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A Rainha Elizabeth II foi um dos destaques políticos da semana ao visitar a República da Irlanda, a primeira visita de um monarca britânico à república que se separou do Reino Unido em 1920, tornando-se um país independente.

Algumas confusões são frequentes quando se fala em Irlanda e Reino Unido. Cabe antes esclarecê-las de forma sintética. Em 1603, o Rei Jaime I (James I, para os ingleses, James IV, para os escoceses), então Rei da Escócia, herdou a coroa da Inglaterra, unificando as coroas dos dois reinos. Gales já havia sido anexado legalmente à Inglaterra no século XVI, na forma de principado. Apesar de unidas sob a mesma coroa, Escócia e Inglaterra só passaram a constituir um mesmo Estado em 1707, com o Act of Union. À época, a ilha da Irlanda já era possessão da coroa inglesa, conquistada nos séculos XII e XIII, e unida à coroa no século XVI. Em 1800, um novo Act of Union garantiu à Irlanda o status de nação constituinte, com o estabelecimento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda.

O nome se deve às duas principais ilhas que compõem o país: a ilha da Grã-Bretanha (onde estão Inglaterra, Escócia e Gales) e a ilha da Irlanda (onde hoje estão a República da Irlanda e a Irlanda do Norte). Até 1920, o Reino Unido foi formado por três países constituintes: Inglaterra, Escócia e Irlanda, sendo que Gales, governado pelas leis inglesas, tinha certa autonomia como nação.

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Quando as uniões de rugby foram formadas, no século XIX, Escócia, Irlanda e País de Gales tinham garantida autonomia para fundarem seus próprios órgãos dirigentes e suas seleções nacionais. O nome Home Nations foi designado pelo fato de serem os lares das nações que formavam o Reino Unido.

Escoceses, irlandeses e galeses são povos com filiações étnicas distintas dos ingleses. São eles povos celtas, falantes (ao menos originalmente) de línguas celtas, enquanto a origem dos ingleses é anglo-saxã, isto é, germânica. Portanto, o sentimento nacionalista e, muitas vezes, separatista dessas nações aflorou. Em 1917, os irlandeses se levantaram contra o domínio da coroa e proclamaram a independência reconhecida em 1922. O estabelecimento como república se deu em 1949, com o completo desligamento da coroa britânica.

Distinção importante dos irlandeses com relação aos ingleses é a religião. Tradicionalmente, a Irlanda tem uma maioria católica, ao passo que a Inglaterra tem maioria anglicana, que não reconhece a autoridade do papa, sendo o monarca britânico a autoridade. O movimento separatista irlandês não contou com o apoio de seis condados do norte da ilha, de maioria anglicana. Esses condados (que representavam a maioria dos condados da região de Ulster) formaram a Irlanda do Norte, que permanecia parte do Reino Unido, agora chamado de Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Entretanto, apesar da separação política ter ocorrido, a separação no rugby não ocorreu. Os norte-irlandeses permaneceram fiéis à União Irlandesa de Rugby, que passou a representar as duas unidades políticas da ilha. Portanto, a seleção de rugby da Irlanda representa tanto a República da Irlanda como a Irlanda do Norte. O futebol, por sua vez, formou organizações e seleções separadas para cada Irlanda.

Apesar da grande popularidade, o rugby union não é o esporte favorito dos irlandeses. Futebol Gaélico e Hurling, dois esportes autóctones (tipicamente irlandeses), ganham as preferências esportivas, por serem íncones da cultura nacional e da afirmação da Irlanda como nação. Um lugar em especial é muito caro aos irlandeses: o Croke Park, em Dublin.  Trata-se do principal estádio dos esportes gaélicos, de propriedade da GAA (Gaelic Athletic Association, entidade que organiza, dentre outros esportes, o hurling e o futebol gaélico). Durante os levantes pró-independência, as autoridades britânicas enxergavam os dois esportes como manifestações populares perigosas, por carregarem consigo uma grande carga de nacionalismo. Em 1920, durante um jogo de futebol gaélico, tropas britânicas entraram no estádio e massacraram espectadores e atletas (foram 15 mortos), em episódio conhecido como Domingo Sangrento (Bloody Sunday). Com a independência, a disputa de críquete, rugby (union e league) e futebol, esportes de origem inglesa, foram banidos do Croke Park, como um símbolo da nacionalidade irlandesa.

Somente em 2007, rugby union e futebol voltaram a ser praticados no estádio, em momento ímpar. Com a demolição do estádio de Landsdowne Road, tradicional casa do rugby e do futebol, para a construção de um novo estádio em seu local (o Aviva Stadium), as principais partidas das seleções irlandesas de rugby e de futebol necessitavam de um novo palco. IRFU (rugby), FAI (futebol) e GAA chegaram a um acordo, e o Croke Park, estádio para 82,300 espectadores (o quarto maior da Europa), virou a casa de todas as seleções nacionais da Irlanda, até 2010. Foi nesse palco que a Irlanda quebrou o jejum e conquistou o título do Six Nations (Seis Nações) de 2009, quebrando recordes de público. Os duelos do rugby entre Irlanda e Inglaterra foram o ponto alto da experiência do rugby no estádio, por toda a história envolvida. Em 2007, na primeira partida entre as duas seleções no Croke Parl, a Irlanda conquistou sua maior vitória na história sobre os ingleses: 43 x 13.