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ARTIGO OPINATIVO – O rugby brasileiro respirou capacitação, aprendizado, conhecimento. A Superweek da CBRu Desenvolvimento rolou durante o feriadão de 7 de setembro em São Paulo e, na condição de participante, mas também de jornalista, trago minhas impressões sobre o evento e sua importância.
Primeiramente, tive o prazer de participar (como aluno) dos cursos de Análise de Vídeo, ministrado pelo grande Ige, e o inovador Leading Rugby, ministrado por Lucas Toniazzo, colunista aqui no Portal do Rugby também. Ambos atenderam e muito às minhas expectativas e só tenha a agradecer pelo aprendizado. A criação dos dois cursos mostra como é fértil pensar fora da caixa e trazer propostas de cursos que vão além dos cursos tradicionais que estamos acostumados no rugby.
Primeiramente, é importante apontar que esta foi apenas a segunda edição da Superweek no Brasil, mas o número de participantes com relação a 2017 quase dobrou, passando de 65 para 125. De acordo com Maurício “Mille” Migliano, organizador do evento, a expectativa era de “realizar um evento inovador com relação a outro eventos realizados na América do Sul, isto é, sair do modelo de ofertar apenas cursos World Rugby e trazer oficinas e cursos que abarcassem partes do jogo e do contexto do rugby, como nos casos do curso de primeiros socorros e do Leading Rugby”. Desta forma, tornou-se necessário “desenvolver os educadores para que pudessem conduzirem atividades fora do modelo ao qual foram capacitados, dos protocolos World Rugby, com o intuito final de atender a comunidade do rugby com o espírito e valores do rugby num ambiente de troca de conhecimento e de networking”.
De fato, o sucesso da Superweek passa acima de tudo pelo ambiente proporcionado. Reunir gente de todas as áreas e vocações dentro do rugby em um único espaço, permitindo o intercâmbio intenso de experiências, enriqueceu o evento. Ao ser possível realizar mais de um curso diferente em uma sequência de dias de aprendizado, a Superweek cria um ambiente para o rugby que poderia ser comparável ao de uma universidade.
Uma micro universidade do rugby, condensada em um final de semana. E isso para mim é bem claro: o conceito de “universidade” nasceu com a ideia de permitir que os estudantes possam circular pelas diferentes áreas de conhecimento, dentro de uma mesma instituição. Trata-se de algo além de uma mera “faculdade”. Quando transporto essa noção para nosso microcosmo do rugby, a Superweek ocupa tal papel: de permitir a circulação das pessoas do rugby por diferentes áreas de conhecimento do esporte, em um mesmo contexto, em um mesmo momento.
Sobre cursos novos, evidentemente, o grosso dos cursos a serem ministrados precisam fatalmente ser de treinamento (coaching, força e condicionamento) e arbitragem, pois estas são as demandas mais óbvias e centrais para o desenvolvimento do rugby, mas avançar para outras necessidade é extremamente importante. O curso de Leading Rugby é talvez a joia da coroa das novas iniciativas. Voltado a desenvolver habilidades de liderança para quem trabalha com o rugby, o curso também oferece importantes noções – e um exercício autocrítico essencial – de gestão esportiva e do funcionamento institucional de nossa modalidade. Feito em geral por apaixonados que não necessariamente têm conhecimento de administração, o rugby de clubes precisa crescer e amadurecer em sua gestão, em sua operação, e para tal é preciso clareza conceitual da parte das pessoas que trabalham por isso, para poderem traçar de forma mais consistente os objetivos de seus trabalhos. Sem dúvida alguma, o curso do Leading Rugby se torna essencial para o desenvolvimento do rugby de clubes no país.
Uma nova Superweek deverá ocorrer por volta de junho de 2019 (potencialmente no Corpus Christi). Segundo Mille, “para o ano que vem, pretendemos continuar com a oferta de temas como oficinas e em paralelo ofertaremos curso de Coaching Nível 3 para treinadores de Rugby XV das equipes que participarão dos torneios nacionais da CBRu e Coaching seven Nível 2 para equipes femininas do Super Sevens. Além destes dois cursos World Rugby, teremos ainda Arbitragem Nível 2 de XV e Sevens, primeiros socorros e Match Commissioner”. E as atividades para o desenvolvimento dos clubes ainda ganharão oficiais de gestão de projetos (modelagem de projetos, captação de recursos e prestação de contas).
Com tal formato, o trabalho de desenvolvimento da CBRu amadurece e ganha corpo respondendo a muitas demandas constantemente questionadas. O que é preciso agora, tendo tamanha reunião de atividades que efetivamente desenvolvem – isto é, que criam habilidades para o desenvolvimento constante das pessoas que trabalham com o rugby – é um crescimento contínuo do engajamento da comunidade.
É preciso todos nós na bola oval termos humildade de sabermos que todos temos deficiências e todos precisamos de muito mais conhecimento para ajudarmos o rugby a evoluir. Há muito a ser feito e para isso é essencial termos conceitos sólidos sendo agregados às experiências. Prática com teoria.
Parabéns a organizadores, idealizadores e educadores que tornaram possível uma muito bem sucedida Superweek.