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Amanhã, a Confederação Brasileira de Rugby realizará uma reunião com os principais clubes do país para discutir os rumos das competições nacionais nos próximos anos, tanto do masculino como do feminino. Não é nada fácil encontrar o modelo mais apropriado, ainda mais em um rugby amador com clubes e federações ainda em vias de se consolidarem institucionalmente e serem capazes de projetos a longo prazo em todas as categorias.
Não poderíamos deixar neste momento de opinar sobre o cenário. Afinal, é preciso discutir temas antes de impor verdades. Aqui, nosso objetivo não é em hipótese alguma dizer qual o modelo correto a ser adotado. Trata-se apenas de um ponto de vista mais do que debatível. Então, vamos a nosso pitaco.
Rugby amador antes do profissional
O crescimento do rugby brasileiro é inegável dentro e fora de campo. Não vamos entrar nesse mérito, mas basta ver os resultados recentes das seleções e os grandes eventos com sucesso de público e audiência. Entretanto, o tão falado abismo entre a realidade vivida pela Confederação e aquela vivida por clubes e federações estaduais merece levarmos a discussão para outra esfera: estamos aprendendo a fazer rugby profissional, sim, mas aprendemos já a fazer rugby amador?
A base de qualquer estrutura profissional é o rugby amador, onde atletas são formados e onde a cultura do rugby é construída – cultura essa que ainda não está enraizada no país e que carece de melhor conceituação e entendimento, pois cada um assume a ideia que lhe convém acerca da “cultura do rugby”. Sem clubes fortes financeiramente, tecnicamente e, acima de tudo, institucionalmente, não há rugby.
Em países onde o rugby é enraizado, desfruta de grande popularidade e é um negócio sustentável o rugby profissional está alicerçado em um rugby amador com duas dimensões essenciais: rugby nas escolas e clubes com centenas de sócios. O que varia são as estruturas profissionais. Enquanto em países como França, Inglaterra e Itália o profissionalismo gira em torno dos clubes, no mesmo modelo do futebol, na Irlanda, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália, por exemplo, todos os clubes do país são amadores e o profissionalismo é feito por equipes regionais – franquias – que estão no topo de uma pirâmide que conta com academias de alto rendimento e um caminho lógico para o atleta desde o rugby escolar ou do time juvenil do clube amador – com muitas vezes clubes e escolas nutrindo relações diretas entre si.
Em ambos os modelo, em países que são potências no esporte, mesmo clubes amadores são capazes de manter três ou mais times adultos masculinos – uma equipe de alto rendimento, seguida de um time de aspirantes também de alto rendimento, como transição do juvenil ao adulto, e um ou mais times amadores, voltados ao atleta que não tem pretensões profissionais, mas quer seguir dentro do esporte ativamente. Abaixo, dezenas de equipes juvenis, de todas as categorias desde o infantil, muitas vezes diretamente alimentadas por uma rede de escolas locais que possuem rugby. Além, é claro, de equipes de veteranos, a fim de manter o engajamento e a cultura do clube. E, em países onde o rugby tem maior difusão entre as mulheres, uma estrutura feminina semelhante, ainda que normalmente menor, mas com o XV assumindo um papel determinante. Para se ter um estrutura mínima como essa não é nada fácil, ainda mais no Brasil, onde os clubes não têm patrimônio físico – não são donos de campos -, são em geral jovens e sem verba e sofrem para conseguir atenção do poder público. Ainda assim, para se construir qualquer estrutura amadora sólida, é preciso engajamento e solidariedade entre os membros do clubes, capacitação e estudo constante de todos os envolvidos na condução dos projetos, para se aprimorarem sempre (treinadores, gestores), e planejamento de longo prazo, que resista às dificuldades sem cair no tentador imediatismo.
