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ARTIGO COM VÍDEOS – Entre suspiros, resultados desnivelados, tries de uma genialidade única e tackles salvadores, o Super Rugby segue para as semifinais com Lions x Highlanders e Hurricanes x Chiefs. As quartas de final agitaram este fim de semana e resultaram na classificação de três neozelandeses entre os quatro melhores da temporada. O único australiano sobrevivente, o Brumbies, caiu em casa contra o Highlanders, 15 x 9, ao passo que dois sul-africanos também foram vítimas dos kiwis: o Stormers, que foi atropelado em casa pelo Chiefs, 60 x 21, e o Sharks, que “não viu a cor da bola” visitante o Hurricanes, 41 x 0. Apenas o Lions salvou a honra da África do Sul e despachou os neozelandeses do Crusaders, 42 x 25.
Suspirar até ao apito final
Foi um jogo emocionante do ponto de vista de resultado… tecnicamente, nem tanto, muito devido às adversas condições meteorológicas (chuva e vento intenso) que obrigaram as duas equipes a jogar de forma mais cautelosa. A “estrelinha” de campeão surgiu perto do final quando os Brumbies tiveram uma scrum encima dos últimos 5 metros dos neozelandeses… após 4 repetições da mesma, os campeões em título do Super Rugby conseguiram defender com todas as suas forças e, no momento X, Aaron Smith conseguiu chutar a oval para fora das linhas. O sofrimento deveu-se, em larga medida, à forma como os Brumbies “cresceram” e tentaram garantir uma vitória que surpreenderia meio Mundo do Rugby… e, também, pela forma como os Highlanders não conseguiam dar uso à bola em boas situações de ataque. O retorno de David Pocock foi providencial com todo aquele show de turnovers (foram “somente” 4 neste encontro) para além das grandes tackles que andou a distribuir durante todo o encontro (10, uma delas a Ben Smith, quando o quinze tentava fugir em direcção à linha de try). Foi o último jogo do asa ao serviço dos Brumbies, uma vez que partirá para seis meses de sabática (estudos superiores) e depois irá para os Panasonic Knights no Japão durante um ano e meio. Por isso, nada melhor do que dar tudo o que tinha, que no final não conseguiu ser o suficiente para eliminar os campeões Highlanders. Foi um jogo muito complicado para a formação neozelandesa, que não conseguia equilibrar as scrums, comprometendo, por 7 vezes esse setor… e 3 dessas 7 vezes, Lealiifano converteu em pontapés para um 06-03 que se fixou até aos 36’. Uma das penalidades foi um mal menor para os Highlanders, já que aos 16’ Tevita Kuridrani recebeu um passe de Lealiifano e com uma quebra de linha, quase que chegou à área de validação, não fosse a ação defensiva eficaz de Patrick Osborne… na sequência uma falta num ruck originou a penalidade que colocou os Brumbies na frente do placar.
Todavia, quando os Brumbies precisavam de calma e manter os Highlanders parados, a equipe de Jamie Joseph conseguiu reunir as peças necessárias para subir no terreno e chegar ao try. Ao minuto 36’ acontece o tal duplo revés… try de Naholo à ponta (belo trabalho de Aaron Smith e Lima Sopoaga) e amarelo a Matt Toomua, por sistemática falta de fora de jogo. O regresso dos balneários foi diferente… os Brumbies decidiram dominar a oval e tentar, a todo custo, chegar aos pontos necessários para inverter a situação de desvantagem. Bem que Kuridrani tentou encontrar espaço suficiente para voltar a tentar fugir, mas uma boa defesa inteligente dos Highlanders ia impossibilitando aos Brumbies de fazer melhor que uma conversão de uma penalidade para o 09-10. Ao bom jeito desta equipe neozelandesa, permitiram que os Brumbies fossem jogando, para numa oportunidade voltarem a sorrir… e foi assim, quando Lealiifano no meio de uma jogada rápida, transmite a bola para Sopoaga interceptar e entregar a Faddes, com o nº13 (tem sido um dos segredos dos Highlanders) a fugir e a criar o espaço suficiente para que em duas fases rápidas, Liam Squaire fizesse o 15-09. Matt Faddes tem sido importante nestes últimos tempos para os Highlanders, seja a atacar (9 tries, 26 quebras de linha) ou a defender (60 tackles). A título de exemplo vejam o jogo brutal que o centro fez contra os Chiefs (25-15) com 13 tackles e 2 turnovers. Neste encontro, voltou a ser aquele “rochedo” que vai liderando as linhas atrasadas dos campeões do Super Rugby. Voltamos ao jogo, para dizer que foi um sufoco para os neozelandeses… os Brumbies foram aplicando pressão a todas as bolas, recuperando-as para tentar chegar à área de try… entre os 75’ e os 81’, foram momentos de stress para os neozelandeses, que viram 5 scrums australianas a quase chegar ao try… mas um erro final e uma bola para fora, valeu a vitória dos Highlanders que assim mantém-se na linha do bicampeonato.
