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ARTIGO OPINATIVO – Osamu Ota, presidente da Top League (a liga japonesa, que está sendo remodelada para se tornar totalmente profissional em 2022), confirmou à imprensa que a federação do Japão está discutindo a criação já para 2022 de uma competição que envolva os melhores times do Super Rugby da Oceania e da nova liga japonesa. O projeto reaproximaria Japão, Austrália e Nova Zelândia e não teria nenhuma relação com o Mundial de Clubes que vem sendo discutido.
Não foram dados maiores detalhes sobre a competição, mas ela sugere ser um projeto de Champions Cup da Ásia-Oceania. Em 2022, além da nova liga japonesa, o Super Rugby AU (da Austrália) e o Super Rugby Aotearoa (da Nova Zelândia) deverão voltar a unir forças e contarão com a expansão da estrutura do Super Rugby para as Ilhas do Pacífico, com a inclusão de Fijian Drua (time fijiano) e Moana Pasifika (representando Samoa e Tonga). No entanto, a fraca performance até aqui dos times australianos contra os times neozelandeses no Super Rugby Tras Tasman vem levando a questionamentos sobre o interesse australiano em reconstruir uma competição unificada com a Nova Zelândia. Para a Austrália, seguir apenas com o Super Rugby AU ainda parece sedutor – mas não é bom para uma economia menor como a da Nova Zelândia ter apenas o Super Rugby Aotearoa. Uma Champions Cup da Ásia-Oceania poderia ser uma solução perfeita para australianos e neozelandeses. Na minha opinião, o ideal seria manterem o Super Rugby AU (com o time fijiano) e o Super Rugby Aotearoa (com o Moana) separados, descartar de vez o Super Rugby Trans Tasman (que não parece em bom rumo) e apenas incluir a Champions Cup junto dos japoneses entre maio e junho.
A questão maior relativa às discussões sobre novas competições na região é a incerteza que segue sobre o futuro do calendário para australianos e neozelandeses. Primeiramente, a migração dos times da África do Sul para o PRO16 europeu e o êxodo dos jogadores argentinos para o rugby europeu fez com que Springboks e Pumas passem a ter um sério problema no futuro com relação ao calendário do Rugby Championship. Por quê? O rugby europeu tem sua temporada inteira jogada de setembro a junho, com apenas julho e agosto de “off-season”. Porém, o calendário é ainda mais complicado na Europa, quando a pandemia passar. Com a realização dos amistosos internacionais entre seleções em julho, os atletas de seleção têm férias em agosto e só retornam a seus clubes em setembro ou outubro, já com a temporada em andamento. Para atletas que não são de seleções, as férias são em julho e a pré temporada em agosto.
Por sua vez, o Rugby Championship é jogado justamente em agosto e setembro. Por conta da pandemia, nada mudará em 2021, que acabou se tornando uma transição. Mas é difícil imaginar Springboks e Pumas jogando o Championship em agosto e setembro. Isso porque deverá haver um esforço de sul-africanos e argentino junto dos clubes europeus para garantirem férias aos atletas dessas seleções no meio da temporada. Não é impossível, mas será uma dor de cabeça a partir de 2022.
O que isso significa para Austrália e Nova Zelândia? A possibilidade de terem que aceitar mudanças na estrutura de seu calendário. Hoje, as férias na Austrália e na Nova Zelândia são em dezembro, com os atletas fazendo pré temporada em janeiro. O Super Rugby (os Super Rugbys) é disputado de fevereiro a junho e a partir de julho o foco são as seleções. Como encaixar uma nova competição com os japoneses nesse calendário? Onde se encaixaria o Rugby Championship? São questões de difícil engenharia.
Em 2022, o Japão dará início para sua liga em janeiro, propondo 16 rodadas (4 meses) para sua temporada regular (terminando entre abril e maio), seguida de mata-mata (em maio, eventualmente junho). Sua seleção joga em julho e os atletas ganham férias em agosto. O retorno das atividades é com mais jogos da seleção em novembro e um período de pré temporada para seus clubes em dezembro. O Japão sabe que precisa encontrar uma nova competição de seleções também para se desenvolver (o Rugby Championship seria perfeito, não?), mas isso igualmente impactaria no calendário. Onde ela se encaixaria?
Para todos os 3 países, a aproximação é muito importante. O Japão traz dinheiro para Austrália e Nova Zelândia, que oferecem jogos de alto nível aos japoneses. É evidente que uma Champions Cup do Pacífico para os times japoneses e do Super Rugby seria excelente, ao passo que a entrada do Japão no Champiobship me parece ainda mais importante. A questão é antes de mais nada equacionarem o calendário – e isso depende também de sul-africanos e argentinos, agora presos ao calendário europeu. Fica claro como faz falta um calendário global unificado e colaboração internacional no rugby.