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O que aconteceria com o Super Rugby se os sul-africanos saíssem da competição? Essa pergunta é das boas, não? A possibilidade dos times da África do Sul abandonarem o Super Rugby e migrarem de vez para a Europa, acompanhando Cheetahs e Kings, que hoje estão no PRO14 (a antiga Liga Celta), vem sendo cogitada. Mas, quais as vantagens disso para os sul-africanos?

  • Primeiramente, o Super Rugby impõe viagens com mudanças desgastantes de horário, o que aumenta o desgaste sobre os atletas;
  • As variações muito grandes de fuso horário do Super Rugby trazem jogos em horários ruins para os torcedores sul-africanos que querem assistir seus times jogando no exterior;
  • E no momento o Super Rugby não vem se mostrando rentável, com todos os mercados atuais da competição enfrentando algum problema;

Esses fatores somados à situação ruim da economia sul-africana vem levando muitos atletas a deixarem o país rumo a clubes europeus. Então, quais seriam os benefícios da África do Sul ter seus times principais – Lions, Bulls, Stormers e Sharks – migrando para o PRO14?

  • Todas as partidas aconteceriam no mesmo fuso horário da África do Sul ou com no máximo 2 horas de diferença, quando houver horário de verão;
  • O número de partidas disputadas pelas equipes sul-africanas aumentaria, significando maiores receitas. Hoje, os sul-africanos do Super Rugby disputam de 16 a 19 jogos, enquanto os sul-africanos do PRO14 jogam de 21 a 24 partidas;
    • É verdade que os times do Super Rugby ainda contam com equipes filiadas na Currie Cup, mas a Currie Cup não acabaria com uma migração para a Europa;
  • Os contratos de transmissão de TV/internet e de patrocínio poderiam ser mais vantajosos na Europa, aproveitando exposição em mercados que usam euro e libra. No entanto, tal hipótese precisaria se confirmar na prática;
  • Com mais dinheiro e jogando sob o mesmo calendário, os times sul-africanos teriam mais condições de manterem atletas de destaque, enquanto os Springboks teriam melhores condições para negociarem a liberação de seus atletas que atuam na Inglaterra e na França, mas essas hipóteses também são incertas e sujeitas a muitas variáveis;

No entanto, há pontos negativos óbvios na troca do Super Rugby pela Europa:

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  • Os críticos do PRO14 apontam para a qualidade dos times neozelandeses que disputam o Super Rugby e que oferecem oposição mais valiosa para o crescimento dos atletas sul-africanos, ainda que o PRO14 tenha times do nível de Leinster, Munster, Glasgow ou Scarlets;
  • O Super Rugby não conflita com jogos dos Springboks, tendo um calendário harmonizado, ao contrário do PRO14;
  • Mais ainda: a mudança de todos os times para o PRO14 teria sério impacto no calendário do Rugby Championship, que precisaria ser mudado uma vez que pegaria o período que a Europa destina às férias dos jogadores (agosto);
  • Como o calendário Europeu de clubes irá, a partir de 2020, de setembro a junho, a Currie Cup (o Campeonato Sul-Africano) não teria mais espaço no calendário para contar com atletas de Lions, Bulls, Stormers e Sharks, o que significaria que, na prática, a competição se tornaria uma liga menor, sendo intercâmbio com os times principais, prejudicando as equipes profissionais menores da África do Sul, como Griquas e Mpumalanga Pumas, Leopards, etc;
  • A temporada europeia tem boa parte de seus jogos acontecendo ao longo do verão sul-africano, período no qual tradicionalmente não se joga rugby (sendo mais quente);
  • Ao se transferirem para o PRO14, Cheetahs e Kings foram impedidos de jogarem as Copas Europeias – Champions Cup e Challenge Cup. O veto será que seguiria?

Então, caso a migração de Lions, Bulls, Stormers e Sharks ocorra, poderemos esperar profundas mudanças no calendário do Hemisfério Sul e entre os maiores problemas a serem resolvidos estão:

  • Com todos os times do Super Rugby localizados na Ásia e Oceania, o que farão os Jaguares argentinos? Ficariam isolados e com uma competição ainda mais cara para jogarem. Será que a Argentina seguiria a África do Sul rumo à Europa?
  • Com o Super Rugby sendo uma liga de Ásia e Oceania, haveria espaço no calendário para jogos extras contra times sul-africanos?
  • Qual seria o destino do Rugby Championship? O campeonato entre All Blacks, Wallabies, Springboks e Pumas acabaria ou teria seu período de disputas e/ou seu formato mudados?
  • E qual seria o futuro da Currie Cup?

