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O rugby italiano não vai nada bem. Se já não bastasse o constante bombardeio de críticas que a seleção italiana vem sofrendo nos últimos anos, a aclamada revista Rugby World publicou uma matéria em seu site questionando o mérito das vagas que as equipes do país recebem nas copas europeias e o sucesso da entrada italiana no PRO12.
Duas equipes da Itália foram admitidas na Liga Celta, atual PRO12, em 2010, garantindo nada menos que 20 partidas anuais contra equipes irlandesas, galesas e escocesas, além dos 2 jogos entre os italianos e outras 6 partidas pelas Copas Europeias (6 porque jamais um time italiano avançou à fase de mata-mata da Copa Europeia, atual Champions Cup, antiga Heineken Cup).
O Benetton Treviso foi o que mais venceu, com 3 vitórias em 30 jogos, sem jamais ter vencido mais de um jogo por temporada, acabando em último lugar em todas as oportunidades. O desempenho, ironicamente, é muito pior do que o obtido pelo próprio Treviso antes de entrar no PRO12. Em 2005-04, uma temporada antes do ingresso na liga, Treviso venceu 3 partidas na então Heineken Cup, acabando em terceiro lugar em seu grupo. Resultado igual ao de 1998-99, quando também obteve 3 vitórias. Em 13 temporadas entre 1995-96 e 2009-10, Treviso venceu 14 jogos, mais de uma vitória por torneio, enquanto em 5 temporadas desde sua entrada no PRO12 o Treviso venceu menos de um jogo por torneio. O finado Aironi, que foi sucedido pelo Zebre na liga em 2012, venceu apenas 1 jogo em 2 temporadas, enquanto o Zebre não triunfou nenhuma vez na principal competição continental, disputando apenas 2 temporadas.
No próprio PRO12, o desempenho é péssimo. O Treviso soma 34 vitórias em 110 jogos, sem contar a atual temporada, terminando apenas uma vez acima do 10º lugar (entre 12 times), enquanto Aironi e Zebre terminaram no último lugar em todos os anos que disputaram a liga, com Aironi vencendo 5 partidas em 44 jogos e com o Zebre vencendo 8 vezes em 66 partidas, também sem contar a atual temporada.
E os demais clubes do país? Isto é, os que ficaram disputando o Campeonato Italiano (o Eccellenza), com menos dinheiro a cada ano por conta da atenção ser maior na Itália sobre o PRO12. Desde 2010-11, os clubes do Eccellenza têm vaga apenas na Challenge Cup, a segunda copa europeia, e o desempenho é pífio, com nenhum time avançando ao mata-mata e um total de apenas 6 vitórias em 102 jogos somadas 17 campanhas de 7 clubes diferentes. Para piorar, em 2014-15, de 4 vagas diretas na Challenge Cup os clubes do Eccellenza passaram a ter que disputar a terceira copa europeia, o Torneio Qualificatório, contra clubes em tese mais fracos, dos países menores da Europa. E veio o choque na atual temporada. Neste fim de ano, Rovigo e Fiamme Oro foram atropelados pelo campeão romeno Timisoara Saracens, enquanto o Mogliano perdeu em casa tanto para o campeão alemão Heidelberger como para o campeão espanhol Valladolid. Crise absoluta, que faz ecoar comentários dentro do rugby italiano sobre uma possível volta ao amadorismo dos clubes do Eccellenza, já muito debilitados.
Qual a solução?
A discussão é quente hoje na Itália sobre a solução para salvar o rugby profissional do país, cujo evidente fracasso influencia negativamente a forma da seleção italiana, expondo que o lento progresso (ou mesmo estagnação) da seleção é reflexo de um frágil rugby de clubes.
Ontem, em conferência realizada pela Federação Italiana de Rugby (FIR), o presidente da entidade Alfredo Gavazzi declarou que a Itália irá pleitear uma terceira equipe no PRO12, baseada em Roma, para dar oportunidade a mais jovens jogadores de crescerem no rugby de nível elevado da liga ítalo-celta. Com duas equipes mal sucedidas já na competição, a inclusão de um terceiro time – ao que tudo indica fadado à últimas posições – levanta questionamentos sobre se é essa realmente a solução.
O blog 1823 Rugby contestou que uma terceira equipe no PRO12 seja solução e apontou que é preciso uma articulação mais sólida entre clubes do Eccellenza e equipes do PRO12, para garantir um caminho mais sólido do atleta da base ao nível máximo do profissionalismo. Para o blog, o abismo de nível técnico entre o PRO12 e o fraco e debilitado e empobrecido Eccellenza seria o maior problema na captação de atletas para a liga, com o atleta chegando à principal competição mal formado.
Enquanto isso, além de uma terceira franquia, a FIR planeja candidatar uma cidade italiana a sede da final do PRO12, a fim de aumentar o interesse pela liga no país, com Florença e Gênova demonstrando inicial interesse.
Qual será o caminho que os italianos escolherão para saírem dessa situação inquietante? Mais capítulos virão, certamente.
Enquanto isso, as portas continuam fechadas ao próspero rugby georgiano.
Enquanto isso, as portas continuam fechadas ao próspero rugby georgiano.