foto: Cochabamba 2018

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Após a Confederação Brasileira de Rugby decidir pela desistência da Seleção Brasileira Masculino de Rugby Sevens, o Portal do Rugby entrou em contato com a entidade para pedir maiores esclarecimentos sobre os motivos da desistência.

 

1) A Confederação anunciou a desistência da seleção brasileira de sevens masculino do Pré Olímpico. No comunicado, lê-se: “A decisão ocorre pela proximidade de datas entre a repescagem e a reta final de preparação para a disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo de Rugby XV”. Entretanto, já era sabido desde o ano passado que haveria esse conflito de datas. Por que a decisão ocorreu apenas agora?

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Resposta: A decisão da não participação à repescagem não foi simples e foi tomada coletivamente, após reuniões internas, discussão com o Comitê de Alto Rendimento e a aprovação final do Conselho de Administração, levando em consideração pareceres técnicos da área médica que detalhavam os riscos. Ela se prolongou pelo fato de termos tentado até os momentos finais esgotar todas as hipóteses de construção do grupo. Nenhuma das possibilidades estudadas, porém, nos garantia a segurança dos atletas de fora do sistema em relação à Covid e lesões.

A possibilidade de atuarmos com uma equipe de atletas de XV do alto rendimento foi avaliada. Mas tornou-se inviável também pelo agravamento da pandemia. Pelo reforço dos protocolos sanitários, os atletas teriam que ficar isolados por sete dias antes da viagem para a disputa do Pré-Olímpico e sete dias após o retorno, perdendo um período primordial de treinamento para as Eliminatórias. A liberação para retornarem ao grupo somente aconteceria após a realização da partida contra o Paraguai.

Outra possibilidade estudada foram os camps intermitentes em locais de treino da CBRu (NAR e CT de São José). Mas, com o agravamento da Covid a partir de março de 2021 e o aumento da incidência de infecções por coronavírus na população, o protocolo médico ficou mais restritivo. Seria inviável que os atletas participassem de um camp e voltassem para suas atividades normais, e novamente se juntassem em um camp. Isso foi fortemente destacado pela área médica como não recomendável. A situação exigiria meses de isolamento de pessoas que não atuam como atletas profissionais. Novamente vale destacar que não existem clubes brasileiros de rugby treinando regularmente no país por conta da pandemia, sejam nas categorias adulta ou juvenil.

Além disso, o agravamento da Covid trouxe uma dificuldade logística com ausência de espaço físico para os treinos. A fase roxa do lockdown em São Paulo fechou o NAR por longo período. Após o retorno das atividades no NAR, passamos também a contar com horas reduzidas para as mesmas.

É notório que a pandemia trouxe problemas a diversos outros eventos esportivos, com um calendário que se tornou complexo e apertado. Modalidades no mundo todo também sofreram e passaram a ter pouco tempo hábil para preparação de equipes.
A comunicação foi feita nesta semana pois, após a definição nas instâncias cabíveis, tivemos necessidade de alinhamento com o COB, a SAR e a World Rugby, processo que leva tempo para acontecer.

 

2) Desde a confirmação do calendário, esperava-se que um elenco específico para o Pré Olímpico fosse formado, distinto do XV. Da mesma maneira, era esperado que o planejamento levasse em conta a necessidade de um elenco do sevens treinando com protocolos sanitários. Qual planejamento foi feito originalmente e o que mudou?

Resposta: Nosso plano inicial para participação da repescagem (Pré-Olímpico) levava em consideração um time formado por atletas do sistema de alto rendimento, da categoria de base M20 e de clubes. Fizemos o planejamento com um cenário no fim de 2020, mas o agravamento da Covid, que não poderia ser previsto por completo, alterou drasticamente o projeto. O protocolo sanitário fica mais restritivo à medida que aumenta a incidência de infecções por coronavírus na população. Com isso, a CBRu alterou também seus protocolos para garantir a segurança dos atletas e do staff.

Tivemos entre as mudanças um controle maior com sistema de bolhas sanitárias permanentes, impedindo treinamentos em um mesmo local de atletas do sistema e atletas de fora do sistema. Outra mudança relevante foi o reforço do protocolo de isolamento pré-bolha de treinamento, o que inviabilizou os camps intermitentes, onde os atletas de fora do sistema treinariam e seriam liberados para suas residências.