Aqui, o problema básico é um só: foco. Cada clube que começa sua trajetória tende a priorizar o mais óbvio, sua categoria adulta masculina e investe seus recursos (financeiros e humanos) em jogar competições que estão acima de sua realidade. Em entrevista que fizemos com Agustín Danza, CEO da CBRu, ficou claro um aspecto alarmante: para teremos um calendário de alto rendimento dependemos muito de financiamento vindo da Lei de Incentivo ao Esporte. Os clubes, por sua vez, depositam seu planejamento na expectativa de jogarem as competições da CBRu, que dependem em parte do financiamento proporcionado pela CBRu, através da Lei de Incentivo. Trata-se de um situação muito vulnerável quanto às vontades políticas do governo e quanto à situação econômica do país.
Parece óbvia a constatação. Mas, ela sugere outra coisa: que temos um esporte amador com necessidades de esporte profissional. Afinal, quantos esportes amadores no Brasil – e no mundo – necessitam tanto de financiamento para viagens? Quantos clubes amadores percorrem as distâncias que os clubes amadores do rugby brasileiro percorrem? Qualquer estrutura amadora deve ser resolvida dentro das possibilidades do amadorismo, isto é, localmente. Estamos queimando etapas, e isso parte inclusive dos clubes. Um clube que não conta com dois ou três XVs, categoria juvenil, categoria feminina, não devia estar pensando tanto em viagens interestaduais e em fornecer atletas para as seleções. O foco deveria ser formar o ambiente regional de rugby que tanto lhe faz falta. Ele inclui clubes, escolas, federações, arbitragem.
Em 2014, escrevemos um artigo que analisava as distâncias percorridas pelos clubes em diversos países do mundo e concluímos que o Brasil está perto do topo da lista de deslocamentos, abaixo apenas da Rússia. É claro que o Brasil enfrenta um problema complexo, semelhante ao da Rússia, que são as grandes distâncias entre os clubes agravadas por baixa densidade de clubes de rugby em várias regiões do país. Para muitos clubes, sem viagens longas simplesmente não há jogos, por menor que seja o nível técnico da partida. Tal situação não existe em países como Estados Unidos ou Austrália, que têm imensos territórios, como o nosso, mas que contam com muito mais clubes, melhorando a relação da densidade regional de clubes. É preciso encontrar o equilíbrio certo para cada região.
Eis nosso modelo de competições masculinas:
No modelo proposta, o topo da pirâmide seria formado por uma competição de seleções estaduais e/ou de academias de alto rendimento, permitindo a atletas de clubes menores jogarem em um nível maior, assim como provendo competição de alto nível a atletas de clubes que têm campeonatos estaduais com muita desigualdade de nível entre os clubes. Tal modelo deve ser replicado para o juvenil.
Já a competição máxima de clubes, a fim de torná-la menos dependente de verbas vindas da Confederação/Lei de Incentivo, foi regionalizada, encurtando deslocamentos para os clubes e focando o desenvolvimento regional. Nos casos de Sul e Sudeste, que hoje dominam a cena nacional, o torneio contaria com 6 clubes jogando em ida e volta, totalizando 10 partidas de nível bom, que pode ter organização direta da CBR, podendo impor a realização de partidas prévias M19.
É essencial aqui garantir que todo clube comece o ano sabendo todo o seu calendário. O atual modelo da Taça Tupi, por exemplo, coloca uma fase preliminar de dois jogos que não ajuda o planejamento anual do clube, pois em caso de derrota prematura a equipe ganha um vazio de calendário. Com isso, as equipes das elites estaduais que não estiverem nos grupos do Campeonato Nacional precisam de um calendário semelhante de segunda divisão – solucionado com a criação das copas estaduais/regionais abaixo do nacional, valendo promoção a ele. Assim, a perda de atletas para a seleção brasileira – e para as seleções regionais – durante o estadual não impacta tanto o clube, cuja vaga na elite nacional seria decidida por outra competição. Ademais, a partir do momento em que o clube tem que planejar seus deslocamentos, equipes que não contam com condições financeiras ou plantel para jogares tais torneios são obrigadas a terem prudência e não aceitarem as vagas.
