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O scrum-half e 3/4s do SPAC e da seleção brasileira, João Dias Neto, o Torosso, conversou nesta semana com o Portal do Rugby sobre a gira dos Tupis por La Plata. Torosso dissecou o que foi a gira brasileira, produzindo mais uma grande entrevista para você! Confira!

O Portal do Rugby agradece a Torosso, que também é fotógrafo, por ceder as fotos, e pela sua prestatividade na entrevista, muito reveladora sobre a gira brasileira.

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1 – A seleção brasileira foi a La Plata sem os atletas que defendiam a seleção de sevens em Hong Kong. Como você vê essa nova situação na seleção, com a separação, ao menos provisório, dos elencos? 

Primeiro de tudo, é um prazer escrever para o Portal, adorei o convite de participar aqui pela primeira vez. 

Sobre a separação provisória do elenco, vejo jeitos distintos de analisar a situação. 

O primeiro é uma excelente oportunidade de jogar em alto nível, oportunidade que os atletas de Sevens estão vivenciando, a vivência que a equipe teve num evento desse porte, a exigência maior na preparação dos atletas e a motivação que a competitividade por uma vaga neste time provoca em nos nossos atletas pelo Brasil. Sem dúvida, os que estiverem escalados para a fase seguinte das Eliminatórias da Copa do Mundo trarão este ganho para o nosso XV.

Por outro lado, infelizmente as duas viagens coincidiram e perdemos uma chance de medir nossa real força contra os argentinos. Treinamos um grupo que se fortaleceu após três jogos e uma semana de concentração, mas que sofrerá alterações com a integração de atletas que não participaram da gira. Teremos mais duas partidas, para os novos ajustes, antes do Chile.

Finalizando com outro lado positivo, foi uma ótima oportunidade para novos atletas mostrarem seu jogo representando o Brasil. Alguns inclusive experimentando novas posições.

 

2 – Como foi realizada a preparação antes da gira? Como os atletas e a comissão técnica trabalham com o entrosamento do grupo? Quais foram as dificuldades de preparar a seleção com a comissão técnica dividida?

O foco da preparação nos finais de semana do mês de março ficou na revisão do nosso sistema de jogo em ataque e defesa, certificando-se que recobrávamos a clareza das nossas funções e posicionamentos. Discussões teóricas com uso do flip chart, data show e copos plásticos no chão representando jogadores faziam parte da nossa rotina, ao mesmo tempo em que um grupo de treinadores nos coordenava para a parte prática em campo, incluindo exercícios de técnica individual do tackle, passe e tomadas de decisão e, é claro, bastante físico…

Conversando com os treinadores, estabelecemos metas e planos individuais para o nosso treinamento durante a semana, como preparação para a gira. 

A dificuldade se deu apenas no número de atletas da linha, pois não pudemos contar ainda com a ajuda de alguns que estavam retornando de lesão. O treinador do ano passado, Frubee, se manteve com a gente o tempo todo e contava com outros cinco treinadores e um preparador físico. Tínhamos uma comissão técnica gigante trabalhando com a gente.

 

3 – Como foi a estreia diante do Albatros? Como foi para o grupo o início da gira?

Chegamos em La Plata com um grupo novo, uma linha que ainda não havia jogado junto e todos ansiosos por bons jogos de XV (a grande maioria tinha jogado rugby de XV apenas uma ou duas vezes desde o fim da temporada passada). Todos muito bem liderados pelo capitão Leco.

Logo no início do nosso primeiro jogo, cometemos falhas e os argentinos foram precisos, colocando um drop goal logo de cara e um try convertido bem depois. Nossa reação veio logo em seguida. Conseguimos botar em prática o nosso padrão de jogo com contatos agressivos, muita rapidez nos rucks e excelente velocidade e ângulo de corrida da linha. Viramos o jogo antes da pausa para a água.

Dominamos o jogo até o final, mas alguns erros de finalização nos impediram de conseguir um placar mais elástico. 

