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Apelido: Wallabies
População: 23.900.000
Capital: Canberra
Continente: Oceania
Principais títulos: Copa do Mundo (1991 e 1999) e Tri-Nations/The Rugby Championship (3 vezes)
Mundiais disputados: Todos
Melhor campanha em Mundiais: Campeã (1991 e 1999)
Copa do Mundo de 2011: 3º lugar
Caminho para o Mundial 2015: Classificada antecipadamente como uma das 12 melhores da Copa do Mundo de 2011
Técnico de 2015: Michael Cheika
2015: Grupo A
23/09 – x Fiji – Histórico: 19 jogos, 16 vitórias, 2 derrotas, 1 empate. Último jogo: Austrália 49 x 3 Fiji, em 2010 (amistoso);
27/09 – x Uruguai – Histórico: nunca se enfrentaram;
03/10 – x Inglaterra – Histórico: 43 jogos, 24 vitórias, 18 derrotas e 1 empate. Último jogo: Inglaterra 26 x 17 Austrália, em 2014 (amistoso);
10/10 – x Gales – Histórico: 38 jogos, 27 vitórias, 10 derrotas e 1 empate. Último jogo: Gales 28 x 33 Austrália, em 2014 (amistoso);
Maior campeã do mundo e dona do maior número de finais de Copa, sim senhor. Bicampeã empatada com os All Blacks e Springboks em títulos e igualada com All Blacks e Les Bleus em finais, três no total, é verdade. A Austrália está sempre entre as favoritas ao título mundial, é time de chegada e cresce em decisões. Porém, os tempos de glória dos Wallabies estão perigosamente ficando distantes no tempo, sendo a seleção campeã mundial que há mais tempo não levanta a Taça Webb Ellis: desde 1999. Ainda assim, os australianos irão à Inglaterra com empolgação, afinal, acabam de conquistar o título inédito do Rugby Championship derrotando a Nova Zelândia na partida final, 27 x 19. É verdade que no último sábado os Wallabies falharam em derrotar pela segunda vez os All Blacks, sofrendo um preocupante placar elástico de 41 x 13 em Auckland. Mas, para quem não era bem cotada há um ano para a Copa do Mundo, após acumular três derrotas seguidas nos amistosos de novembro de 2014, contra França, Irlanda e Inglaterra, os meses de julho e agosto deste ano foram motivo de muita comemoração.
A história do rugby australiano quando vista em perspectiva parece uma sombra da vizinha Nova Zelândia. O país dos cangurus tinha tudo para ser uma potência inigualável da ovalada, mas os primeiros anos do esporte ditaram o que seria a Austrália no rugby. O esporte chegou cedo por lá, sendo praticado desde 1860 em Sydney. Por volta dos anos 1880 eram mais de cem clubes pelo país, mas quase todos centrados nos estados de Nova Gales do Sul (cuja capital é Sydney) e Queensland (cuja capital é Brisbane), que juntos concentram cerca de metade da população do país. E a outra metade? Foi conquistada por outro esporte, que também começou a se desenvolver de forma independente, nos anos 1860, em Melbourne, cidade que vivia um explosão populacional pela corrida do ouro. Nesse período, o rugby ainda não tinha uma entidade que o padronizasse sequer na Inglaterra, e os britânicos que foram a Melbourne carregavam consigo a paixão pelos jogos com bola, mas não carregavam regras comuns entre eles, reunindo os ingredientes para a criação de um esporte novo e único, e que dividiu o país, conquistando também as cidades importantes de Perth, Adelaide e a ilha da Tasmânia. Em Sydney, por outro lado, os adeptos do rugby vindos da Inglaterra eram em maior número e logo organizaram seus clubes e partidas, introduzindo de forma organizada seu esporte. Porém, um segundo abalo viria em 1908.
A popularidade do rugby em Sydney era tamanha que o esporte já contagiava todas as classes sociais e, como ocorrera em 1895 na Inglaterra, a pressão dos jogadores de origem mais humilde pela permissão a remunerações cresceu e o terreno para o Rugby League se expandir estava preparado. Bastou o grande astro do rugby da época Daly Messenger e outros jogadores de destaque aderirem à iniciativa de um grupo de empresários locais que o racha aconteceu, e com sucesso. O Rugby League nascia em Sydney e passara a contratar todos os grandes nomes do rugby local, atraindo a atenção e o apoio da massa. Em Brisbane, o mesmo ocorreu, e em questão de pouco tempo o Rugby Union se tornaria uma sombra do Rugby League na Austrália, ficando restrito às escolas e clubes de elite. A divisão era social.
Apesar de não contar com todo o seu potencial, a Austrália não tardou a voltar a vencer seus rivais, derrotando a Inglaterra em 1909, a Nova Zelândia, em 1910, 1913 e 1934, os Lions em 1930 e a África do Sul em 1933, por exemplo. Mas, conforme o Rugby League foi crescendo e acumulando mais dinheiro, os Wallabies também se viram afetados, sobretudo no pós-Segunda Guerra Mundial. Entre 1950 e 1970, os australianos fizeram 71 test matches e venceram somente 19, incluindo duas derrotas para Fiji e insucessos contra os Maoris. Em 1973, a Austrália ainda perdeu para Tonga. Apesar de vitórias regulares ao longo de sua história contra os All Blacks, a diferença histórica é evidente e, em 154 jogos entre os dois países, a Austrália venceu apenas 42. Ninguém no mundo tem tantas vitórias sobre a Nova Zelândia, mas ninguém enfrentou tantas vezes os All Blacks como os Wallabies. Em 1978, Greg Cornelsen se tornou o primeiro a fazer quatro tries em um só jogo contra a Nova Zelândia.