Já as demais três regiões a ideia é a CBRu “terceirizar” sua organização para as associações e ligas já existentes, colocando seu padrão de organização (simples, basicamente cadastramento de atletas, capacitação de arbitragem e comissão disciplinar, e condições do local de jogo, com ambulância e campo devidamente adaptado ao rugby, comprovados por relatório e fotos) mas dando flexibilidade para as regiões acharem suas melhores soluções, que levam em conta os custos internos de deslocamento e o grau de desenvolvimento dos clubes locais. Caso as competições de Nordeste, Centro-Oeste ou Norte fujam do padrão estabelecido, a CBRu pode retirar a vaga dada à região no mata-mata, contanto que os critérios sejam claros (e eles devem estar no regulamento), transferindo-a para outra região. O mata-mata, em nível nacional, precisaria ser arcado pela Confederação para se tornar possível, mas o número de partidas financiadas seria bem menor do que no modelo atual.
No caso do sevens, é notório o baixo interesse dos clubes no Super Sevens Masculino e seus problemas para se encaixar no calendário e no planejamento de instituições que ainda são amadoras. Nesse sentido, e afim de garantir o melhor destino das verbas de Bolsa-Atleta, o ideal é fazer a elite do sevens nacional ser disputada por selecionados estaduais/regionais, garantindo que os melhores atletas recebam o benefício.Para os clubes, torneios como o SPAC Lions dialogam melhor com sua realidade.
Quer um exemplo de como ficaria o campeonato?
Grupo Sul: Curitiba, Desterro, Farrapos, San Diego, Charrua e Serra
Grupo Sudeste: São José, SPAC, Pasteur, Band Saracens, Niterói e BH Rugby
Quartas de final: 3 do Sudeste, 2 do Sul, 1 do Nordeste, 1 do Centro-Oeste e 1 do Norte. Caso Nordeste, Cnetro-Oeste ou Norte não estejam aptos a mandarem equipes, a vaga é remanejada para outra região.
No Sudeste, cheio de clubes, a segunda divisão poderia ter grupos com: Jacareí, Poli, URA, Guanabara, Rio Rugby, Itaguaí, Cabo Frio, Vitória, Uberlândia, Elói Mendes, Nova Lima e Inconfidentes, isto é, os times das elites estaduais (além do clube maior do Espírito Santo), por exemplo, caso todos tenham condições. Quem não tiver plantel ou finanças, abre mão. Mas, nesse caso, torne-se essencial que o aceite de uma equipe em uma primeira divisão estadual seja mediante o compromisso de disputa da copa regional também, o que significa maiores restrições das federações no aceite de equipes na divisão de elite.
Para isso, fica evidente que é preciso trabalhar o financiamento das federações estaduais acima de tudo, para que elas possam dar conta de uma estrutura regionalizada.
E para o feminino, o modelo que pensamos contempla um período intermediário de desenvolvimento de atividades de XV. No caso dos circuitos femininos, é preciso levar em conta a atual fragilidade de boa parte das equipes femininas, que contam com parcos recursos e plantéis reduzidos, longe do necessário para o alto rendimento. Com isso, o foco em circuitos regionais de clubes, que aumentem o número de jogos para atletas não envolvidas nas seleções e contenham torneios paralelos M18 é essencial. O Circuito Nacional de Clubes precisa estar articulado aos circuitos regionais, obrigando os clubes a se dedicarem aos regionais para alcançarem, no segundo semestre, torneios em nível nacional. O número desses torneios pode ser reduzido, pois um segundo circuito nacional pode (e deve) ser criado, com seleções estaduais/regionais e/ou academias, seguindo a mesma lógica do masculino.
Para um circuito de seleções estaduais, é plausível realizar torneios qualificatórios abertos a estados menores e um circuito final aberto aos estados com federações mais estruturadas e os vencedores dos qualificatórios, contando também com torneios M18 (em maior número do que o provido pela atual Copa Cultura Inglesa). Novamente, o investimento vindo da CBRu é melhor usado se for pensado na estruturação da pirâmide, e não no investimento direto nos clubes, que precisam se voltar aos torneios acessíveis regionalmente e à base.
