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Nessa sexta-feira, dia 23, atletas e árbitros poderão votar em seus representantes no Conselho de Administração da Confederação Brasileira de Rugby. Cinco nomes foram indicados pelas federações estaduais como candidatos(as) a representantes dos atletas e nós falamos com todos(as) eles. Perguntas iguais para que você possa analisar em quem votará. Afinal, mas de 6 mil jogadores (registrados no CNRU) poderão votar. Fique atento(a) na sexta-feira, acesse seu cadastro e veja se você estará habilitado(a) a votar. Faça sua parte para ajudar o rugby a seguir crescendo. O ano não é só de eleições municipais. É também de eleições na bola oval.
Abaixo as entrevistas, ordenadas alfabeticamente pelo nomes dos(as) candidatos(as). São eles Bruno Korckievicz (MG), Edis Abrantes (SP), Haline Scatrut (PR), Lúcia Ferreira (RS) e Taiso Motta (RJ).
Caso haja perguntas dos leitores ou caso os(as) candidatos(as) queiram acrescentar novas visões sobre assunto variados, livremente, publicaremos um novo artigo na quinta-feira.
- – Bruno Korckievicz – indicado pela Federação Mineira de Rugby
PDR – Conte-nos sobre sua experiência no rugby, dentro e fora de campo;
Bruno Korckievicz – Jogo rugby há uns 8 anos. Entre idas e vindas sempre joguei em Uberlândia. Comecei em 2006, no antigo Leopardos, e meu primeiro campeonato foi uma etapa da CPI em Ribeirão preto, em um jogo contra o Raça Rugby Ribeirão. Depois no campeonato mineiro lembro de comemorarmos muito a primeira vitória sobre o time do BH B, bem sofrida. E agora depois de alguns (vários) anos indo em busca do título de campeão do estado, depois de dois anos de vice. Continuo treinando e atualmente tenho jogado mais de hooker (mas já joguei de pilar também, o peso nunca me deixou sair da primeira linha).
Fora de campo, comecei a ajudar mais o time em 2013, fazendo alguma coisa ou outra por ter mais tempo para me dedicar as atividades extracampo. Em 2014, com a reestruturação da diretoria do time, fiquei ajudando na parte de marketing e em 2015 assumi. Virei o diretor da área, e agora em 2016 presidente. Na parte técnica fui em 2 Super Sevens como Manager do time. Em 2015 também participei da criação da Liga do Triângulo, movimento para a fomentação do esporte na nossa região do estado. E em 2016, em parceria com a prefeitura e CBRU, fizemos o primeiro festival escolar da cidade que reuniu cerca de 400 crianças
PDR – Como você enxerga as funções e responsabilidades do representante de atletas no Conselho?
BK – Enxergo como um cargo muito importante e de muita responsabilidade. São muitos clubes em diversos estados, com necessidades diferentes, dúvidas diferentes, e questionamentos diferentes. Acredito ser importante estreitar esse laço dos atletas com a CBRU, que às vezes parece algo tão distante. Acho de extrema valia mostrar que os canais estão abertos, e que os questionamentos vão ser escutados. Acredito que essa realmente seja a intenção da confederação ao chamar pessoas para estes cargos, se mostrar aberta. Acho que mais do que um representante o cargo vai ser a “voz do povo” dentro da instituição maior.
PDR – Quais demandas e projetos você considera importantes hoje de serem levados ao conselho e que beneficiarão os e as atletas do país?
BK – Acho importante arrumar uma forma mais fácil e democrática de comunicação para todos os times e atletas conversarem com as federações e confederação. As conversas ocorrem em sua grande maioria de forma informal em diversas vezes em redes sociais, a formalidade é importante para manter o respeito e as hierarquias mas acho que isso acaba afastando a opinião de muitos por ser algo muito burocrático e justamente, formal.
Somando essa atitude a um suporte maior dos órgãos e um acompanhamento mais de perto de novos times, com a ajuda de uma equipe de desenvolvimento, que levaria cursos e acompanhamento técnico a novos clubes, acredito que teríamos um crescimento mais coeso e menos dispare, com mais vozes ativas e com conhecimentos suficientes de causa para opinar sobre a situação do Rugby como um todo.
- – Edis Abrantes – indicado pela Federação Paulista de Rugby
PDR – Conte-nos sobre sua experiência no rugby, dentro e fora de campo;
Edis Abrantes – Atuei como atleta de 1988 até 2011 pelo São José Rugby. Em 1993 iniciei como treinador nas categorias de base do São José Rugby e em 2003 auxiliei na criação da primeira equipe do Jacareí Rugby. Participei da fundação da Associação Esportiva Rugby Clube (São José Rugby) em 2000, da Associação Esportiva Jacareí Rugby em 2006; e da Liga de Rugby do Vale em 2013. Além de atleta e treinador, também já atuei como árbitro e gestor esportivo. Atualmente me dedico ao rugby exclusivamente como gestor esportivo, porém ainda jogo esporadicamente com meus amigos do Cruzeiro do Sul, clube de veteranos do São José Rugby.