Sharks apanhados no Furacão de Wellington
Pelos vistos os Tubarões não sobreviveram ao vendaval de Furacões que se fizeram sentir em Wellington. O vendaval não proveio só do enorme jogo dos Hurricanes, mas também do mau tempo que se fez sentir ao longo de 80 minutos… chegou a imperar uma ligeira preocupação com este facto, uma vez que podia criar problemas ao típico jogo de offloads dos neozelandeses e dar o beneficio ao jogo físico dos Sharks. Mas, a par de uma situação aos 8’ (um try bem invalidado pelo juiz de jogo), os Sharks não existiram a nível ofensivo… e defensivo foi, também, um desastre. Se há 3 meses ganharam por 32-15, agora a derrota por 41 pontos a zero demonstra bem uma diferença “abismal” entre equipes. Pat Lambie ficou de fora deste encontro, porque não tinha o mínimo de jogos na fase regular (têm de fazer 4 jogos) e este factor complicou, em muito, os processos ofensivos dos Sharks. Veja-se em contrapartida o jogo brilhante de Beauden Barrett, que apesar de não ter feito qualquer try (ou assistido directamente) foi colocando a oval no sítio certo, à hora certa, completando com TJ Perenara (se forem à final contra os Highlanders ou Chiefs vai ser um duelo espectacular contra Aaron Smith ou Faf de Klerk) uma dupla fenomenal de jogo. O formação foi responsável por três tries, assistindo Uhila, aos 16’, James Marshall, aos 20’ e Woodward, aos 46’. Nesse try, o terceiro dos Hurricanes, Perenara chegou mesmo a dar um bruto de um chega para lá (ou offload) a Michael Claasens antes de transmitir a Marshall para o 20-00.
Foi um total show e é recomendado que vejam o jogo de uma ponta a outra, para perceberem que quando estes Hurricanes querem, o Mundo é deles… óbvio que para além de todo o mérito, há o factor dos Sharks terem pecado num pormenor fundamental: atitude. Fraca disposição mental para jogarem contra os Hurricanes, com vários erros defensivos (30 tackles falhadas em 98 oportunidades), abrindo várias “brechas” em todo o campo. Os Hurricanes conseguiram “fintar” 26 adversários e, no processo, realizar 13 quebras de linha o que explica os bons números finais… até deu para ter Julian Savea no banco (só entrou na 2ª parte). O quarto try de Fifita (começa a ganhar um elenco de fãs, uma vez que a composição física aliada a um carisma de atitude e raça fazem-no um provável futuro All Black) foi através de mais um “bailado” de Perenara. Até ao final Perenara fez o seu try (Uhila, pilar pesado segue a bola rápido) e Shields segue para o try final numa ação rápida e eficaz aos 80’. Um jogo de um só sentido, com uma equipe que está à procura do seu primeiro título no Super Rugby… para já fica a dúvida se Dane Coles vai recuperar para as semifinais, uma vez que saiu agarrado ao pulso direito. Do lado dos Sharks é esperar que os jovens Tubarões que cresçam e comecem a ganhar fome de vitórias… este tipo de derrotas podem servir de lição e de motivação extra para uma próxima oportunidade. Para já caem nos quartos-de-final perante uma equipe mais experiente, mais rápida e liderada pelo brilhante Barrett, apoiado pelos irmãos Savea (Ardie voltou a “encher o olho” durante os 60 minutos que jogou) e um “menino da casa” Matt Faddes.
Em covil de Leões, Cruzados não passam
O “rugido” dos Leões estremeceu a demanda dos Cruzados, pondo fim ao sonho do oitavo campeonato à equipe liderada por Kieran Read e Israel Dagg. Num encontro em que Warren Whiteley regressou após lesão de 3 semanas, a equipe de Joanesburgo acabou por ser mais eficiente com a oval nas mãos e chegou a números bem redondos, numa vitória por 42-25. Antes de mais, destacar que a ausência, por lesão, de Nemani Nadolo (ponta fijiano que está de saída para França) acabou por ter um impacto mais profundo do que se poderia supor… Jone Macilai-Tori substitui o poderoso fijiano e ficou aquém do que a equipe precisava. Os Crusaders bem que conseguiram quebrar as linhas defensivas dos sul-africanos, porém quando estavam a escassos metros de conseguir tries, perdiam a bola no passe, seja com um knock-on ou uma intercepção ou turnover (7 para os Lions e 5 para os neozelandeses), o que “borrou” a pintura e os desígnios da equipe de Todd Blackadder. Mas o jogo ofensivo dos Lions foi uma total e incrível ode ao Rugby positivo: correram com a bola tanto como os Crusaders, em menos carries , quebraram o mesmo número de linhas que os seus adversários e… fizeram menos 118 passes que a equipe dos Cruzados.
