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Na semana passada, a CBRu se despediu de um importante personagem de sua história recente. Bernardo Costa Duarte, diretor de torneios e eventos da entidade de 2013 a 2017, encerrou seu ciclo no Brasil e voltou a Portugal, partindo para uma nova etapa em sua carreira profissional. Victor Ramalho entrevistou Bernardo para seu balanço sobre esses quase cinco anos de trabalho à frente das competições do rugby nacional.
Bernardo, qual o quadro que você encontrou na CBRu e no rugby brasileiro no momento de sua chegada ao país? O que te preocupava e o que te animava mais?
Cheguei à CBRu depois de já estar há um ano e meio no Brasil, tendo jogado pelo Bandeirantes. Cheguei já tendo noção do rugby brasileiro. Quando entrei na CBRu, em março de 2013, ela vivia um momento de transformação.
Logo que cheguei tínhamos dois amistosos contra o México 20 dias depois mas não havia ainda local marcado para o segundo jogo e essa foi minha primeira preocupação! Tentamos usar o Nacional [em São Paulo], chegamos a fechar o estádio do São Caetano e o presidente do clube vetou. Mas conseguimos garantir o Martins Pereira em São José e o Bruno Daniel em Santo André. Tudo parecia correr bem e na hora de começar o jogo alguém me perguntou, “onde estão as bolas do jogo?” o Itallo e eu nos olhamos e percebemos que não havíamos levado as bolas! Fácil o começo! Mas tudo deu certo, após esse primeiro impacto.
Passados esses jogos, a primeira preocupação foi analisar os campeonatos nacionais de clubes e propor um caminho novo. Fizemos um Super 10 diferente, com final na Arena Barueri, que foi o primeiro grande estádio moderno que usamos. Também mexemos no Super Sevens, acabando com o velho BR Sevens. Preocupação sempre em analisar os campeonatos nacionais e buscar melhorá-los.
E, claro, tínhamos o objetivo de dar um passo adiante com os eventos da seleção, buscando também ampliar o calendário da seleção, que jogava pouco na época. O primeiro grande evento foi termos convidado Portugal para jogar conosco em Barueri, em um jogo que foi muito especial para mim, pois joguei na seleção portuguesa, com todos os jogadores que vieram para cá.
E como você compara a realidade brasileira com a portuguesa no momento que você chegou ao Brasil?
O que mais me marcou foi ver como no Brasil se jogava com pouca frequência. Em Portugal se jogava todo fim de semana. A seleção inclusive jogava pouquíssimo. Eu como atleta jogava o Six Nations B e amistosos direto. Joguei duas vezes a Nations Cup, joguei com Canadá, Estados Unidos, Tonga, Uruguai, Chile… Além disso, eu treinava 3 vezes por semana em meu clube e nos demais dias na seleção, o que era facilitado porque Portugal é pequeno.
E o segundo impacto foi a qualidade ruim das estruturas de rugby dos clubes, a má qualidade dos gramados em geral.
O que foi mais importante para você nos torneios internacionais realizados no Brasil de 2013 a 2017, não contando o Rio 2016?
O evento mais importante foi a Série Mundial de Sevens Feminina em Barueri, porque foi o maior desafio e o evento que impactou mais positivamente a imagem da CBRu no exterior e, sobretudo, com o World Rugby, em um momento que nos olhavam com preocupação por conta do Rio 2016.
Foi um trabalho direto junto do World Rugby, que começou na negociação. Fui ao Chile no Mundial Juvenil, conheci o Santiago Ramallo e a Alison Hughes, que nos apoiaram a receber a competição. Para eles, era essencial entender como se trabalhava no Brasil, pensando na Olimpíada, conhecer o rugby brasileiro e formar pessoas para o trabalho no Rio 2016. Foi o grande foco do trabalho de todo mundo na CBRu até entregarmos a competição em 2014.
O estádio era ótimo, mas não tinha campo de aquecimento. Nos desdobramos nos três anos para encontrarmos o local certo para o aquecimento e chegamos até em um ano a fazer fora do estádio, na rua, onde montámos um gramado sintético(!) o que foi legal para a interação das pessoas com as atletas, mas não era o ideal. Foi o ponto baixo na verdade do evento. Mas a organização foi muito elogiada e pudemos pela primeira vez trazer um evento de sevens desse nível à América do Sul.
Quais eventos o Brasil ainda poderia pleitear receber?
