Foto: Six Nations

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ARTIGO COM VÍDEOS – Como esperado, houve razões suficientes para dotar a última do Six Nations 2020 de um dramatismo total, que terminou com a “Rosa” da Inglaterra a subir mais alto que os seus adversários, tudo graças a uma vitória da França frente à Irlanda em Paris. Os destaques e pormenores do fim de semana que encerrou a maior prova de seleções do Hemisfério Norte e das mais antigos do Mundo do esporte.

Escócia resgata a vitória e o 4º lugar

Monótono durante a maior parte do tempo de jogo, o País de Gales-Escócia teve poucos momentos explosivos ou incríveis de se assistir, apesar da maior insistência do lado escocês em procurar linhas de ataque algo mais energéticas, mas que raramente deram sequência a um movimento interessante. Se a seleção da casa se baseou, em excesso, no subir no terreno pelo jogo ao pé e de tentativa de recuperar o controlo da oval no breakdown ou contacto, já a Escócia foi tentando encontrar superiorizar nas formações e no maior virtuosismo das suas unidades das linhas atrasadas com Finn Russell (forçado a sair por lesão aos 30 minutos de jogo), Adam Hastings, Stuart Hogg e Darcy Graham a serem constantes preocupações para o bloco adversário.

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Contudo, o encontro foi baseado largamente naquilo que é o classicismo do rugby europeu, de um bater contínuo no contacto, de procurar o uso do jogo ao pé para castigar a equipa contrária ou tirar a pressão de não conseguir garantir um avanço na linha de vantagem, esperando que surjam erros pelo cansaço defensivo, uma situação que acabou por acontecer aos homens comandados por Wayne Pivac.

O lado galês só foi capaz de conquistar 190 metros com a oval em seu poder, a larga maioria dentro do seu meio-campo, revelando uma incapacidade preocupante no criar de combinações com as suas opções nas linhas atrasadas em que Dan Biggar ou Leigh Halfpenny tiveram quase nenhum impacto com a oval em seu poder e este fator tirou qualquer possibilidade de mobilidade ofensiva do País de Gales durante os 80 minutos. Mas então como é que a Escócia não foi capaz de fazer mais do que try? Dois motivos: a qualidade do tackle e capacidade de reação defensiva do País de Gales foi de boa qualidade e a perda de sucessivos alinhamentos em zonas proibidas do terreno.

A 2ª razão é talvez a que tenha “estragado” a estratégia de Gregor Townsend em termos de atingir outros números no marcador final, pois a Escócia em 15 alinhamentos perdeu o controlo de bola por 5 ocasiões, três das quais nos últimos 10/5 metros do ataque, enquanto outras duas aconteceram dentro dos seus 22 metros, com uma das quais a resultar na jogada de try dos seus adversários. É inexplicável o porquê de terem persistido em colocar a oval no último saltador, quando era o local mais perigoso e improvável de correr bem o lineout, tanto devido à inoperância do hooker Fraser Brown com o seu saltador ou pela qualidade de salto e incômodo dos saltadores galeses.

O embate clássico acabou por dar vitória para a Escócia que registrou a sua 2ª vitória em solo galês no Século XXI, depois de 18 anos sem ganhar em casa dos Red Dragons, fechando as Seis Nações 2020 no 4º lugar da tabela.

Inglaterra mediana bastou para uma Itália agressiva

Dos três jogos da última ronda das Seis Nações, o Itália-Inglaterra foi o mais caótico em termos de disciplina com 26 penalidades cometidas, 13 para cada lado, ficando bem patente uma carta agressividade excessiva em diferentes lances e embates que precipitaram o jogo para uma anarquia preocupante. A Itália foi bem mais dura e explosiva quer no contacto ou na comunicação com o árbitro em comparação com a semana anterior, com a Inglaterra a cair nessa “armadilha” e entrar no mesmo espírito, perturbando a missão e objetivo delineados por Eddie Jones, que era acumular o máximo número de pontos marcados de forma a garantir a vitória, ponto de bônus ofensivo e uma diferença de pontos superior à Irlanda.