No final, as contas foram: 5 tries (mais dois que os visitantes) e mais duas penalidades (exatamente o mesmo número de conversões de Mo’unga), com a questão das idas à área de validação a fazerem a total diferença nos números finais (42-25). Não h+a nada melhor do que esta fusão de estilos, com a tal eficácia e frieza típica do rugby sul-africano com a magia e técnica que estamos mais acostumados a ver no rugby neozelandês ou australiano. E quem são os grandes obreiros disto? Lionel Mapoe, Faf de Klerk, Jaco Kriel, Ruan Combrinck, Van Ransburg e Elton Jantjies. O par de médios, que já tínhamos destacado no artigo de preparação para as semifinais, voltou a mexer com os destinos do jogo, com uma mão cheia de jogadas e variações de jogo (Jantjies assistiu no primeiro try enquanto de Klerk o fez no segundo). Porém, se há jogador que merece o prémio de Melhor em campo é Lionel Mapoe… um jogador completo, que tem pormenores do mais fantástico possível. O quinto try de Ruan Combrinck, nasceu num line-up, tendo Mapoe recebido de Skosan… depois quando já tinha encontrado e explorado o espaço, esperou por um cruzamento com o ponta dos Springboks… com um passe “inventado” que deixou três jogadores dos Crusaders (Dagg, Crotty e Fonotia) pregados ao chão, possibilitando a Combrinck chegar à área de try sem qualquer oposição. No que toca ao jogo, os Crusaders estiveram sempre longe de disputar o resultado, pois 13’ já perdiam por 15-00. Foi sempre uma corrida contra a forma eléctrica de jogar dos da casa, que a cada erro dos Crusaders (19 contra os 15 dos sul-africanos) foram aproveitando para reverter o “caminho” de jogo. O insult to injury foi dado quando Mapoe, ao pé, mete um pontapé com efeito que Dagg não consegue captar, permitindo a Ross Cronje ter o tempo suficiente para apanhar a oval e a cair para dentro da área de try. Aos 79’, Volavola ainda conseguiu atenuar um pouco o resultado final, mas o mal já estava feito e o sonho do oitavo campeonato caiu por terra para os Crusaders. Kieran Read, Israel Dagg ou Ryan Crotty entram em descanso, dando espaço a um novo sonho do Super Rugby chamado de Emirates Lions… é possível repetirem a façanha, desta vez frente aos campeões em título? Veremos se De Klerk tem a velocidade para bater a Aaron Smith ou se Mapoe consegue fugir a Fekitoa.
Uma tormenta… para o time da casa!
Jogando em casa, os Stormers, da África do Sul, não foram capazes de fazer frente aos Chiefs, da Nova Zelândia, que deram verdadeira aula de ataque, com jogo sem fluido e de alta voltagem, capaz de liquidar a conta ainda no primeiro tempo, para o desespero da torcida da Cidade do Cabo, que teve poucos minutos de alegria. Os números de antes da partida pendiam a favor do time de Waikato, apesar da igualdade de pontos entre os dois lados na temporada regular.
O início do time do Cabo foi excelente, com o pilar Vincent Koch fazendo o primeiro try do jogo logo aos 11′, mostrando a força do pack listrado. Mas, a reação viria logo e fulminante, com o ponta Sam McNicol finalizando com estilo após troca de passes de McKenzie e Lowe. O curto circuito aconteceu no time da casa e Webber fez o segundo try logo depois, em contra-ataque bem armado. Jaco Taute ainda teria chute bloqueado aos 24′ para Sanders cair no in-goal para o terceiro try, já desmontando a reação dos Stormers. O quarto try não tardaria, em momento de brilhantismo de Lowe na ponta, chutando e apanhando no in-goal aos 34′. Koch ainda romperia a defesa neozelandesa antes do intervalo para levar o jogo à pausa em 34 x 14 de desvantagem para os donos da casa, com um primeiro tempo que teve 71 carregadas de bola para os sul-africanos, conta apenas 47 para os visitantes, que, no entanto, souberam exploram os espaços e a velocidade com muito mais eficiência.