O Brasil pode pleitear receber qualquer evento hoje porque criou uma ótima impressão junto da World Rugby. O Brasil poderia voltar a receber a Série Mundial, mas temos o desafio de aumentar a quantidade de público, que não foi bom para o World Rugby. Não podemos fazer eventos e as pessoas do rugby ficarem em casa. E para fazermos em locais mas centrais, como o Pacaembu, os custos aumentam e quando eles aumentam precisamos de soluções como cobrar ingressos. Não tem muito como escapar dessas questões.
Melhor um estádio grande e vazio ou um pequeno e cheio? Como escolher os locais?
Esse é um dilema importante: fazer nos estádios maiores que as pessoas gostam mais, mas que custam mais, ou voltar a estádios menores e mais baratos?
É importante lembrar que o calendário internacional foi mudando. O Sul-Americano deixou de ser em sede única, começamos a fazer jogos em junho e em novembro e veio o Americas Rugby Championship. E para recebermos jogos bons, precisamos de estádios bons. E bons entenda-se como tendo condições de vestiário, cabines para TV, conforto para o público, etc. E no Brasil é difícil um estádio pequeno e com boas condições, como há na Europa. Ou mesmo no Uruguai, que tem o Charrua com boa estrutura e tamanho ideal. Não é à toa que eles estão recebendo muitos eventos. Em geral, no Brasil quem tem a boa estrutura são os estádios maiores e mais novos.
O estádio do Nacional em São Paulo é um exemplo de um campo com tamanho que gera uma atmosfera legal, com localização central, e que na última vez que foi usado, na final do Super 8 de 2014, houve pouco público.
E esse jogo do Super 8 teve uma ótima história por trás, não foi?
Foi! Quando marcamos aquele evento, tudo parecia que estava certo. Mas o clube nos informou na semana do jogo que haveria um jogo de futebol juvenil, Palmeiras contra Corinthians, de manhã! Não tínhamos mais como mudar o local e montamos uma força tarefa para converter um campo de futebol em campo de rugby em 1 hora, com a TV em cima da gente! E conseguimos, mas esquecemos de retirar um gol. Ninguém reparou, nem o árbitro! Mas retiramos rapidamente no intervalo e deu tudo certo. Foi um dos casos mais difíceis de se fazer que tivemos. Já passamos bons perrengues.
E sobre os locais que vocês procuraram desde então?
Barueri sempre foi uma ótima opção, pois a prefeitura sempre apoiou. São José dos Campos também, porque lá é certeza de que haverá público e o estádio é bom. Em 2015, tivemos uma ótima surpresa com Blumenau, que foi perfeito e teve casa cheia, e chegamos ao Pacaembu, que é o estádio central que o público gosta.
Já o Allianz Parque foi ótimo, é um estádio perfeito, lindo, e com o jogo lá contra o Uruguai aprendemos algumas coisas. Tivemos problemas com a bilheteria porque muita gente comprou os ingressos online e deixou para retirá-los na hora e nós não previmos isso, tendo somente uma bilheteira aberta com 4 ou 5 guichês.
O movimento futuro é encontrar um equilíbrio entre tudo isso. Creio que criamos uma oferta além da demanda de alguma forma e talvez hoje haja menos procura do público. Portanto, talvez hoje seja melhor fazer menos eventos em estádios como o Pacaembu, o Allianz ou estádios de Copa do Mundo em outras praças, mas que sejam esses os jogos certos que atraiam público. Quando há muitos jogos nos estádios maiores, o público se dilui. E o patrocinador gosta de que o estádio esteja cheio.
Nos demais jogos podemos apostar nos campos mais modestos, com boa atmosfera, assim como tentar sempre abrir espaços em novas cidades, como foi em Bento Gonçalves, Volta Redonda, Blumenau, Macapá. No entanto, precisamos lembrar que nossa seleção é de alto rendimento e por isso é sempre importante conseguir encontrar um equilíbrio entre o que é bom para o evento e o que é bom para os jogadores.
Acho também que é uma pena não se poder beber cerveja dentro dos estádios brasileiros, porque é uma tradição do rugby e nos afeta. Tem gente que deixa de ir ao estádio por isso.
Posso dizer que sempre tivemos ótima relação com os locais onde fizemos eventos, com os gestores dos estádios, com a polícia, com todo mundo. Aliás, eles sempre ficam impressionados com o bom comportamento das torcidas. Os administradores sempre ficam espantados como não precisamos separar a torcida.
Podemos voltar a receber um Sul-Americano Feminino?
