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ARTIGO OPINATIVO – A pergunta está circulando pela internet, com algumas falsas notícias aparecendo com a afirmação de que o Comitê Olímpico Internacional já teria confirmado o adiamento dos jogos de Tóquio 2020. Isso ainda não ocorreu oficialmente, mas o COI já afirma que considera a possibilidade, estipulando um prazo de 4 semanas para tomar a decisão definitiva.
NOTA OFICIAL – 21/03/2020
COB defende adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio em um ano.
?Ana Patrícia/Exemplus/COB pic.twitter.com/Qex5R8S9DT
— Time Brasil (@timebrasil) March 21, 2020
Os Jogos Olímpicos deveriam ocorrer no Japão entre os dias 24 de julho e 09 de agosto. E tudo leva a crer que o adiamento ocorrerá de fato. Isso porque comitês olímpicos nacionais já começaram a se mobilizar. O Canadá foi o primeiro, declarando que seus atletas não participarão caso o evento seja mantido na data original. O mesmo ocorreu do lado da Austrália, na sequência. Os dois países, aliás, já estão classificados para o rugby sevens, tanto no feminino (do qual são favoritos a medalhas) como no masculino. O próprio Comitê Olímpico do Brasil também manifestou sua preocupação.
RELEASE: The Canadian Olympic Committee and Canadian Paralympic Committee have made the difficult decision to not send Canadian teams to the Olympic and Paralympic Games in the summer of 2020: https://t.co/HyOBA5wwp4 pic.twitter.com/x9OWABVxMA
— Team Canada PR (@TeamCanadaPR) March 23, 2020
AOC CEO Matt Carroll to address the media this afternoon on today’s advice that the AOC cannot assemble a Team for #Tokyo2020
When: 3.30pm Monday 23rd March, 2020
Where: Grassed area in front of Museum of Contemporary Art
Who: Matt Carroll, AOC CEO#TokyoTogether pic.twitter.com/eee5vza3aG
— AUS Olympic Team (@AUSOlympicTeam) March 23, 2020
Com isso, a tendência é que a situação se torne incontornável para o COI e, pela primeira vez na história, os Jogos Olímpicos poderão ser disputados num ano ímpar, 2021.
Jamais os Jogos Olímpicos tiveram que ser adiados. Eles já foram, é verdade, cancelados por conta de guerras: em 1916 Berlim (Alemanha) deixou de receber os Jogos Olímpicos, por conta da Primeira Guerra Mundial, ao passo que em 1940 ironicamente Tóquio (Japão) não sediou o evento por conta da Segunda Guerra Mundial (o evento ainda chegou a ser relocado para Helsinque, na Finlândia, sendo depois cancelado de vez). Londres (Inglaterra) ainda deveria ter recebido os Jogos Olímpicos de 1944, mas, também pela Segunda Guerra Mundial, o evento não ocorreu e os ingleses receberam a edição de 1948.
Desde o fim da guerra, os Jogos Olímpicos passaram por imensos desafios, como as séries de boicotes aos Jogos de 1980, em Moscou (União Soviética), e de 1984, em Los Angeles (Estados Unidos), no contexto da Guerra Fria. No entanto, ambos foram adiante, ainda que desfalcados.
A novidade agora é uma crise de uma pandemia afetando o evento. Em 1920, os Jogos Olímpicos foram realizados em Antuérpia, na Bélgica, em meio ao fim da crise da Gripe Espanhola, que matara milhões de pessoas no mundo entre 1918 e 1920, tendo eclodio na fase final da Primeira Guerra Mundial.
Quais as dificuldades para se adiar os Jogos Olímpicos?
A realidade do esporte mundial profissional hoje é totalmente diferente daquela vivida na primeira metade do século XX. Hoje, o calendário esportivo é absolutamente congestionado, com atletas contratados por clubes ou com compromissos comerciais com patrocinadores e eventos na casa dos milhões de dólares. Além disso, os Jogos Olímpicos envolvem esportes de 33 federações diferentes.
Ou seja, os Jogos Olímpicos são, de fato, o evento esportivo mais complicado de ser remanejado, porque as datas são cuidadosamente negociadas para não conflitarem com as competições de mais de 30 esportes – cada um deles com eventos internacionais e nacionais das mais variadas naturezas, de Mundiais e torneios continentais e ligas e circuitos profissionais. O conflito dos calendários já ocorre com alguns esportes não tratando os Jogos Olímpicos com a devida relevância – os exemplos do golfe e do futebol são os mais notáveis.
Não é por acaso a relutância – e o pânico – do COI diante da possibilidade de remarcação. Será, certamente, um inferno ele ter que encontrar novas datas em 2021 – ano que estará certamente congestionado por conta dos adiamentos de outras tantas competições já causados pelo COVID-19. Caso do futebol, que adiou para 2021 torneios como a Euro e a Copa América. O problema é maior do que a liberação de atletas – é também a competição pela atenção dos fãs.
Para amenizar, no entanto, 2021 é o ano com menos “Mundiais” quadrienais ou bienais (as “Copas do Mundo” de cada esporte). A maioria dos esportes têm seus em 2022 ou 2023. A maioria, mas não é o caso de todos. O handebol e a ginástica, por exemplo, estão entre os esportes com suas principais competições ocorrendo em 2021 – teoricamente.
E o rugby?
O rugby sevens masculino não terá maiores problemas com a mudança dos Jogos Olímpicos para 2021. Os elencos do sevens são especializados e não dependem de atletas do XV. O evento que poderá concorrer por atenção dos fãs do rugby é o tour dos British and Irish Lions à África do Sul, marcado justamente para a virada de julho para agosto (período cogitado para os Jogos Olímpicos). Porém, a diferença de fuso horário da África do Sul para o Japão provavelmente será suficiente para permitir que os fãs possam assistir a ambos sem prejuízo maior.
Por outro lado, o rugby feminino será um pouco mais (mas não totalmente) prejudicado. Em setembro de 2021 a Nova Zelândia será o palco para a Copa do Mundo de Rugby XV feminino, que certamente faria uso de atletas de destaque do sevens. Caso os Jogos Olímpicos ocorram na virada de julho para agosto, as atletas ainda terão tempo para a transição de uma modalidade para a outra. No entanto, o processo de preparação envolverá mais pressão do que o normal.