Vou colocar abaixo minha opinião sobre possíveis soluções:

  • PRO14 transformado em PRO18 (sem Jaguares): caso Lions, Bulls, Stormers e Sharks migrem para o PRO14, a competição se tornaria o PRO18, que na minha opinião é viável com o seguinte formato:
    • 18 times com 3 conferências de 6. Cada time poderia jogar 2 vezes contra os demais de sua conferência + 1 vez contra times da outra conferência, em um total de 22 jogos, seguidos de quartas de final, semifinais e final. Ao todo, seria 25 rodadas, 1 a mais que o modelo atual;
    • Conferências: África do Sul, Irlanda/Itália e Gales/Escócia;
    • E quanto aos Jaguares nesse formato? Seria momento para a Argentina se focar na estruturação do projeto da Liga Sul-Americana, abandonando o projeto dos Jaguares;
  • PRO14 transformado em PRO20 (com Jaguares): caso os Jaguares sigam como aposta para a Argentina, seria essencial a migração do time para o PRO14. Neste caso, abriria-se uma vaga extra a um time de outro país e a candidata mais provável seria a Itália, que vem falando em ter um time em Roma nos próximos anos. Mas Geórgia, Alemanha, Espanha ou qualquer outro país poderia entrar nas discussões. Com 20 times, um formato possível seria:
    • Pontos corridos sem grupos, com cada time fazendo 22 jogos na temporada regular, sendo 1 jogo contra cada equipe da liga + 3 clássicos extras;
    • Irlanda e Gales têm 4 times cada e os 3 clássicos extras seguiriam a lógica com todos os times desses países duelando internamente 2 vezes;
    • Para a África do Sul, os clássicos extras seriam entre seus 6 times, ou seja, cada sul-africanos enfrentaria 3 rivais 2 vezes, mas jogaria apenas 1 vez contra outros 2 rivais, aplicando-se rotatividade;
    • Com isso, italianos, escoceses e argentinos, que totalizariam 6 times juntos, seguiriam a lógica de rotação da África do Sul;
    • O mata-mata, a partir das quartas de final, geraria um total de 25 rodadas;
  • Super Rugby: sem sul-africanos e argentinos, o Super Rugby voltaria ao formato de pontos corridos, todos contra todos, e poderia passar por expansão, trazendo o Western Force (da Austrália) de volta e explorando a criação de novos times na Ásia (um segundo time japonês, uma equipe em Hong Kong ou até em Fiji estariam na pauta). Na minha opinião, seguindo as sugestões de meu último artigo, o mais lógico seria uma liga de 13 times, com 5 neozelandeses, 5 australianos (incluindo o Force), 2 japoneses e 1 representando todo o Pacífico, baseado em Hong Kong e jogando eventualmente em Fiji e Samoa;
    • O torneio precisa de 15 semanas no mínimo, para ter 13 rodadas na primeira fase seguidas de semifinais e final;
  • Nada de Copa Europeia para os Sul-Africanos. É preciso uma “Super Cup”: creio que para os sul-africanos seria importante a manutenção de uma copa contra os times neozelandeses e australianos. Minha ideia, é um torneio curto, em setembro e outubro, de no máximo 6 rodadas, entre os melhores do Super Rugby e os melhores sul-africanos e argentinos do PRO18/20. Qual a ideia?
    • 12 times (4 do PRO18/10 e 8 do Super Rugby), divididos em 4 grupos de 3 (com 1 time do PRO18/20 e 2 do Super Rugby em cada). Cada time faria 4 jogos dentro do grupo, com os campeões avançando às semifinais;
    • Como as férias dos campeonatos europeus são em julho/agosto, todos os 4 jogos dos times do PRO18/20 nessa “Super Cup” precisariam ser em setembro (enquanto os confrontos entre os times do Super Rugby seria em agosto);
    • O PRO18/20, no entanto, começa em setembro. Os 4 jogos dos sul-africanos/argentinos que tiverem que ser adiados seriam disputados em dezembro e janeiro, nas 4 datas desses meses que os europeus jogam a Champions Cup. Por isso, tais rodadas adiadas precisam ser de clássicos regionais para sul-africanos/argentinos;
    • As semifinais e a final da Super Cup precisam ser em outubro, nas 2 datas destinadas pelos europeus à Champions Cup;
  • Currie Cup: acabaria se tornando uma segunda divisão sul-africana. Mas um mata-mata entre os times menores contra os 6 sul-africanos do PRO18/20 poderiam ocorrer em abril e maio nas 3 datas destinadas pelos europeus à Champions Cup. Por exemplo, um mata-mata com 8 times, os 6 grandes e 2 pequenos;
  • The Rugby Championship: impossibilitado de ocorrer em agosto, setembro e outubro, o Rugby Championship, na minha opinião, precisa ser jogado juntamente com o Six Nations, em fevereiro e março. Isso criaria a seguinte situação:
    • O formato de todos contra todos em turno e returno atual não caberia nesse espaço, pois seria muito desgastante. Todos contra todos em turno único poderia ser benéfico ao torneio, diminuindo as chances de um domínio total dos All Blacks e oferecendo maior imprevisibilidade ao torneio. Para aumentar receitas e criar 2 jogos em casa e 2 jogos fora para todos os times o Japão deveria ingressas na competição;
    • Assim, com 5 times (incluindo o Japão), o Rugby Championship teria 5 rodadas (4 jogos e 1 folga para todos os times), podendo começar na primeira semana de fevereiro e acabar na primeira semana de março;
    • Com isso, o Rugby Championship seria o primeiro torneio para atletas australianos e neozelandeses no ano, que fariam a pré-temporada de janeiro com a seleção;
    • O Super Rugby começaria, assim, na terceira semana de março, totalizando 15 semanas até o fim de junho, quando precisará se encerrar;
  • Bledisloe Cup: como All Blacks e Wallabies se enfrentariam somente 1 vez no Rugby Championship em fevereiro ou março, os outros 2 jogos entre eles pela Bledisloe Cup ocorreriam na primeira metade de agosto, logo após os amistosos internacionais de julho;
    • Com isso, Mitre 10 Cup neozelandesa e NRC australiano teriam a mesma situação da Currie Cup sul-africana, virando o equivalente às segundas divisões;
  • All Blacks contra Springboks: com um Rugby Championship mais curto, os Pumas só fariam mesmo 1 jogo por ano contra All Blacks e Wallabies e não haveria mais espaço no calendário para mais. Porém, o clássico All Blacks e Springboks não poderia ter somente 1 jogo por ano, pois é muito valioso. O segundo jogo poderia ocorrer no último fim de semana de outubro, entre o fim da Super Cup e o início dos amistosos de novembro;