Sim, mas a Sudamérica Rugby vem buscando reduzir custos e por isso ela tem optado por torneios que já existem, que é o caso do Valentin Martinez. No Brasil, eles teriam mais custos.
O Brasil concorreu também para receber a Série Mundial de Sevens Masculina. O que ocorreu?
Concorremos em 2014 sim, mas os concorrentes foram muito fortes. Singapura ofereceu grandes atrações e Vancouver tinha até vídeo da prefeita em sua apresentação. Concorremos com São Paulo e nosso objetivo era levar o torneio para o Allianz Parque, mas estávamos fazendo sem apoio público. Ficou difícil. O custo também era elevado demais. É difícil dizer sem ter feito, mas a Série Mundial masculina talvez tivesse sido grande demais para nós tocarmos naquela altura. Em geral, as federações que organizam contam com apoio forte de empresas especializadas em montagem deste tipo de eventos esportivos.
Falando agora sobre torneios de clubes e sobre como você enxerga a evolução das competições masculinas nacionais no período que você esteve à frente dos Torneios. Começando com o Super 8: como a competição foi pensada? Ela passou de Super 10 para Super 8 e agora Super 16. E como nasceu a Taça Tupi?
Herdamos um Super 10 com 2 grupos de 5. Eram poucos jogos. A primeira medida era fazer todos contra todos, aumentando o número de partidas para 9 mais mata-mata. E essa primeira mudança já havia gerado barulho, porque havia quem criticasse que seriam jogos demais.
Percebemos que gastávamos muito com passagens para termos jogos desnivelados, então reduzimos o campeonato de 10 para 8, mas passamos a fazer turno e returno, para termos mais e melhores jogos. Por isso, acabamos criando a Taça Tupi, para ter outra competição boa aos times que não estariam no Super 8.
Para mim, a Taça Tupi foi uma das coisas mais importantes que fiz na CBRu. Antes, a segunda divisão era muito incipiente e ampliamos ela de 4 para 12 clubes, com muito mais jogos para essas equipes. Isso permitiu que novas forças acabassem emergindo, como Jacareí e Poli, que são os casos mais óbvios, mas também clubes como o Pé Vermelho, Charrua, San Diego, Guanabara, Chapecó, Joaca, Templários, que evoluíram nesse período.
A Taça Tupi nesse período teve mudanças em seu formato para reduzir viagens também, por isso passamos de 2 grupos de 6 para 3 de 4. Se fosse em um país menor, era possível termos mais jogos, mas no Brasil não, porque gasta-se demais com viagens. E isso porque é só Sul e Sudeste.
Está mais difícil captar recursos e precisamos também lembrar que a CBRu não é uma agência de transportes e sim uma confederação de rugby. Dinheiro investido em transporte poderia ser usado em treinadores, juvenis, estrutura. Somos um ótimo cliente das companhias de ônibus e aéreas, gastando na casa de milhão. É necessário? Sim, mas precisamos encontrar meios de gastar menos com transporte e investir em rugby propriamente e por isso nasceu o Super 16 agora.
Como funciona o processo decisório sobre como serão as competições?
Até 2016, as decisões foram tomadas unilateralmente pela CBRu. Não era diretamente com os clubes, mas eles estão representados no Comitê da CBRu – e se não estão, eles precisam se fazerem ouvidos pelos representantes. E isso é algo que precisa evoluir. As federações precisam representar os clubes.
Em 2016, percebemos que para uma mudança radical seria preciso envolver mais os clubes e fizemos reuniões com eles para encontrarmos o novo modelo. Antes, de alguma maneira, nosso foco no Rio 2016, por exemplo, fez com que muitas coisas acontecessem no automático, o que é normal e acaba deixando menos tempo para o planejamento de longo prazo.
Sobre mudanças, o mesmo está ocorrendo com o sevens masculino, pois há uma demanda de clubes para que se volte o modelo de circuito. Uma nova proposta está sendo desenhada.
Você como ex jogador e ex treinador prefere sevens antes ou depois da temporada de XV?
Depois. Mas acabamos fazendo antes da temporada de XV nos últimos anos por uma questão de calendário.
E como se monta o calendário? Como é o diálogo para isso com os estados?