O segundo tempo se abriu com os Chiefs tirando dos Stormers as esperanças de reação. Aos 46′, o fullback Damian McKenzie correu para o quinto try dos Chefes, finalizando rápida troca de passes. E o placar se manteve inalterado até os 73′, com verdadeira batalha de atrito no jogo de conta que teve os sul-africanos cometendo excessivos erros de mãos. Nos números, os Stormers novamente tiveram mais de 60% de posse de bola e território no segundo tempo, garantiram 100% de aproveitamento nos laterais, bateram 25 defensores, contra apenas 17 batidos pelos Chiefs, obrigaram os neozelandeses a darem 134 tackles, contra apenas 79 seus, e correram levemente menos que seus oponentes, 519 contra 555 metros. Mas, enquanto os Stormers cruzaram o in-goal apenas duas vezes em 70 minutos, os Chiefs estiveram na meta em cinco oportunidades, provando que a qualidade do seu jogo aberto e a precisão de seus tackles dispensam longo controle da bola. Eficiência ao extremo no xadrez pelos espaços.
Apenas aos 73′ os Stormers chegaram a seu terceiro try, com Nizaam Carr, mas os neozelandeses fecharam o jogo com nada menos que três tries em cinco minutos, para garantir uma pesada memória ao torcedor presente no Newlands. Elliot, Kolomatangi e Kerr-Barlow fecharam a conta para os Chiefs. O triunfo por 60 x 21 manteve o time de Dve Rennie na perseguição de seu terceiro título do Super Rugby.
Currie Cup põe fim à Fase Classificatória
Na África do Sul, o fim de semana ainda foi de Currie Cup, que chegou ao final de sua Fase Classificatória. O Western Province fechou com a melhor campanha, enquanto o time da Namíbia, o Welwitschias, terminou a campanha inicial com 14 derrotas em 14 jogos. Em agosto, os seis times vinculados às franquias do Super Rugby – Western Province (Stormers), Kings, Sharks, Cheetahs, Lions e Bulls – e os três melhores entre os demais – Griquas, Mpumalanga Pumas e Boland Cavaliers – jogaram todos contra todas, na chamada Premier Division, o torneio de elite, que começa logo após o fim do Super Rugby e sem a participação dos atletas dos Springboks.
Super Rugby – Liga de Argentina, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Japão
Quartas de final
Brumbies (Austrália) 09 x 15 Highlanders (Nova Zelândia), em Canberra
Hurricanes (Nova Zelândia) 41 x 00 Sharks (África do Sul), em Wellington
Lions (África do Sul) 42 x 25 Crusaders (Nova Zelândia), em Joanesburgo
Stormers (África do Sul) 21 x 60 Chiefs (Nova Zelândia), na Cidade do Cabo
Semifinais
Sábado, dia 30 de julho
04h35 – Hurricanes x Chiefs, em Wellington
10h00 – Lions x Highlanders, em Joanesburgo
*Horários de Brasília
The Currie Cup – Fase Qualificatória – Campeonato Sul-Africano
Falcons 59 x 26 Kings
Bulldogs 18 x 22 Cheetahs
Leopards 37 x 17 Griquas
Eagles 24 x 29 Sharks
Griffons 17 x 60 Pumas
Cavaliers 28 x 24 Golden Lions
Welwitschias 07 x 71 Western Province
Equipes | Cidade principal | Filiação no Super Rugby | Jogos | Pontos |
---|---|---|---|---|
Western Province* | Cidade do Cabo | Stormers | 14 | 61 |
Griquas | Kimberley | Cheetahs | 14 | 56 |
Boland Cavaliers | Wellington | Stormers | 14 | 54 |
Mpumalanga Pumas | Nelspruit | Lions | 14 | 51 |
Golden Lions* | Joanesburgo | Lions | 14 | 47 |
Free State Cheetahs* | Bloemfontein | Cheetahs | 14 | 44 |
Blue Bulls* | Pretória | Bulls | 14 | 38 |
Leopards | Potchefstroom | Sharks | 14 | 37 |
Griffons | Welkom | Cheetahs | 14 | 36 |
Natal Sharks* | Durban | Sharks | 14 | 33 |
SWD Eagles | George | Kings | 14 | 30 |
Falcons | Kempton Park | Bulls | 14 | 30 |
Border Bulldogs | East London | Bulls | 14 | 26 |
Eastern Province Kings* | Porto Elizabeth | Kings | 14 | 13 |
Welwitchias | Windhoek (Namíbia) | - | 14 | 01 |
* classificados automaticamente à fase final |
- Empate = 2 pontos;
- Derrota = 0 pontos;
- Anotar 4 ou mais tries = 1 ponto extra;
- Perder por diferença de 7 pontos ou menos = 1 ponto extra;
* Western Province, Kings, Sharks, Cheetahs, Lions e Bulls já têm vaga assegurada na fase final. Os 3 melhores entre os demais times também avançarão à fase final.
Escrito por: Francisco Isaac e Victor Ramalho