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ARTIGO OPINATIVO – Seis Nações, Rugby Championship, cruzamento entre nações de ambos os hemisférios e possibilidade dos adeptos estarem presentes nos estádios. Estes foram alguns dos temas avançados pela World Rugby em relação ao regresso dos jogos internacionais de rugby, depois de todos os tours de meio de ano terem sido cancelados devido à inacessibilidade entre países e, especialmente, entre continentes, e ao estancamento da propagação da pandemia.
Mas vamos de ponto em ponto para explicar o que a World Rugby, em acordo com algumas federações, conseguiu agendar para este ano em termos de competições internacionais!
CALENDÁRIO MUDA OU NÃO? SATISFAZ OU NÃO?
Começando uma semana mais cedo do que o costume, o calendário de seleções terá início no dia 24 de Outubro e vai se estender, excepcionalmente, até 5 de Dezembro, perfazendo 7 finais de semana para se desenrolarem vários jogos de diferentes competições. Este ajustamento do calendário internacional no geral não força quaisquer mexidas na final da Premiership inglesa, que é a única competição a terminar precisamente nessa data – PRO14 fecha a época de 2019/2020 a 14 de Setembro e a Heineken Champions Cup a 17 do mês seguinte -, permitindo que tudo decorra naturalmente e sem que nenhuma seleção perca jogadores na primeira ronda de Test Matches.
As competições nacionais vão decorrer ao mesmo tempo que os jogos de seleções, com o Top14 a interromper só durante dois finais de semana de Novembro, sendo que ainda não se sabe quando é que a época 2020/2021 começa para a Premiership e Pro14, com os rumores a apontarem para Novembro o início de ambas as ligas (no caso da liga inglesa, precisam de 24 finais de semana para ir da 1ª jornada até à final, ou seja, jogarem de Novembro ou Dezembro a Junho, sem paragens), isto após do fecho da época de seleções.
Rapidamente, os jogos internacionais vão de 24 de Outubro até 5 de Dezembro e isto permitirá fechar as Seis Nações deste ano e dar seguimento ao Rugby Championship 2020. No entanto, as ligas europeias, mais precisamente Premiership e Top 14 já protestaram publicamente sobre terem que liberar seus atletas para uma janela alongada de tests, o que significa mais um capítulo de desentendimentos e tensão entre clubes e federações – como esperado.
SEIS NAÇÕES PARA ABRIR O APETITE
O torneio mais antigo do rugby mundial viu uma jornada e um jogo serem adiados, resultante do fecho de fronteiras e paragem total de todas as atividades desportivas, ficando na altura prometido que tudo seria decidido em uma data posterior. Depois de meses de dúvidas, com a Inglaterra, Irlanda e França na contenda pelo título, a World Rugby apresentou a solução – solução essa que tinha sido já cogitada pela empresa dirige a competição – para realizar os últimos quatro jogos, com o fim de semana de 24/25 de Outubro ficar destinado para o Irlanda-Itália e, a seguir, o de 30/31 do mesmo mês para a 5ª rodada, que apurará o campeão de forma até dramática, pois a França recebe em Paris a Irlanda com a Inglaterra a olhar por fora. Este cenário também se aplica às Seis Nações feminina, que também tem o mesmo número de encontros em atraso.
Completando-se as Seis Nações 2020, as seleções europeias vão manter a atividade ao dar o salto para uma “liga” jogada junto das Ilhas Fiji e Japão, que ficarão sediadas na Europa durante os quatro finais de semana de Novembro e o extra de Dezembro, significando isto cinco jogos internacionais para cada uma das participantes. No entanto, para a Inglaterra será uma janela internacional exaustiva e desafiante, uma vez que Eddie Jones só vai poder contar com todos os jogadores 5/6 dias antes do Itália-Inglaterra, sendo possível os atletas das equipas finalistas da Premiership fiquem de fora do primeiro jogo da Rosa, introduzindo-os nos trabalhos a 100% na semana seguinte.
Mas a competição que terá envolvimento de pelo menos duas seleções fora do espaço europeu ainda não foi oficializada nem confirmada, existindo a possibilidade de termos “tours” do Japão, Fiji e Samoa pela Europa como plano “B”. Lembrar que isto não é um novo Seis Nações, pois a competição não é promovida pela empresa que detém os direitos e dita as regras, mas sim pela World Rugby, que já tinha prometido a realização de uma pequena liga do gênero para a atual época e afirmar que isto é abertura para um revamp dos Six Nations não só é errado como está a incorrer numa mentira sem qualquer base de fundo. E porque não vamos ver Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e Argentina a alinhar contra as suas congêneres do Hemisfério Norte?
O RUGBY CHAMPIONSHIP 2020
O título explica tudo, pois há que realizar o maior torneio de seleções do Hemisfério Sul ainda neste ano. Não se realizando entre Agosto e Setembro, como de costume, a única solução foi empurrar a sua realização para Novembro, entre os dias 7 de Novembro e 12 de Dezembro (uma semana após o término dos jogos na Europa), não sendo esta a única grande novidade para a competição que pela primeira vez será realizada toda no mesmo espaço. Isto é, um dos quatro países envolvidos ficará responsável por albergar as equipas e oferecer-lhes um espaço “seu”, evitando-se assim as viagens e as restantes questões logísticas, numa quase espécie de Mundial de Rugby mas aplicado ao Rugby Championship.
Será interessante perceber se as receitas de estádio e televisão vão ser divididas pelas quatro nações igualmente, já que as três nações que tiverem de viajar não vão poder recolher os fundos advindos da bilheteira, marketing, circulação de adeptos e arrendamento de espaços pelas equipas adversárias. Num momento econômico delicado para qualquer setor, seria fundamental que o rugby desse uma resposta forte no que toca à igualdade e partilha, criando-se assim um princípio de fraternidade entre outros os participantes.
Outra questão sensível vai para o facto dos adeptos poderem viajar ou não em direção ao país que vai ficar responsável pela organização do Rugby Championship, sendo que isto está diretamente ligado aos travel bans aplicados – para quem ache que a Nova Zelândia ou Austrália vão continuar a viver sem turismo, desengane-se já que são indústrias fulcrais para a sua sobrevivência.
No fim, vamos ter direito a um The Rugby Championship 2020, um pouco mais atrasado e sem a espetacularidade do efeito das viagens e de jogar em estádios diferentes, mas pelo menos as quatro super nações do Hemisfério Sul vão ter direito a não só jogar como lucrar, uma palavra tão necessária nos dias de hoje para a modalidade.
E OS OUTROS?
A grande pergunta vai para o que acontecerá com seleções como Geórgia, Espanha, Portugal, Bélgica, Samoa, Tonga, entre outras. Vão jogar nesta janela internacional ou não terão condições para viajar ou receber equipas e realizar test matches essenciais para o seu crescimento e subida ou descida no ranking da World Rugby? Neste momento, há notícias apenas da América do Sul, com o Uruguai querendo receber um Sul-Americano em sede única no fim do ano – mas a situação da pandemia no Brasil e Chile, por exemplo, lança dúvidas sobre sua realização.
Foi um ano caótico para todas as federações de rugby, com perdas avolumadas que podem colocar certos projetos num estado dormente ou até de cancelado (teme-se que o rugby feminino vá ser quem mais sofrerá nos próximos anos) e a possibilidade de se realizarem estes jogos internacionais ajudará a atenuar os danos sofridos durante uma boa parte do ano.
Texto: Francisco Isaac e Victor Ramalho