Essa é uma questão polêmica sempre em qualquer lugar. Na Argentina, por exemplo, andou mudando bastante. Como fazemos normalmente? Nós comunicamos o nosso calendário às federações estaduais para que elas depois montem os seus. Normalmente não há problemas, mas, como ocorreu em 2017, às vezes acontece de termos problema com o financiamento e sermos obrigados posteriormente a fazer alterações. O único estado que sofre mesmo com isso é São Paulo porque felizmente há muito rugby no estado e o congestionamento é normal que ocorra. Isso aliás será problema em 2018 porque haverá clubes do Paulista B jogando a Taça Tupi novamente. Será preciso comunicação.
O formato dos campeonatos agora vai ajudar nisso. Até este ano, a fase preliminar da Taça Tupi, apesar de oferecer justiça à classificação à fase de grupos, criava incerteza para as equipes e para nós mesmos sobre a sequência do ano. Agora não ocorrerá isso.
É possível incorporar outros estados aos torneios nacionais masculinos?
Sim, porque o novo modelo abre espaço para isso. A CBRu está preparada para tal e a regionalização é importante ainda mais pensando nesse sentido, para não ter tantos custos de viagens. Mas é preciso os estados se organizarem primeiro e terem suas federações. Eu pessoalmente acho fundamental a CBRu aumentar a sua abrangência, mas foram poucos os estados que caminharam no sentido correto. Preciso tirar o chapéu para compatriota Manuel Cabral na Bahia, que organizou o estado, reuniu os documentos. Começou pelo princípio.
Os calendários internacionais afetam o trabalho?
É uma cadeia hierárquica. O World Rugby solta seu calendário, depois é a vez da Sudamérica Rugby, seguida pelas confederações nacionais e pelas federações estaduais. O World Rugby costuma soltar com bastante antecedência, mas o processo inteiro sempre acaba por gerar alguns conflitos. É normal. É preciso sabermos fazer o calendário sabendo de algumas incertezas e os clubes saberem se planejar mesmo sabendo que poderão perder atletas para eventuais novos compromissos das seleções. São desafios.
O rugby juvenil foi um problema para você. O Nacional Juvenil não vingou e a Copa Cultura Inglesa foi reduzida.
Quando eu entrei em 2013 tínhamos uma Copa Cultura Inglesa de XV de nível fraco com altos custos. Pensamos então em organizar o Nacional de seleções estaduais e tivemos problemas, como WOs. As federações estaduais também não tinham o foco e a prática em montar essas seleções. E o torneio para ser disputado por clubes não fazia sentido naquele momento. Chegamos até a colocar em regulamento imposições para que os clubes do Super 8 tivessem juvenis e nós temos que assumir que falhamos nisso por jamais termos cobrado o que estava nos regulamentos. Não cobramos para não “quebrar as pernas” dos clubes. E acabamos por retirar isso dos regulamentos.
Talvez o caminho para os juvenis seja de fato os torneios regionais, onde há menos custos. Não da pra pensar nacional juvenis sem ter estadual juvenil. Mas é uma frustração minha não ter encontrado o modelo nacional para os juvenis.
Sobre a Copa Cultura Inglesa, ampliamos o torneio ao longo do tempo e somente agora tivemos que reduzi-lo. O patrocinador cobrava há algum tempo que realizássemos a competição em São Paulo e o SPAC Lions se ofereceu como a melhor opção, em tempos de necessidade de cortar custos. Não é para o torneio seguir assim nos próximos anos, mas foi o possível para agora.
Sobre o juvenil, é preciso ainda ressaltar bons exemplos de clubes e o Jacareí é um clube modelo hoje que começou seu trabalho pelo princípio: a base.
Passando ao rugby feminino, o que você enxerga sobre o modelo do Super Sevens? Qual o futuro para o feminino?
O feminino é um desafio. Porque temos por um lado uma seleção que domina a América do Sul, mas por outro ela tem muito a crescer no cenário mundial. Quando falamos do nível do Super Sevens, posso dizer que os principais clubes brasileiros venceriam as demais seleções sul-americanas. Mas para o nível global ele ainda não é forte o bastante. Eu acho que é um campeonato que precisa ser revisto, sobretudo com a chegada de cada vez mais clubes de outras partes do país, que podem inviabilizar financeiramente o circuito, pelos custos de viagens.
Por isso, já propusemos um Super Sevens regionalizado, mas a proposta foi rechaçada pelos clubes. Agora está na hora de reabrir essa discussão. Muitas vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois adiante.