Regionalização racional e democrática é a base para o crescimento
Com isso em mente, é preciso, mais do que nunca, em foco absoluto nos torneios estaduais e regionais, isto é, na estruturação das associações, ligas e federações. Se falta dinheiro para viajar é preciso trabalhar com seus vizinhos.
É realidade comum ver clubes reclamando de federações estaduais. Mas, as federações só existem para representar os clubes. Oras, se clubes não se sentem representados por federações, temos um sério problema. E ele parte da falta de capacidade dos clubes em dialogarem entre si e proporem mudanças. Cada quer resolver seu problema, mas não problemas que afetam a todos.
Se estamos falando em federações amadoras, estamos falando em instituições que, a princípio, precisam de colaboração voluntária. Para isso é preciso engajamento dos clubes, veteranos, entusiastas. Para haver engajamento, é preciso que as pessoas enxerguem que existe caminho para se participar, isto é, transparência no funcionamento e sentimento de pertencimento. Sem isso, não há a vontade de participar. Nada é feito.
Mas, no rugby amador, as distâncias são impedimento. Participar de reuniões e se engajar nas ações é fácil quando se está próximo de onde elas ocorrem. A Argentina, a Nova Zelândia, a África do Sul, os Estados Unidos nos dão os exemplos. Nesses países, as federações regionais NÃO seguem as divisões políticas dos países. Os clubes não se juntam porque pertence à mesma província e ao mesmo estado. Eles trabalham junto de quem está perto deles.
Na Argentina, há 25 uniões regionais de rugby (chamadas de provinciais, mas que não representam exatamente as províncias do país). Algumas províncias da Argentina são divididas em duas ou mais uniões provinciais de rugby. A província de Buenos Aires, por exemplo, é quebrada em quatro (Sur, Oeste, Mar del Plata e URBA). Santa Fé em duas (Santa Fé e Rosário). Outras uniões provinciais de rugby são compostas por suas ou mais provícias. A União Andina de Rugby é a junção dos clubes das províncias de La Rioja e Catamarca. Já a União de Rugby do Nordeste é a junção de Corrientes e Chaco. O critério é simples: a localização dos principais núcleos de rugby de cada região. Os clubes jogam com quem está mais próximo.
Cada umas das 25 uniões provinciais argentinas tem sua seleção – adulta e juvenil. Mas, a fim de prover aos clubes melhores competições, as uniões se juntam para organizarem torneios regionais, que totalizam 8 na Argentina. Assim, os clubes de ponta de Rosario, por exemplo, enfrentam os clubes de ponta de uniões provinciais vizinhas, no caso Santa Fé e Entre Ríos, no Torneio do Litoral. O mesmo para os clubes de Tucumán, Salta, Jujuy e Santiago del Estero, que jogam o Torneio do Noroeste (NOA). A região metropolitana de Buenos Aires, auto-suficiente, por outro lado, joga seu próprio torneio, o Torneio da URBA.
Tais torneios representam a maior parte do calendário dos clubes mais fortes, mas eles ainda possuem no começo do ano as competições nacionais, de tiro curto, o Nacional de Clubes e o Torneio do Interior. E no fim do ano as seleções provinciais entram em campo.
Modelo argentino
Março a maio
1ª divisão
Nacional de Clubes: 7 melhores de Buenos Aires (URBA Top 14), 3 melhores do Litoral, 3 melhores do Centro e 3 melhores do Noroeste.
2ª divisão
Torneio do Interior A: 4 clubes do Noroeste, 3 do Centro, 3 do Litoral, 3 do Oeste e 3 do Pampeano. O clube campeão garante 1 lugar a mais para sua região no Nacional de Clubes seguinte.
URBA Grupo I (apenas Buenos Aires): 20 clubes (dois grupos de 10), jogando por 7 vagas no URBA Top 14 do mesmo ano;
3ª divisão
Torneio do Interior B: 3 clubes do Noroeste, 3 do Oeste, 2 do Centro, 2 do Litoral, 2 do Pampeano, 2 do Nordeste, 2 da Patagônia e 2 do Uruguai. O clube campeão garante 1 lugar a mais para sua região no Torneio do Interior A seguinte.
