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ARTIGO OPINATIVO – A coluna “Voz do Rugby” é nossa coluna aberta a todos os interessados em darem opinião sobre nosso esporte. A vez hoje é do advogado e rugbier Fábio Mariz.

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Voltando 2082 anos, Júlio Cesar, Ditador Romano, nos ensinou que “à mulher de César não basta ser honesta, precisa parecer honesta”! Ele se referia a imagem que sua esposa, Pompeia, passaria a ter após a noticia de que um homem havia invadido uma festa, apenas para mulheres, em seu castelo.

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Por mais honesta que fosse, bastaria apenas a duvida, para macular sua imagem! Eis que Cesar assim termina por se separar de Pompéia.

Parece que hoje vivemos uma inversão nos papéis, sinais dos novos tempos, buscamos em todos os lugares não só a imagem de honestidade e a pecha de bom moço, exige-se a pratica cotidiana da honestidade, inclusive no campo desportivo, tema deste artigo.

A casca fina de um ovo aparentemente honesto sempre acaba se quebrando. O Saracens foi o primeiro, no Rugby, a se tornar um ovo podre!

Importante afirmar que, a desonestidade assinalada neste artigo não implica, obrigatoriamente, em apontar ilicitudes nas ações. Devemos nos ater, e exigir, pelo menos a honestidade ética e moral, além de atos que corroborem as palavras, e não apenas discursos vazios de atitudes.

O clube inglês Saracens, fundado em 1876, é considerado um dos maiores do mundo. Na última década eles ganharam 5 títulos nacionais (sendo os atuais bicampeões), 3 títulos europeus (atual campeão), além de ser a base da seleção inglesa (atual vice campeã mundial e que contou na final com 8 jogadores do Saracens).

Sempre foi visto como um clube exemplo, inclusive revelando grandes nomes do Rugby mundial, como Owen Farrel e Maro Itoje. Entretanto a falta de ética em sua administração e a ausência de comprometimento nos deveres legais lhes fez ser rebaixados para a segunda divisão inglesa.

Após descumprir por três anos seguidos a regra que limitava à 7 milhões de libras a folha de pagamento de todos os times do campeonato inglês, tentando maquiar seus vencimentos e interpondo empresa para aumentar os repasses de alguns atletas, foram penalizados da forma mais gravosa possível, o rebaixamento.

Destes fatos devemos levar como lição e entende-los como um aviso aos que se auto intitulam probos, transparentes e democráticos.

A honestidade deve ser verdadeira e genuína, não adiantando apenas parecer ser honesto!

Os sinais de uma administração ineficaz, violadora de princípios legais, são aparentes e sempre pré-anunciados! O Saracens demorou muitos anos para decidir seguir pelo caminho da ética, aquele que cumpre à risca os acordos e determinações, e terão que se reinventar para continuar a trilhar uma bonita história.

O próprio Saracens, em seu site, ao se manifestar sobre a punição demonstrou que dará uma guinada de administração, evitando novos erros como o aqui analisado.

Afirmou: “Nosso objetivo é recuperar a confiança. O primeiro passo foi nomear um novo presidente independente para liderar a reforma de governança, garantindo que erros do passado não sejam replicados no futuro”.

A insistência nos erros na condução das entidades, protegidos pela casca de um ovo de honestidade, deverá ser revista. Esta lição deve ser aprendida aqui no Brasil, por todos os clubes, federações e confederações de todos os esportes.

Não queiram seguir apenas com a fama de parecerem honestos, SEJAM honestos.

O Saracens foi a prova viva que se pode ter um excelente projeto com muito dinheiro, mas se o mesmo for mal administrado se tornará um mau projeto! Simples!

Devemos plantar arvores que resistam ao tempo, tal como os frondosos cedros do Líbano, com raízes fortes e espraiadas e cuja sombra as gerações futuras irão usufruir

Saracens, sentimos pelo rebaixamento, mas obrigado por nos dar este exemplo tão importante que todos os diretores deverão ver, aprender e corrigir em suas entidades!

Escrito por: Fábio Mariz