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Hora de agitar nossas colunas opinativas com um artigo de Diego Gutierrez sobre a produção de talentos para os Tupis. Concorda? Discorda? Comente!
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O desenvolvimento das categorias de base é um assunto constante em todos os esportes brasileiros, do futebol ao tênis existe a preocupação com o não aproveitamento do nosso enorme potencial humano. No rugby não é diferente e quem anda pelos terceiros tempos escutou discussões sobre a viabilidade do projeto CBRu, sobre a destruição das nossas categorias de base e como os grandes clubes acabam por predar os menores sem contribuir com o futuro do esporte. O que levanta uma questão importante: quem formou os nossos jogadores?
A seleção brasileira conquistou uma série de resultados históricos nos últimos anos, bateu uma seleção europeia pela primeira vez, venceu o Chile fora de casa, venceu a Argentina depois de superar uma diferença de 33 pontos no placar, ergueu a taça de campeã sul-americana pela primeira vez e se prepara para enfrentar o Maori All Blacks em novembro. A CBRu está sempre pronta para falar da qualidade do seu trabalho, com méritos, mas essa coluna busca descobrir os grandes responsáveis pela existência dessa geração: os clubes que dedicaram recursos, humanos e financeiros, para encontrar esses garotos, foram nas escolas, conversaram com os pais, levantaram cedo no fim de semana levar um grupo de vinte adolescentes para um campo distante, a maioria das vezes pelo simples amor ao rugby sem receber nada em troca. E saber também se esses clubes continuam a usufruir da qualidade desses garotos que cresceram para se tornarem jogadores espetaculares.
Como base para a coluna analisamos a formação dos 26 atletas convocados para gira europeia e o clube que atuam hoje.
Jogador | Clube de origem | Clube atual |
Caíque Silva | Exterior (Argentina) |
São José |
Lucas Abud | Jequitibá | Poli |
David Páscoa | Nova Lima | BH Rugby |
Yan Rosetti | Exterior (Argentina) |
CUBA (Argentina) |
Jardel Vetoratto | Universitário Santa Maria | Farrapos |
Matheus “Blade” Rocha | Planalto | Jacareí |
Wilton “Nelson” Rebolo | Mastodontes Catanduva | Bandeirantes |
Lucas “Bruxinho” Piero | Desterro | Desterro |
Gabriel Paganini | Bandeirantes | Bandeirantes |
Luiz “Monstro” Vieira | São José | Tyrosse (França) |
Cleber Dias | Volta Redonda | Poli |
Arthur Bergo | SPAC | SPAC |
Michael “Ilha” Moraes | Ilhabela | Curitiba |
André “Buda”Arruda | Cuiabá | Desterro |
Matheus Claudio | Jacareí | Jacareí |
Daniel “Maranhão” Silva | Rio Branco | Poli |
Lucas Duque | São José | São José |
Josh Reeves | Exterior (Nova Zelândia) |
Bandeirantes |
Moises Duque | São José | São José |
Valentin Garcia | Exterior (França) |
Poli |
Felipe Sancery | Exterior (França) |
São José |
Robert Silva | Rugby Para Todos | Pasteur |
Jacobus De Wet | Exterior (África do Sul) |
Poli |
Stefano Giantorno | Exterior (Argentina) |
São José |
Daniel Sancery | Exterior (França) |
São José |
Lucaz “Zé” Tranquez | SPAC | Poli |
Ao analisarmos a tabela percebemos que essa não é uma seleção totalmente brasileira. Apesar dos esforços nas ultimas décadas o maior formador de atletas do Brasil continua a ser o exterior, contribuindo com 8 dos 26 convocados, Yan Rosseti, Caíque silva, Josh Reeves, Valentin Garcia, De Wet, Stefano Giantorno e os irmãos Sancery, aprenderam a jogar em outros países e chegaram no país já adultos, quase sempre contratados pela CBRu. As equipes menores também fazem sua parte e mesmo com recursos escasso e em condições adversas conseguiram contribuir com 9 jogadores para a seleção. Nelson Rebolo, Lucas Abud, Jardel Vetoratto, Cleber Dias, Michael “Ilha” Moraes, David Páscoa, André “Buda”Arruda, vem de equipes pequenas, desconhecidas para a maior parte do público.
A pergunta que fica é onde estão as equipes de ponta do Brasil, as que participaram do Super 8 de 2016 ou de 2017 (Farrapos, Desterro, Curitiba, Bandeirantes, Poli, SPAC, Pasteur, São José e Jacareí) e onde jogam todos os jogadores da seleção, com a exceção de três atletas – Yan Rosetti, que joga na Argentina, Monstro, que atua na França, e David Páscoa, do BH). Apesar de dominarem o rugby brasileiro, esses clubes não são necessariamente os que revelam os Tupis, contribuindo com apenas 9 jogadores. O Vale do Paraíba justifica a fama de melhor categoria de base do país, contribuindo com 5 (3 do São José e 1 do Jacareí), enquanto o resto fica dividido com 2 do SPAC, 1 do Bandeirantes e 1 do Desterro, o que deixa de fora bons projetos de base importantes, como Curitiba, Farrapos e Pasteur.
Quanto aos clubes em que os atletas atual hoje o cenário é completamente diferente, o São José entra com 6 jogadores (2 formados no clube e 4 estrangeiros), assim como a Poli que apesar de não ter formado nenhum atleta tem 6 selecionados em seu plantel (3 estrangeiros e 3 brasileiros). O Bandeirantes fica com a terceira posição com 3 jogadores (sendo 1 formado no clube), o Jacareí entra com 2 (um prata da casa), assim como o Desterro (1 formado no clube e 1 oriundo do Mato Grosso) e depois BH, SPAC, Pasteur e Farrapos com 1 cada um.
O objetivo dessa coluna não é apontar culpados ou alguma solução mirabolante, mas colocar para os poucos leitores que chegaram até esse ponto algumas questões que podem ser importantes para o crescimento do esporte no longo prazo. A vinda de atletas do exterior é fundamental para melhorar o nosso rugby, trazendo experiência e aumentando a qualidade dos campeonatos nacionais, mas na prática esses jogadores, os 8 convocados e os que ficaram de fora, estão divididos em três equipes (São José, Poli e Bandeirantes). Não seria melhor uma distribuição mais equitativa, para que eles possam dividir seu conhecimento com mais atletas e termos jogos mais equilibrados?
São Paulo possui o NAR, capital econômico, e disparado o maior número de atletas registrados, mas forma pouco: só 5 vieram de dentro da cidade, sendo apenas 3 deles dos clubes do Super 8. Por que a força de São Paulo não se reflete nos atletas de alto rendimento, o que falta para a capital paulista se tornar nas categorias de base à potência que é no rugby adulto?
O trabalho feito nos clubes pequenos é impressionante: sem estrutura, sem lei de incentivo ou apoio institucional o esforço de alguns abnegados espalhados pelo Brasil gera frutos não sendo possível formar a seleção sem esses atletas, não seria hora da CBRu pensar em uma maneira de recompensar essas equipes, uma forma de garantir que elas consigam algum retorno pelo seu esforço e não apenas vejam seus melhores atletas mudando para São Paulo jogar o pelos times do Super 8, algumas vezes antes mesmo de chegarem no adulto?