URBA Grupo II: 24 clubes (dois grupos de 12), jogando por 13 vagas no Torneio “Reubicación” do mesmo ano
Junho a Outubro
URBA Top 14 (Buenos Aires): Divisão máxima de Buenos Aires, com 14 clubes (os 7 que jogaram o Nacional de Clubes e os 7 melhores do URBA Grupo I). Os 7 primeiros garantem vaga no Nacional de Clubes do ano seguinte. Os 7 piores jogarão o URBA Grupo I;
Reubicación (Buenos Aires): 26 clubes (dois grupos de 13), que jogam por 13 vagas no URBA Grupo I do ano seguinte;
Torneio do Centro: Divisão máxima de Córdoba e Andina (La Rioja e Catamarca);
Torneio do Litoral: Divisão máxima de Rosario, Santa Fe e Entre Ríos;
Torneio do Noroeste: Divisão máxima de Tucumán, Salta, Santiago del Estero e Jujuy;
Torneio do Oeste: Divisão máxima de Cuyo (Mendoza), San Juan e San Luis;
Torneio Pampeano: Divisão máxima de Mar del Plata, Oeste de Buenos Aires e Sur (Bahia Blanca e La Pampa);
Torneio do Nordeste: Divisão máxima do Nordeste (Corrientes e Chaco), Misiones e Formosa;
Torneio Patagônico: Divisão máxima das províncias da Patagônia (Alto Valle, Lagos, Chubut, Austral, Santa Cruz e Terra do Fogo).
Novembro
Campeonato Argentino – seleções provinciais de XV
Dezembro
Seven de la República – seleções provinciais de sevens
Além disso, a União Argentina de Rugby mantém sua rede de academias de alto rendimento e uma estrutura de selecionados nacionais, incluindo a franquia profissional do Super Rugby. E o juvenil? A competição máxima também é de seleções regionais, com os campeonatos regionais de clubes sendo a base para elas. E o feminino? Bom, esse é o único exemplo argentino que não deve ser seguido…
Nos Estados Unidos, a desconexão dos estados com as associações regionais de rugby é ainda maior. Hoje, os Estados Unidos têm 13 “geographic unions”, isto é, federações regionais, e mais outras 15 federações territoriais, abaixo hierarquicamente, sendo que algumas áreas do país são atingidas somentes pelas federações territoriais, mas nenhuma parte dos EUA está fora dessa estrutura – nem mesmo Alasca ou Havaí.
Modelo estadunidense
1ª escalão
PRO Rugby: de abril a julho, competição de franquias profissionais masculinas, sendo 5 no momento;
Women’s Premier League: competição nacional amadora de clubes (XV)
2º escalão
Premierships (masculinas): 3 ligas independentes formadas e mantidas pelos clubes mais fortes, sem rebaixamento ou promoção garantidos para as ligas regionais. São elas:
– American Premiership, para clubes da Costa Leste;
– Pacific Premiership, para clubes da Costa Oeste;
– Midwest Premiership, para clubes do Meio-Oeste;
3º escalão
Ligas regionais. Anualmente, a USA Rugby ainda organiza um mata-mata entre campeões regionais, conhecido como National Championship Series.
Em paralelo a isso tudo existe a estrutura do rugby universitário, que tem nível comparável ao das Premierships, e academias de alto rendimento.
Ideias para a regionalização Brasil
Tomando tais ideias e modelos e reforçando a necessidade de se focar na edificação de bases regionais mais sólidas e sustentáveis, que suportem sem danos esportivos maiores as dificuldades políticas e econômicas que o país possa passar, é preciso primeiro repensar a divisão de federações no Brasil.