Em 1980, uma leva de grandes jogadores transformou o Union australiano e, em 1984, pela primeira vez na história, a Austrália saiu de um tour na Europa acumulando quatro vitórias contra Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda, além de bater um estrelado Barbarians, alcançando o chamado Grand Slam, sob o comando do jovem técnico Alan Jones e do brilhante abertura Mark Ella. Em 1987, os australianos sediaram a primeira Copa do Mundo junto dos neozelandeses, entrando confiantes no torneio, mas caindo na semifinal em jogo épico em Sydney contra a França (com o famoso try de Serge Blanco). A geração era boa e em 1991, com lendas como Nick Farr-Jones (capitão), David Campese, Michael Lynagh e Tim Horan no auge, os Wallabies festejaram o título mundial, derrotando Irlanda, em jogo épico nas quartas de final, com try no apagar das luzes de Lynagh, Nova Zelândia na semifinal, com direito a show de Campese, e Inglaterra na final, com try isolado do pilar Tony Daly, 12 x 6. Em 1995, por outro lado, os Wallabies foram ao Mundial com força, mas sucumbiram diante da Inglaterra com drop goal de Rob Andrew nas quartas de final.
O rugby se tornou profissional e o Super Rugby levantou o Union australiano, que passou a atrair atletas originários do Rugby League também. Em 1999, com o capitão John Eales, o scrum-half icônico George Gregan, o abertura Stephen Larkham e o fullback Matt Burke, os Wallabies voltaram a crescer, passaram pelos Springboks em uma sofrida prorrogação nas semifinais e bateram a França por largos 35 x 12 na final, tornando-se a primeira seleção bicampeã mundial. A geração de Gregan e Larkham ainda conquistaria o Tri Nations em 2000 e 2001, venceria também em 2001 uma série contra os Lions pela primeira vez desde 1930 e levaria a Austrália como favorita ao Mundial de 2003, em casa. Na semifinal, vitória famosa contra os All Blacks, mas na decisão veio a Inglaterra e o drop goal de Jonny Wilkinson na prorrogação, pondo um fim às conquistas da era dourada do rugby australiano.
Em 2007, os Wallabies voltaram a perder para os ingleses nas quartas de final, novamente com drop goal de Wilkinson, e mais nenhum Tri Nations foi conquistado até 2011, quando a dupla Will Genia e Quade Cooper liderou uma jovem e mágica geração, que parecia retomar os tempos de glória dos aussies. No Mundial do mesmo ano, a Austrália desmoronou na primeira fase contra a Irlanda, se reergueu nas quartas diante da África do Sul, mas perdeu para os All Blacks na semifinal. A equipe oscilou desde então, chegou ao ponto baixo em 2014, com péssimas atuações, derrota para os Pumas e crise interna, mas se reergueu em 2015 com o título do Rugby Championship.
No Mundial, os australianos caíram no grupo da morte e terão pela frente Inglaterra e Gales, que venceram ano passado a Austrália em amistosos. Porém, os aussies de 2015 são muito melhores que os de 2014, mais confiantes e acabaram de tirar um peso das costas com o último título, ao contrário de ingleses e galeses, que viram a Irlanda levantar a taça do Six Nations nos últimos anos. As três seleções têm aspectos semelhantes com terceiras linhas muito poderosas e linhas criativas e extremamente perigosas, mas seus homens de frente ainda têm que provar um algo a mais. A Austrália tem vantagem histórica sobre seus oponentes e, com o breakdown a seu favor, saltará à condição de favorita do grupo, apesar do extremo equilíbrio. Fiji também está no grupo e poderá ser um adversário chato, mas a superioridade australiana é evidente, assim como diante do Uruguai.
Sob o comando do técnico campeão do Super Rugby 2014 com o Waratahs, Michael Cheika, a Austrália reencontrou sua confiança neste ano e a União Australiana de Rugby contribuiu para o momento mudando suas regras e permitindo que Cheika convocasse Matt Giteau e Drew Mitchell, que até então não podiam vestir a camisa dourada por jogarem na Europa. Os Wallabies encontraram um equilíbrio em sua linha que há muito não tinham, com Giteau assumindo responsabilidades ao lado de Ashley-Cooper e mantendo a coesão. Israel Folau, um dos melhores fullbacks do mundo, segue sendo outra arma poderosa, assim como Tevita Kuridrani, que se mostra um centro confiável, sobretudo defensivamente. A grande questão estava na dupla de 9 e 10, cuja formação ainda segue em aberto. Nic White foi melhor que Nick Phipps como scrum-half durante o Championship, enquanto Bernard Foley foi melhor que Quade Cooper, que, contudo, ainda segue nos planos de Cheika.
Entre os forwards é onde se viu a maior evolução. A força do Rugby League no país sempre dificultou na formação de bons primeiras e segundas linhas e os australianos seguem com esse problema. Porém, a contratação do argentino Mario Ledesma como treinador de forwards vem ajudando a Austrália a evoluir nas formações, que antes tanto a prejudicavam, com destaques para o bom Championship de David Mumm na segunda linha e Sekope Kepu na primeira linha. Hoje, o lateral ainda segue mais vulnerável que o scrum, mas a situação já esteve pior. O trunfo está na terceira linha e a derrota acachapante em Auckland para os All Blacks, contrastada com a vitória em casa no sábado anterior, expõe que Cheika precisa apostar no trio David Pocock, de oitavo, Michael Hooper e Scott Fardy, de asas, que formam uma das melhores – senão a melhor – terceira linha da atualidade no planeta. Com tal formação, os Wallabies podem se candidatar fortemente ao título mundial e serem a seleção mais capacitada para voltar a bater os neozelandeses, apesar do último insucesso. Basta Cheika fazer a coisa certa e não mexer em time que está ganhando.
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