Foto: ©INPHO/Dan Sheridan

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ARTIGO OPINATIVO – O Fair Play começa a sua cobertura semanal dos British and Irish Lions 2021, com uma espécie de “diário” sobre o que se vai passando com a selecção dos melhores jogadores das ilhas britânicas e irlandesas em terras sul-africanas. Dos destaques nos jogos às notícias, passando pela análise de jogadores e momentos, fica a saber os principais pontos de interesse da tour à África do Sul!

 

A NOTÍCIA DE ABERTURA: ALUN WYN JONES E JUSTIN TIPURIC FALHAM O TOUR

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A vitória em solo escocês frente ao Japão (28-10) acabou por terminar com alguns tons acinzentados, tudo por causa das graves lesões que Alun Wyn Jones e Justin Tipuric sofreram logo nos primeiros 15 minutos de jogo, forçando a mudanças não só na convocatória (entrada de Adam Beard e Josh Navidi para os lugares vacantes) como na liderança do elenco dos Lions deste ano. Conor Murray foi o homem escolhido para se impor como capitão na esquadra britânica-irlandesa de Warren Gatland, apesar dos rumores terem apontado Owen Farrell para o lugar de Alun Wyn Jones na liderança, uma vez que foi o jogador mais votado como líder numa votação interna levada a cabo pelos jogadores do contingente dos Lions. Voltando um pouco atrás, Alun Wyn Jones, o mítico 2ª linha do País de Gales, e Justin Tipuric, um dos asas mais multifacetados dos galeses, contraíram ambos lesões a nível do braço, com o (ex)capitão a ver o seu ombro deslocado após uma placagem, enquanto o 3ª linha sofreu um dano num dos nervos entre a cervical e o ombro.

Ponto final no tour para estes dois jogadores, vistos como quase imprescindíveis, tornando a missão de Warren Gatland ligeiramente (ou profundamente?) mais complicada, já que com a ausência de Alun Wyn Jones perde poder no alinhamento, uma voz motivadora no pack, um combatente resiliente, entre outras qualidades, sendo que Tipuric oferecia toda uma panóplia de apontamentos técnicos diferenciadores e com capacidade para criar problemas constantes ao bloco dos Springboks.

Porquê Conor Murray? Experiência, posicionamento em campo e foco mental. Owen Farrell é um bom líder de grupo, como se tem visto na Inglaterra (seja nos bons ou maus momentos, o centro/abertura nunca cedeu em termos emocionais), mas não é certo que seja titular ou que jogue em todos os test matches. Já Conor Murray, ganhando o lugar a Gareth Davies e Ali Price, dificilmente não estará em todos os momentos dos Lions, podendo manter uma ligação segura e confiante entre os blocos de avançados e 3/4’s, sendo uma peça resiliente e que tem a confiança dos seus pares.

Por via das dúvidas, esclarecemos o porquê das chamadas de Navidi e Beard. Em 1º lugar, ambos conhecem bem o trabalho de Gatland, tendo feito parte da selecção galesa dos últimos quatro anos, encaixando assim na perfeição no que toca às exigências técnico-tácticas do seleccionador dos Lions; Adam Beard é um dos melhores avançados a trabalhar o maul dinâmico, seja a defender ou atacar, para além de ser um jogador de confiança no labor defensivo, algo partilhado com Josh Navidi, que acrescenta ainda ideias diferentes no uso da oval e no aparecer em jogo aberto; por fim, Navidi estava na lista B do staff técnico dos Lions, tendo estado a treinar até este momento, enquanto Adam Beard terminou em grande forma pelos Ospreys. James Ryan não estava nas cogitações devido a uma lesão (reavaliado pela Irlanda, que têm dúvidas se vai jogar durante o mês de Julho), com Richie Gray a não ganhar o lugar por opção técnica, isto se falarmos de 2ªs linhas. Em relação a Navidi, os nomes de CJ Stander e Sam Underhill  ganharam alguma dimensão nos rumores, mas nenhum destes teve realmente uma hipótese de receber a chamada porque nem o irlandês ou o inglês são atletas similares a Justin Tipuric, nos termos técnicos.

