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ARTIGO OPINATIVO – O óbvio aconteceu no rugby brasileiro: nosso campeonato nacional não terá 16 equipes. A decisão de se expandir o torneio para 16 times em 2018 (tomada em 2017) fora feita com boas intenções, buscando uma regionalização que tornaria o campeonato menos custoso, e, claro, foi aprovada pelos clubes. Mas desde aquele momento já estava anunciado que o torneio não daria certo. E não deu.
Alertamos naquele mesmo ano – e no ano seguinte – sobre nosso rugby de clubes não estar preparado para tal expansão – e desde então, ao invés de mais clubes cresceram, assistimos ao extremo oposto: clubes e mais clubes declinando. Em 2019, não só a 1ª divisão foi reduzida para 13 times, como a segunda divisão – a Taça Tupi até o momento só tem 3 clubes confirmados (Joaca, BH e Rio Branco). Mais que isso, mesmo na primeira divisão vemos clubes tradicionais como SPAC e Band Saracens mais fracos hoje do que em 2017. Tal declínio já estava sendo sentido nos estados abandonados pelo sistema, mas agora chegou de vez para dentro do sistema.
Já em 2017, Poli e Jacareí sugeriram que um Super 12 fosse formado, ao invés de um Super 16, mas o número de 16 times foi favorecido. O modelo teria grandes vantagens como um primeiro passo de regionalização, sem jogar fora por completo o nível da competição. Em 2018, o Super 16 produziu placares elásticos, que naquela altura inclusive foram tratados como um passo para o desenvolvimento por muita gente, inclusive na liderança da CBRu. Mas o passo não foi para o desenvolvimento, e sim para o colapso do modelo de competições. Naquele mesmo ano, o caos do regulamento do campeonato (lembra?) expôs que a própria CBRu se complicara na construção do modelo e os clubes envolvidos sequer haviam lido com atenção o regulamento. A tragédia era anunciada.
Ainda em 2017, publicamos um artigo abordando a questão das regionalizações e uma das ideias colocadas foi a de se realizar em paralelo os campeonatos nacionais e regionais, para permitir melhor calendário aos clubes menores. Parecia óbvio naquele momento, mas só agora a ideia foi entendida e proposta para 2020.
Nesse momento, é importante entender que o departamento de torneios da CBRu estava enxuto, com a política financeira da entidade sacrificando perigosamente seu staff. Certamente a decisão de reduzir o corpo administrativo e abarrotar o restante teria – e tem – reflexos muito ruins. Não é possível fazer o rugby crescer sem mãos e estímulo para isso. Certamente, o problema nunca esteve na equipe de torneios, pois essa sempre mais focada (por estratégia da própria CBRu) nos eventos da seleção. O problema sempre esteve na escolha da gestão: foco nas seleções, o resto faz como der. Algo que não é nada bom quando se lida com verbas de origem pública (pois Lei de Incentivo é dinheiro público, e não privado como alguns acham).
O que preocupa em todo o processo de construção de um sistema nacional de competições – e estamos falando apenas do XV masculino – é que claramente nunca houve um estudo cuidadoso das necessidades do rugby nacional pautado em conceitos sólidos. Quando analisamos os relatórios da CBRu de 2017 para os torneios nacionais, vemos que existia na época um profundo irrealismo quanto ao futuro da esfera de clubes da modalidade no país.
Portanto, agora que o Super 13 vai começar, apagando o fogo de 2019, o que estamos pensando para o futuro? O futuro implica um modelo construído para 2020 (que já está sendo debatido), mas também um consolidado para 2021 para, quem sabe, lá em 2022 termos em prática um modelo de competições que caminhe tranquilamente por “conta própria”, isto é, que seja “natural”.
Esse exercício de propor modelos nós no Portal do Rugby fazemos faz tempo. Mas não somos nós que levamos as ideias à prática. Isso cabe à CBRu e aos clubes e o resultado até o momento foi muito ruim.
É essencial se voltar a conceitos. Abandonar a verdadeira jaboticaba brasileira que é a ideia absurda que circulou recentemente de que federações de rugby só cuidam de seleções e não de campeonato de clubes. Em nenhum país do mundo do rugby as competições amadoras de clubes são organizadas fora das federações. Estados Unidos? Inglaterra? França? Em todos os país são as federações (nacionais ou regionais) que cuidam dos torneios dos clubes amadores. O que precisa acontecer é que as responsabilidades sejam divididas e os clubes participem ativamente e com conhecimento do processo. Não como paraquedistas pensando a curto prazo. É preciso discutir conceitualmente, isto é, para cada decisão é preciso uma explicação sólida a embasando, baseada em dados, análises, estudos de casos que o mundo do rugby oferece.
Se os clubes participaram das decisões de 2017 e a CBRu era tão otimista naquele momento, era porque expectativas irreais estavam norteando todos. Errar é humano e agora, pensando em 2021 (não em 2020, esse já está tarde para oferecer um modelo sólido) é preciso fazer o debate do jeito certo. Com humildade e estudo, não com ambição ilógica. Pés no chão e realismo.
Artigo necessário!!