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ARTIGO OPINATIVO – Depois de várias dúvidas, questões, apocalipses anunciados e de críticas especualtivas, os Lions entraram em campo para mais dois encontros nesta tour à terra dos Springboks em 2021, com duas vitórias frente aos Cell-C Sharks que marcaram o retorno de Owen Farrell à posição de abertura, à excelente exibição de Elliot Daly como 2º centro e a uma guerra total e positiva entre os pontas.
A NOTÍCIA DE ABERTURA: MARCUS SMITH ENTRA NA REFREGA!
É sem dúvida a maior surpresa de todas – depois de várias na primeira convocatória -, esta inclusão de Marcus Smith no grupo dos British and Irish Lions 2021, tendo o médio-de-abertura da Inglaterra sido chamado ao tour devido a uma lesão minimamente grave de Finn Russell (rasgou ligeiramente o tendão de Aquiles, podendo ainda recuperar a tempo do 2º encontro frente aos Springboks), o que coroa uma excelente e estupenda temporada do explosivo e artístico jogador dos Harlequins. O internacional inglês soube da novidade só depois de terminado o encontro frente ao Canadá, recebendo a notícia quando se dirigia para a entrevista pós-jogo, isto depois de ter realizado mais uma exibição de excelência no qual até foi nomeado Man of The Match.
O que adiciona Marcus Smith ao cortejo dos Lions? Os mesmos elementos técnicos e tácticos de Finn Russell, sem ser de um nível tão “constante”, para além de ainda não ter um jogo ao pé táctico no mesmo patamar do seu agora colega escocês, algo normal quando falamos de um atleta de apenas 22 anos de idade. O 10 dos Harlequins é todo ele um “pólo” de magia e imprevisibilidade no ataque, com uma versatilidade para surgir em diferentes espaços e secções do terreno de jogo, alterando posicionamentos tácticos, forçando erros de leitura defensiva ao adversário e capaz de alimentar a sua equipa com uma panóplia de passes de uma qualidade vertiginosa. Não é, ainda, um atleta terminado ou totalmente polido, considerando que na competência defensiva precisa de desenvolver outra dureza ou, pelo menos, uma solidez maior que lhe impeça de ser visto como um potencial bom alvo para o ataque adversário, apesar de apresentar uma boa placagem, seja na técnica ou atitude (a colocação em campo nos trabalhos defensivos é algo a melhorar), mas pode mudar a direcção de jogo num estalar de dedos.
De qualquer forma, Warren Gatland continua a insistir na ideia que procura artimanhas técnicas diferentes, unidades da linha de 3/4’s polivalentes e capazes de transformar um encontro físico em algo mais excêntrico tecnicamente falando, deixando para trás Callum Sheedy, Jonathan Sexton ou Jacob Umaga (ultrapassado agora por Marcus Smith na selecção inglesa).
A ANÁLISE AO(S) JOGO(S): SHARKS AO TAPETE MAS COM UM AVISO À MISTURA
Depois de algum caos nesta 3ª semana de preparação para os test matches frente aos Springboks (que também sofreram com a situação do SARS-CoV-2, com 5 jogadores isolados até dia 18 de Julho), em que o fantasma do cancelamento foi, para já, posto de lado, os Lions tiveram dois encontros frente aos Cell-C Sharks, sendo que o 2º embate ante a franquia oriunda de Durban adveio do adiamento do jogo frente aos Vodacom Bulls, também vítimas da pandemia.
Se no 1º jogo foi um festim de ensaios, em que Josh Adams marcou um hattrick, e que já vai em 8 ensaios nesta tour de 2021, com a equipa sul-africana a ficar algo mal vista na defesa ao largo e no conseguir impor dificuldades aos Lions nas componentes mais aceleradas ou explosivas, o segundo embate já merece uma análise mais concreta e profunda, pois nos primeiros 40 minutos tivemos um resultado extremamente dividido, com um empate a 26 pontos a registar-se ao intervalo.
A introdução de Lionel Cronjé no setup desta mítica equipa da África do Sul, em detrimento de Curwin Bosch (exibição mediana no jogo 1, com diversos erros defensivos e de placagem) trouxe outra letalidade na gestão de bola e no liderar na execução da estratégia, impondo uma exigência maior aos seus colegas e um nível de concentração amplamente superior, que acabou por oferecer tudo aquilo que Warren Gatland queria: competitividade. Os Lions mesmo sem terem perdido qualquer formação-ordenada, sentiram algumas dificuldades neste espaço, pois não conseguiram ganhar qualquer vantagem territorial ou mental ao bloco opositor, deixando assim alguma necessidade de reflexão e entendimento que o staff técnico britânico-irlandês precisa de fazer nas próximas semanas, lembrando que uma das forças-supremas dos Springboks advém das fases-estáticas, castigando os seus rivais quer seja aí, no maul dinâmico ou nos alinhamentos.