PDR – Como você enxerga as funções e responsabilidades do representante de atletas no Conselho?
EA – Enxergo com grande responsabilidade representar os atletas de rugby no Conselho Administrativo da Confederação. Pois é neste Conselho que acontecem os planejamentos e decisões que norteiam a modalidade no país. Vejo como algumas funções deste representante: buscar continuamente conhecer os anseios de atletas de diferentes regiões do país; defender interesses de atletas de diferentes categorias, federações e desenvolvimento; participar de todas as reuniões deste Conselho Administrativo; apresentar propostas de novos projetos ou melhorias nos atuais.
A CBRu vem demonstrado grande potencial para auxiliar o crescimento do rugby no país. Acredito que o representante de atletas tem importante função de contribuir com esse crescimento, acompanhando os projetos em andamento e auxiliando no planejamento da Confederação.
PDR – Quais demandas e projetos você considera importantes hoje de serem levados ao conselho e que beneficiarão os e as atletas do país?
EA – Apesar dos avanços da CBRu, acredito que ainda existe muito trabalho pela frente. Desenvolver e organizar o rugby no Brasil é um grande desafio, devido sua dimensão territorial, pouca cultura da modalidade, entre outros obstáculos. Muitas destas dificuldades exigem tempo para serem vencidas, porem melhoras podem ser realizadas para resultados em curto prazo.
Considero que o fortalecimento das federações e clubes são essenciais para desenvolvimento e manutenção sustentável do rugby no país, sendo a principal demanda que quero defender no Conselho, que certamente já tem esse tema como importante pauta em suas reuniões.
Existem outras importantes demandas que vem de encontro com o fortalecimento de clubes e federações, como: definição e divulgação de calendário competitivo com maior antecedência; assessorar clubes e federações com modelos de gestão; participação e conhecimento dos clubes na elaboração dos projetos da CBRu; entre outras demandas que possam orientar o planejamento e projetos da CBRu, como também estimular e atender com mais precisão as necessidades dos clubes e atletas.
Claro que o representante de atletas também sempre deve dialogar com os atletas e demais envolvidos neste universo esportivo, para que com este debate, possa buscar sugestões de melhorias e novas ideias, assim podendo resultar em importante contribuição com as demandas e projetos decididos pelo Conselho Administrativo.
- – Haline Scatrut – indicada pela Federação Paranaense de Rugby
PDR – Conte-nos sobre sua experiência no rugby, dentro e fora de campo;
Haline Scatrut – Eu sou Haline, atleta do Curitiba Rugby Clube desde 2012. Fui convocada para compor o grupo de desenvolvimento da Seleção Brasileira de Rugby e desde 2014 jogo pela seleção principal. As portas foram se abrindo: joguei pelo primeiro time do Curitiba campeão brasileiro brasileiro feminino (Super Sevens 2015), fui medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2015 e 9º lugar nos Jogos Olímpicos Rio 2016 com a seleção. Fora de campo tive a experiência incrível de trabalhar no projeto social do VOR como estagiária de educação física dando aula para as crianças. Aprendi com os valores do rugby e utilizo eles na vida, acredito que fora de campo vivendo esses valores você tem grandes aprendizados.
PDR – Como você enxerga as funções e responsabilidades do representante de atletas no Conselho?
HS – Acredito que a função do representante é fazer a ponte de comunicação entre atletas e confederação, transmitir o interesse e as necessidades dos próprios ao Conselho Administrativo para que assim os responsáveis possam tomar melhores decisões de acordo com as necessidades dos atletas.
PDR – Quais demandas e projetos você considera importantes hoje de serem levados ao conselho e que beneficiarão os e as atletas do país?
HS – Considero importante os atletas serem mais respeitados no país. Sendo o rugby o esporte que mais cresce atualmente no Brasil deve ser mais valorizado e bem aproveitado. Acredito que o trabalho de base é o mais importante nesse processo, para que existam mais praticantes no país, com isso precisamos de bons educadores e de uma estrutura adequada nos centros de treinamento, pensando também na vida durante e pós dos atletas, contando com plano de saúde, planejamento a longo prazo, plano de carreira, e também no bem estar dos atletas.
- – Lúcia Beatriz Ferreira – indicada pela Federação Gaúcha de Rugby
PDR – Conte-nos sobre sua experiência no rugby, dentro e fora de campo?