O novo modelo a ser implementado precisa também de ter em consideração as atletas juvenis. Talvez uma boa proposta seja reduzir o numero de times por etapa (8?) e fazer com que estejam acompanhadas pelos times juvenis. Desta forma poderia ser criada uma segunda divisão que seria espelho da primeira. Outra ideia seria fazer uma primeira fase do circuito por regiões e depois passar para uma fase nacional, com as melhores de cada região. Enfim, o rugby feminino brasileiro tem um potencial imenso e precisa ser reacomodado para poder cumprir com esse potencial!
E o XV feminino?
Acho plausível existir sim, mas é preciso nascer antes nos clubes e com torneios estaduais. Só depois se deve pensar em nacional. É preciso primeiro começar a jogar antes de demandar.
Falemos sobre arbitragem. Quais os desafios? É um campo que afeta o departamento que você conduzia.
É um assunto delicado. Quando comecei na CBRu, o Marcelo Toscano era o diretor de arbitragem, com uma proposta ambiciosa e estruturada, pensando em um modelo sustentável, mas que acabou não se concretizando. Num momento seguinte, as designações eram feitas voluntariamente pelo Xavier Vouga e pelo Henrique Platais. E apesar de eles terem tentado estruturar um sistema de avaliações e feedbacks, isso acabou por não dar certo. É uma área que ainda tem muito a se trabalhar.
Hoje temos um bom grupo de árbitros em número suficiente, mas mal distribuído. Há muitos árbitros em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mas faltam em outros estados, o que é grave para os torneios nacionais, sobretudo quando os campeonatos se regionalizarem. É esse o grande desafio para mim.
Tivemos também a questão de passar a escala dos auxiliares para responsabilidade das federações em 2016 e isso se deu por falta de dinheiro. Isso foi ruim. Mas já em 2017 voltamos a fazer as designações.
O que você acha do CNRU, o Cadastro Nacional?
Ele foi um passo importantíssimo e com o tempo mais federações e clubes foram aderindo ao sistema. É importante as pessoas entenderem a necessidade do sistema, pois ele permite que tenhamos mais informações sobre o rugby brasileiro. Mas há melhoras necessárias a serem feitas. Por exemplo, é preciso que ele seja usado mais facilmente por celulares. Infelizmente, por questões financeiras, ele não foi um investimento prioritário nos últimos anos. Seria legal termos um hotsite que mostre tudo o que o CNRU tem, como são os hotsites dos torneios, para que as pessoas visualizem melhor sua utilidade.
Outra coisa importante: quanto mais adesão o CNRU tiver, mais dados podemos cruzar. Isso seria útil, por exemplo, para suspensões que ocorrem nos torneios nacionais poderem ser cumpridas em torneios estaduais e vide versa.
Falando sobre suspensões, e o Tribunal? Não era sua área, mas afetava seu trabalho.
É uma área que precisa seguir evoluindo. O STJD foi remodelado. Em 2013 ele mal existia. A Comissão Disciplinar acabou se mexendo pelas mãos dos veteranos e começou a funcionar, mas ainda há falhas.
Filmagens são problema ainda para a transparência das decisões.
Sim, quando a CBRu filmava os jogos funcionava melhor, mas tivemos que fazer os cortes por questões financeiras. Para os clubes, na verdade, é mais fácil filmar, porque eles não precisam contratar por meio de licitação o serviço e podem usar pessoas do clube. Mas aí esbarramos na questão dos valores do rugby. É complicado quando o clube faz cortes ou não filma o que tem que ser filmado. Esse é um momento de se por em prática os valores.
Temos que, de qualquer forma, mudar o processo para não depender disso. E é difícil punir. Cheguei a ouvir até um clube pedindo pra ser multado porque preferia a multa a ter que filmar. É necessário todo mundo entender e participar do processo e entender que para o campeonato funcionar é preciso que o atleta que tem que ser punido seja punido, mesmo sendo do seu clube.
Alguns regulamentos têm problemas também, como esse último da Taça Tupi.
Houve problemas sim. As vezes os regulamentos eram isentos demais, às vezes rígidos demais.
Em 2017, tivemos a questão do problema da promoção da Taça Tupi. O regulamento não estava errado mas não estava claro. Havíamos explicado em vídeo o processo, mas não ficou claro na redação. E ninguém havia percebido que havia um grupo com todos os clubes promovidos desde o início. Não fizemos a conta. Ninguém fez, infelizmente. Quando fiz as contas percebi o erro tarde demais.
