Brasil 1964
Seleção Brasileira de 1964. Acervo: LUDENS

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ARTIGO COM VÍDEOS – No próximo sábado, dia 17, Brasil e Uruguai entrarão em campo pelo Campeonato Sul-Americano. Até hoje, já foram jogadas 29 partidas oficiais entre os dois países, com 26 vitórias uruguaias e 3 vitórias do Brasil: a última em 1964.

Com isso, a história dos confrontos entre Brasil e Uruguai é uma de espera para o Brasil. Afinal, já se vão 56 anos da última vitória brasileira.  Em 2020, o World Rugby determinou que os jogos não valerão ranking, por conta da pandemia, mas ainda assim vale revisitarmos a trajetória do duelo.

Então, vamos a uma história dos 70 anos dos confrontos entre Tupis e Teros! A partir de 2010, você pode clicar nos links e conferir as matérias que o Portal do Rugby publicou na época, pois cobrimos a seleção há mais de uma década.

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O início equilibrado e as vitórias brasileiras

O Uruguai está na origem da Seleção Brasileira. É verdade que nos anos 30 a seleção foi formada para encarar Junior Springboks e British and Irish Lions, que visitaram o Brasil mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial que uma Seleção Brasileira foi formada pensando em enfrentar os países vizinhos. Em 1950, antes mesmo do Brasil ter uma federação de rugby, a Seleção Brasileira ganhou vida para viajar a Montevidéu, naquele foi que a primeira viagem de uma seleção de rugby do Brasil ao exterior.

A viagem se deveu principalmente a ação de Jimmy McIntyre, que por meio de seu conhecido no rugby uruguaio, Charles Cat, conseguiu organizar os jogos. Apesar de não poder ser chamado oficialmente de seleção Brasileira, o combinado, que aliava jogadores do SPRFC com atletas do resto do país, pode ser informalmente considerado uma seleção Brasileira. Foi assim que no dia nove de setembro de 1950, no campo do Montevideo Cricket Club (o “MVCC”), em Sayago, nos arredores da capital uruguaia, o Brasil fez suas primeiras partidas em solo estrangeiro e os resultados não poderiam ser mais animadores, com duas vitórias, sobre o MVCC (24 a 0) e o combinado “El Resto” (9 a 6). O MVCC tem seu lugar na história do rugby mundial, sendo fundado em 1861 e considerado o clube de rugby mais antigo fora da Europa. No grande jogo contra a seleção Uruguai, uma derrota por apertados 8 a 6.

Em 1951, o Brasil participou do primeiro Campeonato Sul-Americano (chamado de Torneio ABCU na época e considerado como um Sul-Americano apenas anos mais tarde), em Buenos Aires.. O jogo contra os uruguaios terminaram em derrota por 17 x 10. Porém, o Brasil só voltaria a encarar um torneio continental em 1961 e nesse período de 10 anos a Seleção Brasileira se valeu justamente de sua proximidade com o Uruguai para ter ação.

Em 1953, o Brasil novamente viajou a Montevidéu e, pela primeira vez, saiu vitorioso, com um triunfo por 3 x 0, naquela que fora a primeira vitória da história da Seleção Brasileira contra outra seleção nacional. O dia 05 de setembro é a data do grande feito no campo do Montevideo Cricket Club com os pontos marcados em penal chutado por Bush (um dos irmãos Bush, não especificado), após o fullback uruguaio errar recepção de chute na chuva e ceder penal.

Em 1961, o Brasil viajou novamente ao Uruguai para encarar o Sul-Americano, sendo derrotado pelos donos da casa por apenas 11 x 08, em outro encontro parelho. Em 1962, foi a vez do Uruguai retribuir a visita ao Brasil e no Campo de Pirituba do São Paulo Railway os uruguaios foram derrotados por 13 x 05 pela Seleção Brasileira – e também foram superados por uma Seleção Paulista na mesma gira.

Em 1963, ano de fundação da União de Rugby do Brasil, a Seleção Brasileira viajou novamente ao país vizinho. Harry Donovan levou a equipe já em preparação para o desafio de receber pela primeira vez o Sul-Americano no ano seguinte. No dia 15 de agosto, no campo do Montevideo Cricket, os uruguaios venceram por contundentes 28 a 0, em partida registrada como oficial pela União de Rugby do Uruguai (URU). Porém, no dia 5 de setembro, no campo do Old Boys, o Brasil venceu por 3 a 0, em jogo não registrado pela União de Rugby do Uruguai (e, por isso, não valendo para as estatísticas), mas registrado pela ABR posteriormente.

A última vitória brasileira ocorreu justamente em 1964, no campo do São Paulo Athletic Club, por 15 x 08, naquela que fora a melhor campanha brasileira na competição até o título de 2018. O grande novo do jogo foi Diego Bush, autor dos 2 tries da vitória brasileira (sendo que naquela época o try valia 3 pontos). Michael Truscott arrematou 3 penais, mas as conversões foram perdidas.

O Brasil entrou em campo naquele 22 de agosto de 1964 com: Leslie Hepburn, Diego Bush, Luis Bush, Thomas Pawson, John Hughes, John Bush, David Pirie, Alastair Steel, Alan Bath, Michael Truscott, Robin Pheysey, Alan Pow, Eric Bradley, Tadao Uryu, Malcolm Aylett.

 

O domínio uruguaio

Os anos seguintes à vitória de 1964 foram complicados para o rugby brasileiro, que não foi representado no Sul-Americano em 1967 e em 1969. Apenas em 1971 a Seleção Brasileira voltou a encontrar o Uruguai e a relação de forças já era outra, com os uruguaios vencendo por 37 x 11 em Montevidéu.