Hoje, a Confederação reconhece e trabalha diretamente com apenas 6 federações estaduais. Isso é um erro que desestimula o trabalho fora dos seis estados (SP, RJ, MG, PR, SC e RS). Cada região tem realidades muito distintas e necessidades e dificuldades muito variadas. Fazer rugby no Piauí é inúmeras vezes mais difícil do que fazer rugby em São Paulo, seja pela densidade de clubes, pelas distâncias e condições da malha de transportes local, pela presença de veteranos e estrangeiros que tenham conhecimento do caminho a ser percorrido, pelo interesse ou não de prefeituras, pela economia da região, pelas condições de acesso a informação e a TV paga e internet, enfim, inúmeros fatores.
No entanto, a CBRu faz certo em impor exigências às federações para serem reconhecidas. É preciso que cada região prove sua capacidade de organização, afinal, a CBRu não nada em dinheiro nem tem recursos humanos para lidar com um país de dimensões continentais. O que se pode fazer é se instituir um modelo misto, que escalone as regiões. O próprio World Rugby tem dois níveis de filiação: há países que são membros plenos, com direitos que vão desde verbas a participação em competições oficiais da entidade, e há países que são membros associados, sem direitos a verba e a torneios. A CBRu poderia aplicar o mesmo sistema ao Brasil:
- – Federações plenas, com mais direitos;
- – Federações associadas, que tenham CNPJ, mas não tenham direito a voto e vagas restritas a torneios;
Com requisitos claros de como uma federação pode subir de nível, o sistema se torna mais amigável. Os estados que conseguiram se organizar em um nível legal mínimo – terem CNPJ e estatuto – devem ser reconhecidas, o que não retira a necessidade de se impor metas de organização para que subam de nível.
Somado a isso, deve-se encorajar os estados que não tenham condições de andarem por conta própria a formarem federações regionais, a fim de se contemplar o território nacional. Os embriões já existem, são as ligas regionais.
Porém, ainda é preciso trabalhar internamente na divisão dos estados. É possível aplicar um modelo híbrido, inspirado no argentina, mas baseado nas federações estaduais brasileiras já existentes. Cada federação estadual deve se organizar em associações (ligas) regionais, gerenciadas diretamente pelos clubes e com voto direto junto da federação estadual. Cada clube (ao menos aqueles que tenham CNPJ) deve ter o direito a participar de tudo o que acontecer em sua associação regional, que deve ter como objetivos ser uma ponte das demandas dos clubes (do menor clube ao maior) junto da federação estadual e gerir projetos locais, como festivais e torneios de categorias de base, ações junto a escolas, treinos e mini-torneios entre clubes em fase de formação, enfim, auxiliar na construção a longo prazo do cenário local. A Federação de Rugby da Bahia formulou um modelo semelhante a esse, repartindo o vasto território do estado entre seus clubes mai estruturados, a fim de fomentar ações em cada região.
Assim, no caso de uma federação como São Paulo, regiões como Vale do Paraíba, Oeste Paulista, Grande São Paulo se constituiriam como associações regionais. No caso de uma federação como a do Nordeste (FENERU), que compreende vários estados, as associações regionais seriam os próprios estados (Associação do Piauí, Associação do Maranhão, etc). A divisão deve respeitar a realidade. E se uma região não conseguir funcionar corretamente? Não ganha vagas, não ganha votos. Estabelecem-se metas. Não é problema termos regiões que não funcionem. O problema é não haver o caminho claro para funcionarem.
A pirâmide funcionaria assim:
E você, o que pensa disso tudo?
Eu penso que a opinião de vocês é fantástica, não sei se foi somente o Vitor Ramalho ou todos vocês pensaram juntos no modelo, mas é um norte, é realmente de grande valia…
No mais, Portal do Rugby, principalmente na parte que destaco: “Aqui, o problema básico é um só: foco. Cada clube que começa sua trajetória tende a priorizar o mais óbvio, sua categoria adulta masculina e investe seus recursos (financeiros e humanos) em jogar competições que estão acima de sua realidade(…) Estamos queimando etapas, e isso parte inclusive dos clubes. Um clube que não conta com dois ou três XVs, categoria juvenil, categoria feminina, não devia estar pensando tanto em viagens interestaduais e em fornecer atletas para as seleções. O foco deveria ser formar o ambiente regional de rugby que tanto lhe faz falta. Ele inclui clubes, escolas, federações, arbitragem.”