Mas a divisão dos grupos era necessária pela regionalização. Não havia alternativa à divisão dos grupos pela geografia. E a divisão geográfica não tem que mudar, porque ela foi feita pensando a longo prazo. Mesmo que, por exemplo, a Taça Tupi não preencha as 16 vagas. Por isso mesmo, o Ranking de clubes também é uma medida importante.
O que você pensa sobre os seguros para os atletas?
O rugby é um esporte que traz situações de risco. Eu mesmo quando jogava no Band, na final do Super 10 em 2010, em Embu, levei uma joelhada na cabeça, convulsionei, não tinha convênio médico porque havia acabado de chegar ao Brasil e graças a Deus minha esposa estava no estádio e me levou para o hospital certo. E a conta foi salgada!
Ter um seguro de vida é muito importante e hoje há cada vez mais opções. O que ocorrerá agora é que a contratação não será mais feita pela CBRu, mas temos corretores para indicar que já lidam com opções de seguros bons para quem pratica esportes como o rugby.
Fechando o papo. Qual evento te deixou mais feliz no Brasil? Excetuando o Rio 2016, claro.
A Série Mundial Feminina foi o ponto alto mesmo e o primeiro, de 2014, foi fenomenal. Minha esposa fala que foi nosso primeiro filho, porque de fato foi gestado por 9 meses. Foi um trabalho cheio de desafios em que recebemos muitos elogios, tendo um encerramento fenomenal com o terceiro tempo em uma escola de samba.
Mas não posso não falar no jogo contra Portugal em 2013, que foi especial para mim por tudo. Por ser o primeiro grande teste por eu ter jogado pelos Lobos. Foi emocionante demais eu ouvir os dois hinos sendo tocados em Barueri. Me emocionei naquele momento.
O que você gostaria de ter feito e não fez?
Ter viabilizado o juvenil. Comecei a jogar rugby aos 12 anos e vim de um país onde se joga toda semana. Falta isso aqui ainda para os jovens. O que vimos no SPAC Kids neste mês em São Paulo, que teve um evento infantil lotado, é o que vemos com regularidade em Portugal, por exemplo.
Quem mais te ajudou? A dupla com o Itallo marcou.
Sempre tive muito apoio de todo mundo desde que cheguei na CBRu. Mas o Itallo Marques foi uma pessoa fenomenal e trabalhamos muito bem juntos. As vitórias de um foram vitória do outro, e as derrotas idem. Fico descansado que a parte de Torneios ficará com ele, pois dará ótima sequência ao trabalho. Criamos uma ótima sintonia e uma boa relação com as pessoas do rugby.
Quando fui ao Rio 2016, o Itallo ajudou muito a tocar as coisas na CBRu.
É também justo dizer que tive sempre muito apoio do resto do Staff e que todos os que passaram na CBRu (alguns ainda estão!) nos últimos anos tiveram um papel importante no crescimento do rugby nos últimos anos. A mesma coisa preciso dizer dos dois grupos de CA que administraram a Confederação no tempo em que eu foi funcionário.
E os desafios no Rio 2016?
Foram grandes desafios. Logo depois do evento teste do rugby o mesmo gramado recebeu Pentatlo Moderno. Cavalos na chuva naquele campo. Estragou tudo. Depois, o calor era imenso e a grama começou a morrer na sequência. Improvisamos um jeito de pegar água de caminhões para o campo não morrer.
Mas tudo caminhou bem e conseguimos reunir e implementar boas práticas no evento. O estádio estava bem desenhado, a experiência do espectador foi boa, e fomos elogiados pelo trabalho que desenvolvemos!. A programação saiu perfeita, os neozelandeses fizeram haka, Fiji deu um show antes da festa de premiação. Até inovamos facilitando a troca de roupa dos atletas para a premiação. E tudo foi pontual.
Outro ponto muito positivo foi que a equipe que trabalhou no evento de rugby dos JO foi fora de série e só isso permitiu que tudo saísse tão bem.
Vida em Portugal: o que você está planejando?
Vai nascer meu segundo filho, Francisco Xavier, então minha primeira etapa é familiar. Tenho feito alguns contatos profissionais, dentro e fora do rugby. O trabalho feito no Rio 2016 e junto do World Rugby foi muito bom para mim. Uma única certeza é que ficarei sempre a torcer pelo Rugby Brasileiro!!
Obrigado, Bernardo! Sucesso em seus planos futuros.
Sensacional figura, um verdadeiro rugbier na acepção da palavra, dentro e fora de campo. Desejos de sucesso e muitas felicidades!