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ARTIGO OPINATIVO – O “Elefante na sala”. É hora de falarmos da derrota do Brasil contra o Chile, é lógico. O Brasil foi derrotado pelo segundo ano seguido pelo Chile e ficou claro que vivíamos uma ilusão das circunstâncias.
Quando a Seleção Brasileira derrotou o Chile pela primeira vez na história, em 2014, e passou a construir até 2019 uma superioridade – ainda que tênue – sobre os chilenos, o que gerava o crescimento dos Tupis era uma circunstância bastante específica: o Brasil tinha o seu alto rendimento como diferencial.
Não é muito difícil de enxergar isso. A revolução que a Confederação Brasileira de Rugby primeiro vez foi o investimento no alto rendimento, isto é, na profissionalização da seleção – primeiro, pela profissionalização da estrutura e depois dos próprios atletas. O Brasil fez isso mais rápido e melhor que seus concorrentes sul-americanos – exceto o Uruguai, que nunca esteve realmente atrás do Brasil em nada.
O que a criação da SLAR – a liga profissional sul-americana – fez foi tirar o Chile do atraso no alto rendimento. Em 2020, o Chile passou a ter condições de treinamento e profissionalismo iguais ao Brasil e isso significou que perdemos nosso diferencial.
É óbvio que a ação individual ainda pode fazer a diferença. Um treinador ou um grupo de atletas excepcionais “fora da curva” podem garantir um período de sucesso. Mas são exceções, que podem beneficiar qualquer país no mundo. O acaso existe. No entanto, qualquer trabalho precisa se nortear pela tendência.
Se o Brasil tem uma categoria de base diminuta e um rugby de clubes mal estruturado, a tendência é que fique mesmo para trás do Chile. Tendência não é certeza. Tendência é a possibilidade maior. O erro de todo mundo que não entende o que é uma tendência é se iludir com momentos de excepcionalidade.
Se o Brasil perdeu a única coisa que tinha de melhor que o Chile (o profissionalismo, a qualidade de seu trabalho no alto rendimento, agora igualado pelo Chile), outros fatores passarão a influir na tendência do futuro.
Isso significa que o Brasil não vai mais ganhar do Chile? Se você entendeu isso, entendeu errado o que é tendência. É claro que o Brasil tem chances de vencer o Chile – ou mesmo o Uruguai – nos próximo encontros, mas as chances – a probabilidade – estão contra o Brasil no momento.
Mais alarmante que isso é o fato de que nos próximos anos também perderemos nosso diferencial com relação a Paraguai e Colômbia. Hoje, temos muitos mais atletas profissionais – e mais experientes no nível das seleções nacionais – do que paraguaios e colombianos, que ainda dependem na SLAR de seus argentinos. Porém, isso é questão de tempo. A pergunta que fica é: nosso rugby de categorias de base e nosso rugby de clubes é melhor que o paraguaio e o colombiano? É essa a pergunta que precisa nos preocupar.
O rugby brasileiro encontrou em 2021 o seu limite. Foram 10 anos nos quais prevaleceu o “presentismo”, o trabalho de curto prazo, acreditando que só nós trabalhamos e somos inteligentes. Nunca foi verdade. Se em 2019 – antes da pandemia – nosso rugby de categorias de base era mínimo, a única conclusão lógica é que falhamos no trabalho de médio e longo prazo ao longo da década passada. Houve trabalhos bons nos 10 anos, sim, mas não ganharam prioridade e o resultado é este.
Vamos seguir no trabalho de “eterno presente”, no curto prazo, que sempre tem uma justificativa “racional”? Ou vamos depositar nossos esforços no longo prazo de verdade? É essa a pergunta que precisa ser feita agora. Agora é agora, e não quando a decepção deixar de ser uma derrota para o Chile e se tornar uma derrota para o Paraguai ou para a Colômbia. Previsões nada apocalípticas, apenas lógicas.
