Tempo de leitura: 3 minutos
A CBRu completa 9 anos de existência em 2018.
9 ANOS.
Período em que colecionou mais vitórias fora de campo (“governança”, respeito da World Rugby, milhões em patrocínio, profissionalização da gestão e do alto rendimento, mais visibilidade midiática) do que dentro de campo (bronze no Pan das Yaras, XV masculino na briga pelo posto de terceira força do continente são os mais relevantes que me veem à mente), onde não tem amigo diretor de estatal ou multinacional ajudando com verba, e sim alguém lutando contra você pelo mesmo objetivo, a vitória.
Mas dois fracassos recentes certamente ecoaram forte no planejamento da entidade, que contava com a classificação para os Jogos Mundiais da Juventude e o Troféu Mundial, duas metas relacionadas às categorias de base (fora tornar a seleção feminina entre o Top 10 Mundial, Jogar o Mundial de 2019, que nunca chegaram perto de serem cumpridas).
Mas a pergunta da vez é? O que foi feito pela base em 9 anos que justifique colocar tais metas em seus planos?
Muito pouco. Um torneio juvenil já existia antes da CBRu, acontecendo em paralelo ao Super 8 adulto, e o Brasileiro Juvenil de seleções pouco aportou no XV ou no Seven a side, e além do formato de XV ter sido extinto em 2015, o Seven apenas se mostrou forte onde a responsabilidade pelo desenvolvimento é dos clubes que mantém seu trabalho a duras penas.
A internalização de atletas de base no sistema de alto rendimento apenas afastou a possibilidade de replicar o conhecimento adquirido aos clubes, uma vez que passam a se dedicar-se exclusivamente à seleção, perdendo a chance de retribuir e passar adiante o exemplo aos mais novos, a fixar os mais falados que praticados VALORES DO RUGBY, e criar ídolos internos, alguém que inspire a próxima geração.
Nos dois jogos do Brasil contra Chile e Paraguai, vimos situações de jogo em que os atletas falharam na tomada de decisões, e isso só se aprende com jogo, jogo e jogo. Nenhum centro de alto rendimento ou academia vai resolver isso. Atletas de laboratório não ganham jogos. E segundo relatório emitido pela CBRu essa semana, a tendência é reforçar essa aposta.
Me pergunto onde o Brasil teria chego se tivesse havido investimento num M9, M11, M13, M15 naquela época, junto de quem fomenta essas categorias, os clubes. É a geração que está em campo hoje. Certamente não estaríamos levantando um título mundial, mas estaríamos mais perto do que estamos hoje. Os Yacarés poderiam ser uma vaga lembrança e os Condoritos apenas uma partida difícil. Talvez teríamos até os 60mil jogadores que a CBRu alega ter. O talento que foi trabalhado tardiamente, está aí para provar.
A CBRu vende para o mercado cultura empresarial e planejamento de longo prazo, mas entrega para o Rugby imediatismo e equívocos.
Não há no mundo um país que tenha chegado à elite sem trabalho de base e investir nos valores do esporte (sem ficar somente no discurso). No jargão corporativo isso se chama Melhores Práticas. Se alguém já fez e deu certo, convém seguir o caminho que deu certo, e não seguir apostando no erro.
Coisa de fazer qualquer CEO de multinacional corar.
Reconhecer que errou e alterar o curso de ação, é a melhor decisão.
E só para não esquecer (os negritos forma adicionados por mim):
Desenvolvimento das bases do Rugby no Brasil: atletas infanto-juvenis, estrutura de clubes, capacitação de coaches infanto-juvenis;
Criar bases sólidas para o desenvolvimento sustentável do rugby em todo o território nacional e em todos os níveis, com ênfase na disseminação do rugby infantil e juvenil e na capacitação de profissionais que garantam o melhor desenvolvimento do esporte no país;
Desenvolvimento de uma estrutura de competições sólida e apropriada para a prática recreativa do Rugby, além da prática de Alto Rendimento;
Não são meus devaneios utópicos, mas algumas das metas da CBRu publicadas em seu portal. Como vão alcançar? Não sei, seu mapa estratégico até 2017-2023 está “em construção” mesmo dois anos após o período.
Como recordei em meu último artigo, a CBRu tenta correr atrás do prejuízo procurando auxiliar o desenvolvimento do M18 feminino. Certamente não será com a cobrança de até R$20mil de inscrição de cada clube das divisões nacionais (chegando até a R$40mil em 2020 e exclusão de clube que não cumpra as regras). Mas isso será tema para outro Tackle Alto, se eles não descerem do salto e procurarem entender de verdade o país que dizem gerir até lá.
Vocês do Portal estão sempre relembrando a base como forma de estruturar e aprofundar o plantel. Me estranha que o pessoa técnico da CBRu não o saiba (já que eles são 2/3 estrangeiros, correto?).
Sem cultura de clube (e pode ser público, SESC, whatever), política de esporte, sobretudo para modalidade coletiva, não fica em pé. E isso é o contrário do que o Victor disse sobre a liga profissional e a ideia de pirâmide: para um esporte com menos penetração do que o vôlei, imagina quanto público haverá para jogadores que estão ainda longe de serem campeões mundiais?