Durante a maior parte do encontro a Inglaterra teve em seu poder a oval e esteve mesmo “acampada” entre os últimos 30 metros do meio-campo transalpino, mas a disposição e foco mental e a má execução técnica foram razões mais que suficientes para não se dar um resultado mais largo no final dos 80 minutos.

Owen Farrell não esteve bem como abertura, já que raramente foi capaz de procurar soluções na defesa de alta pressão da Itália, acabando por fechar em demasia o ataque da Inglaterra e a limitar o fluxo de rugby contínuo da Rosa, que pouco explorou a velocidade desenfreada e skills técnicos de Jonny May e Anthony Watson, tendo isto também sido culpa do fraco envolvimento de George Furbank nas movimentações da Inglaterra. Mesmo assim, a dureza e fisicalidade dominante dos ingleses foi suficiente para manipular a muralha defensiva da Itália a partir dos últimos 20 minutos, altura em que surgiu a melhor Inglaterra, muito por conta da participação da sua 3ª linha e Henry Slade, fabricando os espaços suficientes para subir no território e fazer os tries suficientes para atingir o ponto de bônus e uma vantagem boa entre pontos marcados e sofridos.

Mesmo com alguns tons de cinzento a imperar em demasia a prestação da Inglaterra, a verdade é que garantiram uma vitória justa e merecida perante uma Itália que está visivelmente com outra fibra no que toca à capacidade mental, faltando agora esperar pelo crescimento de jogadores sensação como Paolo Garbisi ou Jake Polledri.

Caos, drama e tragédia na luta… pelo 2º lugar

Naturalmente foi este o melhor jogo das Seis Nações 2020, muito devido à necessidade das duas equipas terem de procurar a vitória por largos pontos de modo a conseguirem chegar ao título… ou seja, a receita certa para um excelente espetáculo no ataque, mas um “manto” de retalhos no espectro defensivo.

A França foi largamente o melhor conjunto com excelentes inserções no ataque pelas mãos de Antoine Dupont e Romain Ntamack, com o formação e abertura a forçar erros repetidos na Irlanda, mostrando toda aquela genialidade entusiasmante que desconcerta qualquer linha de defesa, como se prova pelas seis quebras de linha (3 cada), cinco defesas batidos (o 10 dos Les Bleus foi autor de 2 e o nº9 foi capaz de enganar 3 adversários) e quatro assistências para quebras de linha dos companheiros de equipa – Gäel Fickou foi quem melhor aproveitou os passes de qualidade de Ntamack e Dupont.

A Irlanda conseguiu ter bons períodos durante o encontro mas foi demasiado inconsistente no uso da posse de bola concedendo demasiados erros no contacto ou efetuou faltas em zonas proibidas do campo, como aconteceu naquele tackle ilegal de Caelan Doris que acabou em try de penalidade, apesar de ter sido o lado com menos penalidades cometidas com sete, enquanto que os Les Bleus terminaram nas catorze faltas. Jonny Sexton foi bem “fechado” pela 3ª linha adversária, enquanto Connor Murray não esteve bem nas opções tomadas a partir dos rucks, especialmente quando já estavam dentro dos últimos 10 metros defensivos dos seus adversários, consentindo turnovers críticos quando não podia se dar essa situação.

A França relembrou a tudo e todos que foi a melhor seleção em termos de dar uso à oval (o try de Vakatawa é um hino ao que há de melhor no rugby) e no breakdown durante este (longo) ano de 2020 (o try de Fickou faltando uma ponta de sorte e cabeça naquela visita a Murrayfield, que acabou por ser uma espécie de perda do título anunciada na altura.

Números

MVP da rodada: Romain Ntamack (França);
Tacleador da Ronda: Grégory Alldritt (França) – 24 tackles e 1 turnover;
Melhor Marcador da Rodada: Romain Ntamack (França) – 18 pontos (1 try, 2 conversões e 3 penalidades);