Olha, foi de uma felicidade ímpar essas palavras, porque as equipes devem pensar no interno, porque sair para competições fora do estado é consequência de uma estrutura interna boa. Inclusive porque se a estrutura de uma região for internamente boa (região mesmo, cidades perto dentro de um mesmo estado), consequentemente os campeonatos serão mais disputados, o que irá forçar clubes a melhorarem o nível técnico e saírem para “campeonatos externos” com nível técnico competitivo ou melhorado pelo menos.
Meus parabéns, excelente modelo. Só tenho uma dúvida: e no caso de regiões de fronteira como a minha?
A cidade mais perto para jogarmos é 420 KM dentro do nosso próprio estado (MS), no país vizinho (Bolívia) é mais ou menos 700 KM, mas uma passagem para a Bolívia é R$ 60 reais e tudo lá é mais barato, enquanto para a cidade do nosso estado mais próxima que tenha rugby, a passagem é R$ 120 reais e tudo é mais caro. Como resolveríamos isso? Distância maior, mas os custos são menores.
Minha opinião, longo prazo focar nas crianças que hoje tem entre 5-10 anos, elas crescerão na cultura do rugby p o alto nível em 2030; médio jovens entre 10 a 15 que já foram futebolizadas mas daria p recuperar , esta geração nos colocaria no “bolo” em volta da 20, 25a posição no ranking (nível Uruguai ) por volta de 2025. O hoje, acima de 16 anos até o adulto, isso é o q der para fazer, com humildade, sem mimimi. É isso se não colocarmos crianças p jogar rugby, e em paralelo praticar o “que têm pra hoje”, não saímos do outro lado.
Na proposta quando se fala que a ideia é a CBRu ‘terceirizar’ sua organização para as associações e ligas já existentes, do norte, nordeste e centro-oeste, e que a CBRu pode retirar a vaga dada à região no mata-mata, isso acaba por não ser promissor para essas regiões, tendo em vista que serão exigidas adequação a um padrão, mas nenhum apoio (seja financeiro ou de outro cunho) por parte da CBRu para se alcançar tais objetivos, o resultado disso será mais vagas dadas ao sul/sudeste e enfraquecimento da região que ficar de fora.
Quanto ao fato de que “a CBRu faz certo em impor exigências às federações para serem reconhecidas. […], afinal, a CBRu não nada em dinheiro nem tem recursos humanos para lidar com um país de dimensões continentais”, concordo plenamente, todavia a impressão que tenho hoje é que a CBRu também não faz grande empenho pra adequação burocrática e desenvolvimento dessas regiões, é preciso haver empenho mútuo pra isso, tanto por parte das federações locais como da CBRu.
A sugestão de “se instituir um modelo misto, que escalone as regiões” achei interessante, e talvez a mais sensata, mas se a CBRu quer (e deve) exigir padrões de qualidade de todas elas, a mesma deve também oferecer caminhos para se chegar a esse ponto, seria mais democrático que retirar vagas, as mesma poderiam ser remanejadas dentro da região, e não para outra.
Quanto ao desenvolvimento das categorias de base, seguindo modelo da Inglaterra ( http://www.englandrugby.com/about-the-rfu/all-schools/about-all-schools ) a CBRu poderia incentivar parcerias entre federação e/ou clubes com as instituições de ensino para que o rugby comece a ser difundido no ambiente escolar, como já acontece com outros esportes.
Antes de mais nada, agradecer pela aula que vocês acabaram de dar. Segundo, concordo com essas subdivisões propostas, se assim posso chamar. Especialmente num país com a nossa dimensão, tecla que vocês batem e com razão, exigir de uma única confederação nacional todos os esforços não é a melhor saída. Ter grupos montados por regiões facilita o deslocamento. É um modelo que a CBHb (Handebol) está começando a seguir para a Liga Nacional. E vale muito se espelhar no que fazem Argentina e EUA. Principalmente a Argentina, cuja realidade financeira é mais parecida com a nossa.
