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ARTIGO OPINATIVO -Hora de um olhar sobre a segunda rodada do Six Nations, com nosso comentarista Francisco Isaac.
Mais uma jornada das Seis Nações 2020, com a Itália a surpreender em Paris a nível da qualidade exibicional (Jake Polledri foi uma das sensações do jogo, com quase três dezenas de placagens) e a Irlanda a conquistar o 1º lugar da classificação depois de realizar uma exibição compacta em Dublin. Mas e quem foram os grandes destaques desta 2ª ronda?
Estas são as nossas três picks, notando que dois são repetentes da ronda 1 desta edição da prova mais antiga de selecções do Mundo!
JORDAN LARMOUR (IRLANDA)
Larmour a continuar neste ritmo nos próximos anos e facilmente vai ganhar lugar na galeria de maiores jogadores da Irlanda do século XXI. Exagero? Não, nenhum. O defesa é simplesmente um autêntico papa-léguas munido de uma vibrante qualidade técnica que mete os seus potenciais placadores a duvidar de como abordá-lo na placagem, pois muda facilmente a linha de corrida que é ainda mesclada com uma troca de pés indevida para os adversários. Contra o País de Gales foi um dos abre-latas do XV de Andy Farrell, montando uma exibição recheada de quebras-de-linha (4), metros devorados (103 com a bola nas mãos e 120 ao pé), defesas batidos (3) e que culminou com um ensaio (Larmour carregou três placadores até à linha de ensaio) e uma assistência para o ensaio de Andrew Conway.
Para os galeses foi extremamente delicado tentar bloquear o caminho do nº15 irlandês, já que uma defesa altamente subida permitia às linhas atrasadas irlandesas apostar num passe mais atrasado ou em pontapés mais difíceis de lidar para Leigh Halfpenny e uma defesa expectante permitia a Larmour iniciar o seu processo de aceleração virtuoso que significava a criação de desequilíbrios e ascendente atacante para a Irlanda.
Ter Larmour a ocupar o lugar de defesa oferece um Mundo de possibilidades e oportunidades à Irlanda e a vitória ante os campeões das Seis Nações 2019 mostrou essa vantagem. Nesta edição soma quase 300 metros e uma dezena de quebras-de-linha sendo o jogador com melhores números no ataque.
MARO ITOJE (INGLATERRA)
Nos momentos mais difíceis surgem os grandes jogadores… em Paris, Maro Itoje foi um dos poucos ingleses a tentar efectivamente a equilibrar o tabuleiro de jogo, mas a dessincronização foi tão efectiva que ninguém pôde sair do primeiro jogo com sentimento de um bom trabalho realizado. Na Escócia, no meio de uma tempestade que impossibilitou haver um rugby mais positivo e contínuo, o 2ª linha acabou por ser decisivo no factor defensivo com 23 placagens (97% eficácia), 2 turnovers no breakdown e mais 2 nos alinhamentos, para além de três penalidades conquistadas, sendo um constante empecilho nos mauls da Escócia onde ia furando e criando as devidas brechas para desmontar legalmente o comboio escocês.
A entrega, a fisicalidade que aplica na placagem, a agressividade nas fases estáticas, a leitura de como o portador de bola vai entrar no contacto e o calcular do timing de ataque ao breakdown, foram inegavelmente pormenores essenciais para a Inglaterra sobreviver aos maiores momentos de pressão da Escócia, como de galvanização no ataque onde foi um dos elementos que deu um valente empurrão Ellis Genge para o pilar marcar o ensaio que selou a vitória de Sua Majestade na Cacultta Cup 2020.
É neste momento um dos líderes da Inglaterra, tendo um peso monstruoso na atitude mental e na expressão da fisicalidade do elenco de Eddie Jones, e quando não está no seu melhor tudo começa a ruir no bloco de avançados, especialmente se Mako e Billy Vunipola estão ausentes.
GRÉGORY ALLDRITT (FRANÇA)
Mon Dieu… Oú la la… C’est trés formidable… estas foram algumas das expressões ouvidas pelos milhares de adeptos que afluíram ao Stade de France depois de assistirem a não só mais uma boa exibição da França como de uma extraordinária prestação do nº8 Grégory Alldritt nestas Seis Nações 2020. O 3ª linha centro é um atleta que parece não dar nas vistas num primeiro momento, apesar de aparentar uma dimensão física de respeito (1,91 e 115 kilos para os interessados)… contudo, mal se dá o apito inicial e temos o show Alldritt no seu esplendor máximo.
Na recepção dos Les Bleus à Itália, o homem que comanda os avançados (a par de Charles Ollivon) foi um problema contínuo para a defesa Azzurri, entrando com excelência no contacto onde ganha metros e a linha-de-vantagem de forma constante, surpreendendo a defesa contrária quando atira um offload algo inesperado e que abre assim um canal de ataque excepcional. Se não contarmos com o segundo ensaio marcado nestas Seis Nações 2020, é olhar para os metros somados que rondaram um total de 130 em 20 portagens de bola (por 14 vezes ultrapassou a linha de defensiva), tendo sido o jogador com mais distância percorrida com a oval em seu poder neste encontro frente à selecção italiana.
A mestria em redor do breakdown foi outro dos apontamentos em que o 8 dominou por completo durante todo o encontro, conquistando três turnovers (um “roubo” feito no alinhamento que levantou as bancadas) para além de ter somado 18 placagens, tendo sido o número 1 no lado francês neste aspecto, entre outros pormenores que lhe possibilitaram levantar o prémio de MVP de melhor em campo.
Quem consegue parar Alldritt nestas Seis Nações?