Neste ponto, novamente ressaltamos: clubes de rugby tiveram suas atividades paralisadas durante o período, sem treinamento para equipes adultas ou juvenis. Também convivemos com o fechamento e posteriormente redução de horários de uso de equipamentos esportivos. Passamos a ter períodos de trabalho limitados para treinar nossas equipes de XV masculina e 7s feminina. Isso nos impedia de seguir com o plano inicial de treinar a missão do 7s masculino no mesmo local.

O agravamento da pandemia também reforçou o protocolo sanitário da CBRu pós-torneios. No retorno ao Brasil após a disputa do Pré-Olímpico que seria encerrado no dia 21 de junho, os atletas selecionados teriam que ficar isolados por sete dias. Ficariam fora, portanto, da partida contra o Paraguai pelas Eliminatórias, no dia 26 do mesmo mês.

 

3) O sevens é a modalidade olímpica do rugby e justifica receitas com essa origem. Da mesma maneira, o Brasil ocupa vaga que poderia ter sido destinada a outros países. O processo de desistência já estava sendo conversado com COB e World Rugby? A desistência da disputa não gera nenhum problema quanto a receitas oriundas dessas entidades? Já havia sido recebida alguma verba específica para o sevens masculino? O que será feito com ela?

Resposta: O processo de desistência começou a ser discutido com o Comitê Olímpico do Brasil e a World Rugby no momento em que tivemos o acirramento da pandemia e o fechamento dos equipamentos esportivos pelo governo estadual. Com as alternativas para a formação do elenco limitadas, comunicamos a intenção de não participarmos da repescagem e apresentamos as justificativas, que foram imediatamente aceitas e compreendidas por ambas. A não participação no Pré-Olímpico não impacta na devolução de qualquer verba. Não existe uma verba obrigatoriamente destinada ao sevens masculino ou que fosse diretamente atrelada à disputa desta competição. Os recursos provenientes do COB e destinados aos sevens são aplicados no alto rendimento da equipe feminina e no desenvolvimento de atletas do masculino.

 

4) O Bolsa Atleta “olímpico” exige que os atletas compitam em nível internacional anualmente no sevens (e não no XV), sob pena de terem que devolver o dinheiro. A CBRu considerou o risco de os atletas serem obrigados a devolver suas bolsas? Ou houve algum acordo com base na pandemia? Como essa questão foi resolvida?

Resposta: O Bolsa Atleta é um programa da Secretaria Nacional do Esporte que visa beneficiar atletas de modalidade olímpicas e não olímpicas, por resultados esportivos (primeiros, segundos e terceiros colocados) obtidos anualmente em eventos indicados pelas Entidades Nacionais do Esporte. O direito ao atleta de pleitear a bolsa de esportes olímpicos se dá pelos resultados esportivos obtidos através de seus clubes (na categoria nacional) e pela seleção nacional (na categoria internacional).

Os eventos Nacionais indicadas pela CBRu são:
• Super Sevens Masculino
• Super Sevens Feminino
• Copa Cultura Inglesa l

Os eventos Internacionais são:
• Campeonato Sul-Americano de Rugby Sevens ( Masculino e Feminino).

A finalidade do benefício é a de permitir que o atleta se mantenha em atividade e que o
recurso possa suprir custos de alimentação, material de treino, transporte etc. Após o
recebimento da última parcela, cada beneficiário deve enviar à Secretaria Nacional do
Esporte um documento de prestação de contas, onde deve indicar como se manteve ativo
durante o recebimento do benefício.

Os atletas que estão ativos no sistema de alto rendimento devem disputar competições
internacionais de sevens até o final do ano, o que os habilitaria para o recebimento da
bolsa. Ainda temos o Sul-Americano de Sevens masculino no calendário de 2021. A
decisão sobre a não participação na repescagem, porém, foi determinada por questões
sanitárias envolvendo os desdobramentos da pandemia e uma série de obstáculos na
preparação, como apontados acima.

A CBRu continuará fomentando o esporte através de competições de Rugby Sevens e
Rugby XV, e continuará indicando eventos que possibilitem aos atletas obterem resultados
esportivos necessários para pleitear a bolsa.

 

5) Nos últimos dias, o Governo confirmou o plano de vacinar atletas envolvidos nos últimos eventos qualificatórios. Foi cogitada a vacinação do rugby sevens masculino?

Resposta: Quando analisamos a participação na disputa do Pré-Olímpico, a possibilidade não existia. Porém, é preciso deixar claro que a vacinação não relaxa os protocolos sanitários, nem afastaria as dificuldades logísticas apresentadas.