📸Gaspafotos/SLAR

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ARTIGO OPINATIVO – Não há nada definido. No entanto, a notícia que circulou na semana foi a entrevista do vice presidente da EPCR (a entidade organizadora da Champions Cup europeia), Vincent Gaillard, sobre um futuro Mundial de Clubes que já vem sendo negociado desde o ano passado. Nela, o dirigente comenta sobre o plano original do vice presidente do World Rugby, Bernard Laporte, que propusera em 2020 um Mundial de Clubes anual com times das 3 grandes ligas europeias (PRO14, Top 14 e Premiership), do Super Rugby, da liga japonesa e da Major League Rugby norte-americana. O projeto foi transformado, com a possibilidade de um torneio jogado de 4 em 4 anos sendo negociado no momento.

O notório das declarações é a ausência da América do Sul. Não é possível afirmar que o continente será excluído, já que as informações são escassas sobre as negociações atuais, mas o fato da nova liga sul-americana, a SLAR, não ser citada, preocupa. Em parte, a Argentina ainda não parece ter se convencido de que a SLAR é o melhor caminho para seu rugby, pois a UAR (a federação argentina) ainda fala na possibilidade de buscar uma liga no exterior para os Jaguares, depois de sua exclusão do Super Rugby. Tanto é que a UAR não utilizou exatamente a marca Jaguares na SLAR. A opção argentina foi a de utilizar o “Jaguares XV”, isto é, o time de desenvolvimento dos Jaguares, mesmo que o time principal já não exista mais. Um tanto estranho, para dizer o mínimo, utilizar o “Time B” quando seu “Time A” não existe mais. No entanto, isso tem um efeito prático: a SLAR ser considerada apenas uma liga de desenvolvimento, o que certamente não a habilitaria a ter vagas num Mundial de Clubes.

Fica claro que o sucesso futuro da SLAR depende da Argentina abraçar o projeto de que ela é a liga principal para o país. Obviamente, isso não significa ter os atletas dos Pumas atuando na SLAR. A Argentina pode ter sua seleção principal majoritariamente formada por atletas baseados no exterior e ainda assim identificar que a SLAR está no topo da estrutura do rugby do país. Nada diferente da realidade de outros esportes, como futebol ou basquete, que têm os melhores atletas no exterior. O mesmo vale para Uruguai, Chile, Brasil.

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Para a SLAR ser um sucesso ela necessita ter ao menos um segundo time argentino, que garanta rivalidade e disputa eletrizante pelo título, e, lógico, dar vaga no futuro Mundial de Clubes, caso ele saia mesmo do papel. Para o rugby brasileiro, esse cenário seria perfeito. Pouco importam nossas chances reais de título nos próximos anos. O que importa é fazer parte de uma competição que construa prestígio – como liga.

 

E esse projeto de Mundial, é real?

É difícil hoje medir o quão “quente” é o assunto Mundial de Clubes. O período das eleições para a presidência do World Rugby foi atipicamente quente, com dois projetos de transformação do calendário mundial ganhando espaço na imprensa desde 2019: o Mundial de Clubes e a Liga Mundial de seleções. A pandemia tornou o cenário mundial ainda mais complexo – basta citar a dissolução do velho Super Rugby, a criação de um novo Super Rugby da Oceania e a migração dos times sul-africanos para o PRO16 europeu. O projeto da Liga Mundial de seleções foi congelado – mas ainda não descartado, pois segue na pauta.

O que fica claro é que há demanda por mudanças na estrutura de competições do rugby e isso ficou evidente pelo plano estratégico de 2021-25 do World Rugby. O que é difícil mesmo de ser visualizado é onde um Mundial de Clubes s encaixaria num calendário tão saturado e de futuro incerto.

 

Ideias para o Mundial de Clubes?

Quanto mais simples e rápido, melhor. No entanto, eu, pessoalmente, não vejo validade num Mundial de Clubes de 4 em 4 anos. Clubes são entidades dinâmicas e os elencos mudam mais do que seleções nacionais. No minha visão, Mundial de Clubes precisa ser anual para fazer sentido.

O mais lógico seria um Mundial “copia e cola” do modelo vigente da FIFA, com o campeão do Super Rugby e o campeão da Champions Cup europeia classificados para as semifinais e esperando vencedores dos demais continentes – no caso, na minha visão, SLAR sul-americana, MLR norte-americana, Currie Cup sul-africana (ou equivalente, abrindo espaço para times de outros países africanos participarem) e a nova liga japonesa (igualmente abrindo espaço para times de outros países asiáticos).

No entanto, não é isso que os europeus querem. Todas as propostas pedem a inclusão dos campeões das ligas europeias – Top 14 francês, Premiership inglesa e PRO16, além da Champions Cup, totalizando 4 europeus. Com isso, fala-se em mais 3 representantes do Super Rugby e 1 do Japão, deixando uma participação sul-americana improvável. O que iria contra a própria ideia de “Mundial” de clubes. Vamos esperar novas capítulos.