Ou seja, minhas sugestões de calendários seriam:

Para a África do Sul:

Agosto = Férias + Pré Temporada / Setembro-Outubro = Super Cup (6 semanas) + PRO18/20 + All Blacks-Springboks (1 semana) / Novembro = Tests para os Springboks (3 semanas) + PRO18/20 / Dezembro-Janeiro = PRO18/20 / Fevereiro = Rugby Championship (4 semanas) / Março = Rugby Championship (1 semana) + PRO18/20 / Abril-Maio-Junho = PRO14/18 + Currie Cup (Finais, 3 semanas) / Julho = Tests para os Springboks + Férias;

Para Austrália e Nova Zelândia:

Agosto = Bledisloe Cup (2 semanas) + Super Cup (2 semanas) / Setembro-Outubro = Super Cup (6 semanas, mas só 4 jogos por time) + All Blacks-Springboks (1 semana) / Novembro = Tests para Wallabies e All Blacks (3 semanas) / Dezembro = Férias / Janeiro = Pré Temporada / Fevereiro = Rugby Championship (4 semanas) / Março = Rugby Championship (1 semana) + Super Rugby (2 semanas) / Abril-Maio-Junho = Super Rugby (12 semanas) / Julho = Tests Wallabies e All Blacks;

Para Argentina e Japão:

Argentina seguiria a base do calendário sul-africano e o Japão seguiria a base do calendário australiano e neozelandês, apesar de ambos terem a Liga Sul-Americana, no caso argentino, e a Top League, no caso japonês, em períodos distintos do ano.

 

Entendeu? Complicado? Pois é, mas é esse o nível de complicação que terão os ajustes necessários caso Lions, Bulls, Stormers e Sharks decidam sair do Super Rugby rumo à Europa. Quando isso poderia ocorrer? Lá para 2020. Não vai demorar muito para sabermos o que ocorrerá.