O modelo de franquias em um campeonato nacional, não sei se entendi bem essa parte, mas também teria outro alcance. Os jogadores que mesmo em clubes menores demonstram um maior rendimento mas se veem “obrigados” a trocarem de clube, o seu clube formador, para jogarem um torneio de nível mais alto. E isso entra na cultura do rugby, dos clubes, do engajamento de bairro, da pequena cidade, da comunidade. Se não tiver um engajamento sócio-cultural o rugby, como nós achamos que deveria ser, não existirá. Vai continuar esse arremedo amador metido a profissional só que bancado pelo bolso dos própros atletas. Tem que ter isso. Tem que ter o amadorismo. teTm que ter o sujeito que vai treinar porque quer participar e não ser um campeão mundial ever qualquer coisa. Porque? Porque o que vai manter ativo o cara do alto rendimento é a cadeia de pessoas que praticam o esporte de forma mais lúdica ou amadora.
Acredito que deveria haver um estimulo, competitivo ou financeiro, à criação de categorias de base.
Exemplo: os clubes só teriam acesso as academias se tivessem uma categoria de base e um plano de expansão de 3 anos com metas bem definidas. Pq eu acho que aumentar a quantidade de praticantes vai trazer muito dinheiro e algum engajamento em organizar o esporte. O rugby ainda é muito desconhecido, mas curiosamente as pessoas que jogam viram uma especie de evangelizadores da modalidade, então seguindo a ideia acho que o aumento no numero de jogadores criaria um efeito dominó trazendo ainda mais praticantes. E a categoria de base é a semente para esse crescimento.
O problema é que no Brasil as competições não podem ser por franquia como na Nova Zelândia tem que ser via estados para reconhecimento do ministério dos esportes e receber os recursos da lei de incentivo ao esporte. Então isso inviabiliza um monte de coisas que ajudaria o Rugby a se desenvolver.
A Crbu so terá uma chance profissionalizar o Super 8 e vender os direitos de imagens para sustentar os clubes a Band seria uma opção uma vez que não tem mais o futebol. Isso não é impossível.
dessa forma não melhora nada para estados do NORTE.NORDESTE E CENTRO-OESTE
vão ter que continuas com suas migalhas
Bom li achei interessante mas discordo em varios pontos . Acho que por um lado queremos que todos os times tenham oportunidade e melhorar as condições dos campeonatos e tudo mais . Mas por outro lado isso seria um passo para trás , acho que as equipes devem se articular e buscarem recursos e não somente ficar dependendo da cbru ou das federações para custearem uma coisa ou outra ; na verdade a cbru deveria fazer três series Sendo a serie A com 12 time , a serie B com 10 times e uma terceira divisão esta sim poderia ser dividida por região como chave sul , chave norte e por ai vai . E quem participaria !? simplismente quem tem recursos e material humano , acho que o modelo que e o campeonato paulista pelo menos oque o meu time disputa e perfeito , você entra no campeonato e se compromete e pagar a arbitragem e a taixa de inscrição , acho que esse e o caminho para o Brasil pois a diverença de niveis para alguns times iriam reduzir e quem está trabalhando duro teria oportunidades melhores , claro que essa ideia tem que ser melhor analisada e fundamentada . Mas o futuro e ampliar e não reduzir .
O Super 8 poderia ser reformulado aos moldes do Argentino de Clubes abrigando mais clubes e classificação via estaduais e criar um Nacional de Seleções Regionais como torneio máximo do rúgbi nacional ao estilo Taça Currie da África do Sul e o Nacional Provincial da Nova Zelândia.
A regionalização seria muito interessante maus teríamos que ter mais clubes de alto nível pois o Sul do Brasil é maior que a França porem tem 3 ou 4 clubes de alto nível. Outra situação é os clubes criarem programas de sócios torcedores um clube com 5 mil sócios que paguem uma mensalidade de 5 reais o clube teria 25 mil reais por mes para custear suas despesas.
CONCORDO !! E ESSA NAO E UMA SAIDA ,E O MAIS LOGICO A SE FAZER
muito boa a proposta