PDR – Como você enxerga as funções e responsabilidades do representante de atletas no Conselho?
LBF – Enxergo como um porta voz entre os atletas e a CBRu, alguém que acompanhara de perto todo o processo burocrático e de tomada de decisão da instituição. A responsabilidade é de defender o ponto de vista das pessoas que jogam rugby.
PDR – Quais demandas e projetos você considera importantes hoje de serem levados ao conselho e que beneficiarão os e as atletas do país?
LBF – Para mim seria fazer funcionar de verdade as academias TOP 100 em todos os lugares que a CBRu disse que implementaria esse projeto. Lutar pela permanência do Super Sevens com 6 ou mais etapas como campeonato nacional feminino. Saber dos clubes se para eles a nova proposta de campeonato masculino adulto é válida. No meu ponto de vista regionalizar os campeonatos tem alguns pontos positivos, mas de uma maneira em geral sou contra, visto que é justamente a competição nacional que faz com que a troca de conhecimento entre os estilos de jogo seja mais rica e produtiva. Lutar para que as seleções feminina e masculina tenham as mesmas oportunidades e apoio da CBRu.
- – Taiso Motta – indicado pela Federação Fluminense de Rugby
PDR – Conte-nos sobre sua experiência no rugby, dentro e fora de campo?
Taiso Mota – Comecei no rugby em meados de 2009, no Itaipuaçu Rugby Clube, time que jogo até hoje, por influência de amigos que tinham participado de um grupo de juvenis no início do clube, em 2004. Esses amigos me convidaram pra tentar remontar o IRC que não participava de nada no cenário fluminense desde o final de 2004. Nosso fundador e treinador tinha se mudado e com isso o time tinha dispersado e acabado. Quando retornamos em 2009 as expectativas eram simples: juntar os amigos aos finais de semana para brincar e treinar para o Rio Beach Rugby de 2010, tradicional torneio de praia do RJ. Foi meu primeiro torneio e depois disso me apaixonei pelo rugby (ainda sem conhecer o que era realmente o rugby). Voltei a participar do Beach (com a equipe) em 2011, 2013, 2014 e 2015.
A essa altura tínhamos um problema: só nos reuniamos para participar dos torneios de praia, devido a falta de compromisso de alguns atletas. Então em 2012 eu e um amigo (jogador desde 2004) decidimos reestruturar o clube e tomamos a frente dos treinos e diretoria. Em 2013 voltamos a participar do Campeonato Fluminense na série desenvolvimento (Série C), ficando em terceiro Lugar sendo uma das poucas equipes a participar de todas as etapas. Nessa época eu estava a frente do clube acumulando funções como coach, diretoria e capitão. Foi tentando ajudar o IRC que fiz o curso de Coach Nível 1 da CBRu nesse mesmo ano. Hoje além do curso de coach tenho também o de árbitro e recomendo para todos os atletas, pois abrem a sua visão do rugby.
Nessa mesma época eu fazia faculdade de jornalismo e já havia feito algumas reportagem sobre o rugby no jornal O São Gonçalo, onde estagiava. Então o Rodolfo Carugati (Tuco), presidente da FFRu, me propôs uma parceria que durou até o final daquele ano. Comecei então a fazer a “assessoria de imprensa” da Federação. O intuito era atualizar o site com releases dos jogos e buscar mais visibilidade junto à mídia. O ano de 2013 foi principalmente um ano de conhecer o rugby fora das quatro linhas. A convite do Bruno Romano fiz uma matéria freelancer para a edição 3 da revista Rugbier. Intitulada “Meninos do Rio”, a matéria explorava a importância e o crescimento dos projetos sociais que envolviam o rugby no Rio pré Olimpiadas.
Em 2014 continuei com as funções administrativas no clube e a competir como jogador quando participamos da Série B do Carioca. No ano passado ainda como um dos membros da diretoria, dessa vez no conselho, voltamos a participar da Série B Fluminense.
PDR – Como você enxerga as funções e responsabilidades do representante de atletas no Conselho?
TM – Com seriedade. Com certeza todos que hoje exercem seu papel para que a CBRu continue fazendo um excelente trabalho tem a sua importância, mas ser alguém que representa a voz dos atletas é algo diferenciado. O material humano é fundamental para qualquer esporte. Sem dinheiro, mídia e diretoria, existe rugby. Sem atletas, não. Então o representante dos atletas deve sempre buscar os interesses dos atletas, sobrepondo aos interesses de qualquer outra área da Confederação. Um exemplo prático: recentemente entrou em pauta diminuir o número de etapas do Super Sevens (de 6 para 3). O que eu vi foi uma mobilização das próprias atletas para que isso não ocorresse. Não quero entrar no mérito da questão financeira, quero discutir a representatividade, dialogar sobre os interesses. Creio ser esse o papel do representante.