 
4 – E a derrota para Los Tilos, a que se deveu? Quais foram as virtudes do adversário e as falhas do Brasil?

Iniciamos a segunda partida com um time bastante modificado: já sabíamos que todos os jogadores integrantes da delegação, incluindo os três brasileiros residentes na Argentina, teriam a oportunidade de começar como titulares em um dos dois primeiros jogos.

Beneficiando-se dos nossos penais , Los Tilos chegaram à nossa linha de 5m algumas vezes e anotaram dois tries no começo da partida. Conseguimos devolver com algumas vazadas no centro com o Ogum e nos forwards com o Danilo “Camisinha”. Em um desses avanços, demos continuidade com pick and go na base e conseguimos diminuir a diferença. 

Perdemos quase todos os nossos laterais na partida e tomamos muita pressão no scrum, jogamos pouco tempo com a posse de bola. Deixamos de capitalizar nas poucas vezes que encontramos espaço na defesa adversária e isso nos custou caro no final.

Los Tilos trocaram muitos jogadores no meio tempo, principalmente nos forwards, e voltaram com um ritmo de jogo excelente, muito mais agressivo, impondo um ritmo muito veloz e colocando uma grande pressão no nosso time.

 

5 – Na sequência, o Brasil bateu o La Plata. Quais foram as mudanças da equipe entre um jogo e outros? A que se deu a vitória? E qual o nível do adversário?

Entramos contra o La Plata com uma formação mais parecida com a do primeiro jogo e contamos com a presença dessa vez do Daniel “Nativo” assumindo como capitão e a do Croffi na segunda linha, que chegaram na madrugada. Na linha tivemos uma perda significativa com a concussão do Leco na metade do jogo anterior e estávamos sem um abertura especialista para a partida.

O La Plata não contou com sua equipe principal, entrando com um combinado das equipes intermediárias e com muitas substituições para o segundo tempo, quando viraram a partida. Tiveram grandes momentos com bons salteios nos seus backs e fizeram uma boa pressão nos nossos rucks.

Erramos bastante durante todo o jogo, mas soubemos decidir em momentos importantes e bloquear muito bem o ataque argentino, roubando muitas bolas nos contatos e frustrando importantes ataques do time da casa.

6 – Em resumo, qual a sua avaliação do desempenho da seleção já pensando no Sul-Americano? O que falta trabalhar e o que é preciso melhorar?

O desempenho do Brasil foi inconstante nos jogos que disputamos na Argentina. Quando se joga em nível internacional, qualquer alteração na concentração ou atitude da equipe pode ser decisiva no resultado e, conhecendo o nível dos nossos futuros adversários do Sul-Americano, precisamos trabalhar para manter nosso jogo no padrão mais elevado, inclusive no momento da exaustão.

Nos treinos e jogos seguintes, temos que deixar afiadas as nossas formações fixas e habilidades individuais. O trabalho com a eficiência na limpeza dos rucks será fundamental também para surpreender Chile e o Uruguai no final do mês!

 

7 – Pessoalmente, como você avalia seu próprio desempenho com a seleção? Quais as suas metas pessoais dentro do grupo?

 Cresci bastante com as últimas três partidas. Fiquei contente com minha condição física, com a condução dos jogos em que mantivemos bem a posse de bola e com a minha cobertura defensiva nos momentos de pressão do adversário.

Em conversa com o grupo no começo do ano, fizemos um pacto e cada um falou da sua contribuição para o time nesse ano de metas ambiciosas. Me propus a chegar a um nível que nenhum deles tinha me visto jogar ainda. Fisicamente nunca estive tão bem. Minha ambição é ser o melhor scrum-half para em menos de um mês ganhar do Chile e do Uruguai nas Eliminatórias.

Obrigado pelo espaço, um abraço a todos os amantes da ovalada!

 Foto: Andresa Sosa

torosso