Em 1973, o Brasil voltou a flertar com um resultado maiúsculo, ao perder no campo do SPAC, em São Paulo, por apenas 16 x 06, com Bob Smith chutando os 2 penais brasileiros naquele jogo apertado. Foi a última vez que o Brasil recebeu em solo brasileiro o Uruguai até 1993, indo a campo com: Roger Sykes, Alan Bath, Rui Godoy Junior, Celso Nishihara, Robert Smith, Brian Shoosmith, Alastair MacFarlane, James Semple, Wilson Fry Junior, Ruben Bengolea, Ronald Bishop, William Bennett, Robert Jeanjean, Nelson De Luccia, John Bennett.

Acervo SPAC Rugby

Nos anos seguintes, entre 1975 e 1993, as 7 vitórias uruguaias foram todas amplas, com uma média de diferença de 42 pontos. O último encontro, de 1993, no SPAC, terminou em 55 x 05 para os uruguaios. O Brasil só voltaria a enfrentar o Uruguai em 2009, quando retornou à primeira divisão da América do Sul.

 

O renascimento brasileiro

Em 2009, os 71 x 03 a favor do Uruguai, em Montevidéu, já anunciavam que a volta do rugby brasileiro à elite sul-americana não seria fácil. O resultado, inclusive, virou piada sadia em propaganda célebre da Topper.

A evolução já foi sentida em 2010, com o Brasil perdendo por apenas 26 x 10 para os uruguaios, no Chile, em jogo que o Brasil foi para o intervalo perdendo por apenas 8 x 0. Daniel Gregg fez o try no segundo tempo que deixava um gosto de evolução na seleção brasileira.

No ano seguinte, em Puerto Iguazu, na Argentina, o Brasil fez jogo que foi considerado verdadeiro marco. A derrota por 39 x 18 esconde no placar o que realmente fora aquela partida, que teve Juli Menutti abrindo o placar com penal e tries de Daniel Gregg e João Luiz “Ige” da Ros que deram 60 minutos de esperança ao Brasil de que a vitória estava próxima. Os Teros, no entanto, se impuseram no fim.

Ainda mais perto o Brasil chegou em 2012, no Chile, perdendo por placar de apenas 27 x 15. Daniel “Nativo” Danielewicz e Daniel Gregg cruzaram o in-goal para o Brasil e aos 75′ minutos daquela batalha o Brasil pressionava pela vitória. No entanto, Diego Magno marcou um try que doeu na alma dos Tupis, dando a vitória aos Teros.

“Vacinado”, o Uruguai não deu mais margens ao Brasil nos anos seguintes, com um contundente 58 x 07 em 2013 em Montevidéu. Em 2014, o Brasil voltava a receber o Uruguai em solo brasileiro pela primeira vez desde 1993. O jogo foi em Bento Gonçalves, mas os gaúchos não testemunharam vitória, com os Teros se impondo por 34 x 09. Em 2015, o jogo foi em Montevidéu com 48 x 05 para os uruguaios, provando que, se o Brasil evoluía, o Uruguai também – e muito.


A expectativa pela vitória em nova era

Foi em 2016 que o Brasil voltou a sonhar com a vitória tão desejada. O jogo ganhou um palco de gala: a Arena Barueri, que foram escolhida para o primeiro jogo entre os dois países válido pelo novo Americas Rugby Championship (ARC). E os Tupis, do técnico Rodolfo Ambrosio, finalmente voltaram a flertar com vitória sobre os Teros, que voltavam de uma Copa do Mundo. Os Tupis marcaram seus tries com Monstro, logo aos 10′, e Daniel Sancery, aos 57′, com David Harvey (lembra dele?) marcando 5 penais. Porém, o Uruguai teve um final avassalador e marcou 3 tries nos 20 minutos finais, com Arata, Kessler e Lamanna, para assegurar o triunfo. 33 x 29.

Com o ARC, a partir de 2016 o Brasil passou a enfrentar duas vezes por ano os Teros e o segundo jogo daquele ano foi também em solo brasileiro, com o Allianz Parque, em São Paulo, pela primeira vez sendo usado pelo rugby. O Uruguai se impôs por 36 x 14, com Mark Jackson e Felipe Sancery marcando os tries brasileiros de uma reação ensaiada que não se consumou.

Já em 2017 os dois duelos foram em solo uruguaio. Pelo ARC, o Uruguai fez 23 x 12, em jogo de 4 tries sem resposta (e muitas conversões perdidas pelos Teros). Depois, no Sul-Americano, o placar foi mais amplo, com os uruguaios fazendo 41 x 27, em jogo válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019. Os Tupis caíram de pé em jogo animado, que teve Josh Reeves chutando drop goal para o Brasil, enquanto Moisés Duque, Matheus “Matias” Daniel e João Luiz “Ige” da Ros cruzaram o in-goal para os tries. O try de Ige, aos 69′, colocava o Brasil a um try do empate, mas Leivas liquidou o jogo no fim para os Teros.

Em 2018, apenas um jogo foi disputado entre os dois países, já que o Sul-Americano não teve duelo direto entre Tupis e Teros. Pelo ARC, com o Pacaembu vibrando a favor dos Tupis, o Brasil fez um jogo épico, que teve De Wet e Felipe Sancery marcando 2 tries no primeiro tempo que davam vantagem no intervalo de 18 x 03 para o Brasil. No entanto, os Teros foram brilhantes na segunda etapa, marcaram 3 tries sem resposta e viraram o placar para dolorosos 27 x 18, com Inciarte fazendo o try da vitória aos 70′.

Por fim, em 2019, também pelo ARC, o Uruguai voltou a falar alto e, já em preparação para jogar a Copa do Mundo, fez 42 x 20 em recado claro sendo dado em Montevidéu. E agora em 2020?