Acho importante que o atleta se sinta representado. Com todo o respeito que eu devo ao Portugal (do qual sou fã), como atleta me sinto esquecido. Tenho certeza que ele trabalha, mas a sensação é que minhas demandas não são ouvidas pela CBRu. Não soube de nenhuma reunião/visita que o representante tenha feito ao Rio com o intuito de ouvir os jogadores, principais interessados – o que pode ter sido também uma falha na comunicação com a Federação.
PDR – Quais demandas e projetos você considera importantes hoje de serem levados ao conselho e que beneficiarão os e as atletas do país?
TM – Penso que o principal é ouvir. É preciso encurtar as distâncias entre a CBRu e os atletas, do contrário o posto de representante se torna apenas figurativo. O ideal seria que cada região tivesse um representante, ou pelo menos que as federações disponibilizassem uma pessoa para atender essa demanda com o representante da Confederação. Acho interessante lidar diretamente com os capitães das equipes masculina e feminina dos clubes. A idéia é democratizar os problemas para encontrar a solução.
É muito difícil falar em importância de demanda no rugby brasileiro porque vivemos abismos de realidades. Eu jogo em um time masculino, dito pequeno, que disputa a série B, no RJ. Eu sei dos desafios dos atletas de times que vivem isso, mas eu não conheço a fundo as necessidades dos atletas do Niterói Rugby, por exemplo. Ou de uma atleta do feminino. Ou ainda de um clube da série B de SP, onde envolve muitos atletas, existe uma disputa de muito mais clubes e a Federação tem mais força e estrutura. São demandas diferentes que devem ser tratadas de forma diferente. O importante para o atleta X não é o mesmo para o atleta Y.
Mas claro, a falta de verba para o incentivo financeiro, acredito que seja um ponto comum a todos os atletas. Um exemplo importante foi o que aconteceu com a Academia Top 100 do Rio. É um excelente projeto da CBRu, mas que não levou em conta o fator humano e a realidade amadora do rugby nacional. Os atletas começaram a abandonar por inúmeros fatores: distância, custo, horários dos treinos, agenda. Não tem como a pessoa trabalhar durante 8 horas, estudar quatro, perder mais quatro no trajeto, treinar duas com o clube e ainda arranjar tempo pra Top 100 e dormir. Sem contar os custos de transporte e alimentação. Que realidade é essa onde um treino é às 10h da manhã de uma quinta-feira? A academia ficava em Niterói, o que pra alguém de Volta Redonda é uma distância considerável. Por que não uma academia em cada centro urbano com times próximos? Teria um preparador e um treinador que seguiriam um cronograma semanal igual para todos e apresentariam o resultado a um coordenador geral. Esses preparadores e coach poderiam ser dos próprios times, sem custo extra para a confederação.
Algo que me incomoda muito e que também é motivo de reclamação por parte dos atletas é ver as convocações das seleções brasileiras e anotar em grande maioria nomes do eixo SP/SUL. A CBRu explica que isso ocorre devido a falta de organização das federações locais e de um campeonato regional forte. Concordo. Mas como manter um campeonato regional equilibrado se cada vez mais atletas de clubes menores que despontam evadem em busca de visibilidade para alcançar a seleção e disputar campeonatos melhores? Inclusive há casos de atletas que vão jogar em outro estado em busca desse sonho, por orientação do próprio coach. Cria-se um ciclo vicioso, porque os clubes mais estruturados captam esses atletas e lançam para a seleção, e os clubes menores permanecem sem estrutura e força. O que se torna danoso para um campeonato. Acho que os próprios clubes através de seus coachs poderiam ser o funil para a Seleção Brasileira. Os coachs penerariam os jogadores através dos índices de testes da CBRu e indicariam de dois a três que achassem aptos. Após aconteceriam seletivas regionais com o coach da seleção – até para dar experiência para esses atletas. Essas seletivas poderiam ocorrer de quatro em quatro meses (ou seis em seis), conforme a necessidade da confederação.
Recentemente a CBRu apresentou uma ideia de projeto que visa um campeonato entre seleções regionais para tentar observar esses atletas que não tem tanta visibilidade. Isso ajudaria muito, entretanto ao meu ver, só dará certo se conseguirmos manter os atletas em seus clubes de origem e fazer com que essas seleções regionais trabalhem em prol do clube, e não o contrário. Não é o atleta que desponta que deve procurar a seleção, é a seleção que deve procurar os atletas que despontam. Hoje existe uma inversão, sem benefícios ao atleta e ao clube.