A ANÁLISE AO(S) JOGO(S): VITÓRIA COM O JAPÃO DIZ-NOS ALGUMA COISA?

28-10, uma 1ª parte de total domínio, seguindo-se uma segunda metade menos “poderosa” mas que em nada alterou o mérito da vitória dos Lions em Murrayfield frente aos brave blossoms de Jamie Joseph, que realizaram o seu primeiro encontro internacional desde Novembro de 2019! A equipa da “casa” impôs um estilo diferente do que os adeptos estariam à espera, imprimindo boa velocidade nas fases-de-jogo, resgatando a oval com qualidade no breakdown e a bloquear a voracidade técnica japonesa através de uma técnica de placagem asfixiante, que virava os choques físicos em autênticos mauls, o que permitiu ter sempre a oval sob seu controlo durante os primeiros 40 minutos.

Neste aspecto, Tadhg Beirne, Jack Conan ou Robbie Henshaw foram os principais destaques, com bons números tanto nas placagens (12-16-8 tentativas para 1-2-0 falhadas) e turnovers, fornecendo uma espécie de vitamina de grande fisicalidade que ajudou a criar sérias dificuldades a um elenco japonês que demorou a assentar e a ter um fio de jogo minimamente constante. Por outro lado, viu-se velocidade nos processos dos Lions, especialmente na cobrança rápidas penalidades, como por exemplo aconteceu quando Dan Biggar agarrou rapidamente a oval após uma penalidade resgatada no breakdown para executar imediatamente um pontapé para a linha-de-fora, levando a ensaio na sequência.

Esta inteligência e manha só trouxe apontamentos positivos para o engrandecimento do sistema de jogo dos Lions, que esteve baseado num ataque rápido e compacto, na imprevisibilidade de certas tomadas de decisão (o ensaio de Duhan Van der Merwe é uma demonstração viva deste aspecto) e na eficácia dos processos nas fases-estáticas, uma plataforma de jogo que Gatland procura ter completamente aperfeiçoada para impedir um sofrimento prolongado frente aos Springboks.

Por isso, e para já, ficou vista uma equipa dos Lions de qualidade, agressiva, penetrante, de grande durabilidade e apetrechada de jogadores comprometidos e que sabem executar a estratégia de jogo pensada, apesar de ainda faltar algum fulgor ofensivo mais veloz, ou, pelo menos, de processos mais acelerados.

O ALERTA: TOUR CIRCUNSCRITA A UNS QUANTOS ESTÁDIOS?

A situação perpetuada pelo SARS-CoV-2 forçou ao governo da África do Sul invocar o nível 4 de medidas para o combate contra a pandemia, roçando um lockdown quase total, com esta notícia a levantar dúvidas se o tour podia decorrer totalmente ou não, isto nas vésperas da viagem dos British and Irish Lions para o País do Arco Irís. Ouviram-se rumores no sentido de cancelamento da viagem ou de recolocação dos jogos noutro país, mas no fim de contas tudo se mantém quase igual, tendo sido efectuadas só umas quantas alterações em relação aos estádios que vão receber os jogos. O 1º jogo marcado para dia 3 de Julho frente aos Emirate Lions mantém-se em Joanesburgo, mas já o encontro previsto frente aos Cell-C Sharks deverá merecer uma mudança de Joanesburgo para a Cidade do Cabo, com a capital da África do Sul a poder muito bem a vir ser o centro das operações de todo o tour, ainda sem confirmação.

As possíveis alterações são perceptíveis neste momento, tendo o presidente sul-africano garantido que o tour poderia se realizar sem problemas, ficando a reafirmação que todos os encontros serão sem presença de público nos estádios, caindo então esse “sonho” de todos por terra – poderá ser revertida a decisão para os últimos dois test matches, sem no entanto existirem certezas desse facto.