De qualquer forma, no 1º jogo frente aos Sharks é preciso evidenciar dois jogadores: Owen Farrell e Elliot Daly. O capitão da Inglaterra actuou como abertura, comandando os seus 14 colegas no sentido de manterem um nível de competência alto, actuando como um gestor táctico e supervisor de como contra-atacar os Sharks, sempre com o pé no acelerador de forma a impedir qualquer “relaxe” dos Lions, sem nunca precisar de ser ele o principal motor a nível do desequilíbrio técnico. Já Elliot Daly assumiu o papel de centro dominador no aspecto defensivo, enriquecido por um poder de contra-ataque extremamente ardiloso e que acabou por resultar em três assistências directas para ensaio, abrindo ainda outras quatro quebras-de-linha aproveitadas por colegas de equipa (duas de Duhan van der Merwe, que entendeu-se às maravilhas com o inglês), lutando assim por conquistar o lugar de 2º centro.
Do 2º encontro já falámos da primeira-parte, não valendo a pena aprofundar os momentos da segunda metade do encontro, pois o cartão vermelho de Jaden Hendrikse estragou completamente um embate a todos os níveis tremendo, passando de 26-26 para 31-71, naquilo que acabou por ser um resultado justo mas por números inflacionados. Nota para uma prestação memorável de Anthony Watson com 6 quebras-de-linha, 7 defesas batidos, 4 tackle busts, 5 pontapés seguros no ar, dois ensaios e 100 metros de conquista, estando na luta por um lugar nos três-de-trás.
O ALERTA: MAIS ALTERAÇÕES DE CALENDÁRIO PODEM ACONTECER
A África do Sul já retornou aos treinos, depois de 5 dias sem poder treinar devido a alguns casos positivos do vírus SARS-CoV-2, o que lançou um pânico profundamente exagerado se a tour ia ou não sobreviver a esta e outras situações. Felizmente, a última bateria de exames desbloqueou 90% do certame de Jacques Nienaber e Rassie Erasmus, preparando agora aquele que virá a ser o primeiro embate realista entre os atletas do elenco da África do Sul e os British and Irish Lions, marcado para esta quarta-feira, dia 14 de Julho, opondo os britânicos-irlandeses frente à South Africa “A”, ou seja, a equipa secundária dos Springboks.
Contudo, a palavra “secundária” poderá acabar por perder essa cor, já que alguns nomes de maior dimensão poderão vir a estar incluídos no XV inicial, casos de Makazole Mapimpi, Cheslin Kolbe, Handré Pollard, Jasper Wiese, Malcolm Marx, Kwagga Smith, Herschel Jantjies (e mesmo Faf de Klerk), elevando o nível de intensidade deste encontro para um de quase excelência.
Porém, e apesar das excelentes notícias, há que ter em alerta a seguinte situação: mudança de dias de jogo. Existe a possibilidade dos DHL Stormers ficarem com o lugar da South Africa “A” na quarta-feira, com esta equipa B dos Springboks a ocuparem a vaga do próximo sábado, de modo a preparem melhor aquele que será o primeiro teste realista frente aos Lions, ou, pelo menos, aquele em que vários jogadores campeões do Mundo pela África do Sul vão sentir o peso de jogar contra a camisola escarlate-encarnada.
O duelo frente aos Vodacom Bulls ainda pode ter lugar, uns dias antes do 1º test match contra os Springboks, estando tudo dependente dos próximos testes ao Covid-19 e da disponibilidade da equipa técnica de Warren Gatland em arriscar jogar algumas peças importantes…
OS STATS QUE NOS INTERESSAM
Maior marcador de pontos: Duhan Van der Merwe – 20 pontos (4 ensaios)
Maior marcador de ensaios: Duhan Van der Merwe – 4 ensaios
Jogador com melhor dados no(s) jogo(s): Josh Adamas – 3 ensaios, 160 metros conquistados, 6 quebras-de-linha, 9 defesas batidos
Lesão preocupante: Finn Rusell – 3-4 semanas
Jogador que surpreendeu: Owen Farrell – na luta por um lugar a centro ou abertura, o inglês mostrou que nem sempre é preciso ser um mágico com a bola nas mãos para ser visto como um dos melhores dentro de campo