O tolo lê este texto e retruca: “temos bons jogadores, faltou XYZ”. Não estou negando que temos talento. Temos, ainda que o jogo contra o Chile – e a SLAR inteira – mostrou que temos limites sérios – o preparo físico é bom, a defesa melhorou, mas ainda temos sérios problemas em propor o jogo, criar espaços e enxergar as melhores estratégias ao longo do jogo. Falta-nos ainda “rugby”, que vai além do físico. Oras, falta-nos uma melhor formação. “Ter bons atletas” hoje não significa ser bom para sempre – é apenas circunstancial, obviamente.
Isso não significa que comissão técnica e atletas atuais não sejam passíveis de criticas. Todo mundo é. Eu poderia fazer um texto dizendo o que achei bom e ruim das decisões do Fernando Portugal ou dos atletas. O que isso resolveria dos nossos problemas? Nada, além de me render “likes” de quem ficou com raiva (no “bom sentido”, nada pessoal, apenas aquela do torcedor passional) de fulano ou sicrano. De oportunista, o rugby já ganhou outro “blog”, recheado de asneiras e dissimulações. No Portal, a lógica é outra. Fazemos análises dos jogos no Portal (querem saber nossa visão sobre o jogo dentro de campo? Os vídeos dos “Drops do Mamute” tão aí pra isso). Mas o assunto mais relevante agora não é o “dentro de campo”.
Aliás, tanto faz se vencermos o Uruguai no dia 25 ou se tivéssemos derrotado o Chile no último dia 11. Se você entendeu meu raciocínio, sabe que resultados dentro de campo (o “resultadismo”) não são a única medida que deva ser levada em conta. “Resultadismo” é para tolos. Mesmo quando o rugby brasileiro estava em ascensão, antes das derrotas recentes para o Chile, eu falava as mesmas coisas. E ainda ouvia baboseiras sobre ser crítico demais. Não é uma questão de ser “chato” ou não. É uma questão de lógica, de ver tendências a partir do quadro geral do rugby no país. É entender a tendência.
Poderia falar sobre a pandemia, e como ela afeta mais o jogo do Brasil do que das outras equipes, ou ainda que se o trabalho foi copiado, não estava de todo errado.
Mas o fato é que queremos mais. E isto é importante. O trabalho se faz nas duas pontas. O alto rendimento veio para ficar. Assim como temos de apostar no desenvolvimento das novas gerações.
Levantar a cabeça e consertar o estrago. Quando as vacinas chegarem serão 2 anos quase sem Rugby. Não vai ser fácil. Mas o Rugby do Brasil descobriu que tem “fome”. Ganhamos nos últimos tempos jogos incríveis e vimos que podemos mais.
Esta é a lição que fica. A fome de vencer.
Copiaram? Chico, o Brasil não inventou o profissionalismo. É só o caminho que a SLAR ajudou a formalizar e antecipar nesses países.
Fome de vencer também nunca faltou pra atleta nenhum que já vi vestir a camisa da seleção, basta ver que isso tudo começou com um grupo ainda amador vencendo o Paraguai fora de casa pela primeira vez em mais de 30 anos. Você só descobriu agora?
Eu sei que você se esforça bastante pra defender tudo e qualquer coisa que a CBRu faz, mas você pode fazer melhor. E o artigo nem crítico à CBRu é
Pra ser sincero, se havia alguma perspectiva de vitória no embate físico pelo Brasil, ela foi literalmente por água abaixo, pois foi um fiasco. Tomamos um cambão no scrum e no maul. Achar que porquê venceu meia dúzia de jogos contra o chile, já estamos em outro patamar, é se muito esnobe e pouco pé no chão. O Chile era a principal força a bater o Uruguai na América do Sul e provou isso em 2015. Se o Brasil quiser ocupar este posto, terá que jogar muito contra o Chile ainda. Foram 10 anos para bater de vez o Paraguai e será 10 anos para bater de vez o Chile. O Brasil precisa melhorar seu rugby doméstico, precisa fortalecer a base, precisa capitar mais recursos, precisa de mais parcerias e mais patrocinadores, precisa estimular competições juvenis, precisa fortalecer o regionalismo competitivo som suas seleções. Precisa otimizar o seu marketing e sua propaganda, e por aí vai. Pra se fixar no Tier 2 de vez, tem que trabalhar muito ainda.