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ARTIGO OPINATIVO – O Victor já endereçou um dos temas que vou discutir aqui em artigo do começo do mês, mas dado o fiasco recente, vale retomar e expandir a discussão.
Espanha e Romênia passaram por aqui nesse mês e os Tupis fizeram dois jogaços, quase levando a vitória nos dois confrontos. No entanto, o fator extra-campo acabou ganhando mais destaque do que o desempenho da seleção: a presença do público, ou a falta dele no caso. Foram menos de 500 em Osasco e menos de 300 em Jundiaí, esse último contrastando ainda mais por conta da final do Paulista no mesmo dia levar mais que o dobro de pessoas ao Vale do Sol, em São José dos Campos.
Esse é um tema que já revisitamos à exaustão no Portal do Rugby, e os sintomas parecem os mesmos. Eu sigo acreditando que falta engajamento do público e sobra preguiça de se deslocar para algum lugar que seja menos conveniente que o central Pacaembu no caso da capital paulista. Essa é uma equação difícil, e requer 1 – encontrar um local de custo acessível, 2 – que esteja disponível no dia que o adversário estiver aqui (lembrando que eles fizeram outros jogos na região, e também é preciso equacionar o itinerário dos visitantes) 3 – que não onere as combalidas finanças da CBRu (a World Rugby banca a viagem até São Paulo) e 4 – prover estrutura para a transmissão na TV.
Eu sempre achei que ver os seus amigos vestir o manto da seleção ou simplesmente querer apoiar a seleção do seu esporte favorito deveria ser motivo suficiente para animar todo mundo para encher qualquer campo. Certamente foi para os quase 100 espanhóis que estiveram em Osasco e por vezes fizeram mais barulho que os nossos 400 brasileiros.
Mas não é só.
Uma das primeiras soluções que surgem é levar o jogo para outro estado, mas como vimos recentemente no Sul-Americano, com cerca de mil pessoas no belo Independência em Belo Horizonte, não resolveu. Com mais da metade dos praticantes do esporte no estado de São Paulo, simplesmente há mais chances de haver mais público no estado apesar da realidade não estar correspondendo. Achar que em qualquer outro estado teremos 5, 10 mil pessoas apenas pela força do público do Rugby é ilusório. Não somos 60, 100 mil praticantes do Rugby, ao contrário do que sigam martelando na sua cabeça. Esqueça. Somos 10mil. E olhe lá.
Trabalho conjunto com clubes e federações estaduais
É sabido que por muito tempo a CBRu se manteve propositalmente distante de clubes e federações, uma forma de se descolar da imagem de esporte amador. Apesar de ainda ter muitas dúvidas sobre a continuidade, existe um movimento de aproximação da entidade, que buscou representantes das federações para discutir calendários e clubes com Rugby feminino visando finalmente fomentar o XV. Como as quase 700 pessoas durante a final do Paulista (fora mais de 1,6mil no streaming) e as quase 300 que assistiram Niterói e UFF no Fluminense mostram, o público do Rugby ainda está muito ligado aos clubes, uma realidade que a CBRu não pode mais ignorar, e procurar realizar eventos em conjunto deve ajudar a levar o público para apoiar os Tupis.
O Rugby brasileiro não vai crescer mais sem que haja uma relação de apoio e não predatória entre as partes para que o esporte se desenvolva em TODOS OS NÍVEIS (categorias de base, atletas, clubes, federações).
O Troféu Mundial que rola em julho em São José dos Campos e com verba da World Rugby (e portanto, garantia de mais divulgação). Será um teste interessante, pois haverá a realização de etapa do Festival Infantil da Federação Paulista durante os jogos.
Divulgação, divulgação, divulgação
Independente de onde seja realizada a partida, a divulgação não apenas nas redes sociais, mas na mídia local, não pode ser ignorada. Mais uma vez, recorro aos comentários no face, onde diversos relatos dão conta que a divulgação foi zero nos arredores. Um ingresso em conta pode animar uma família a fazer um programa diferente em regiões que carecem de opções de lazer. Não foi por outro motivo que enchemos o Morumbi (OK, os Maori tem um peso extra) e o Pacaembu contra a Alemanha e levamos quase 5mil no Allianz contra o Uruguai em pleno feriado. Contar com o público casual que vai ao evento mesmo sem ter um clube do coração, é fundamental.
DÚVIDAS
E a TV?
Não se pode negar que a comodidade em assistir o jogo pela TV (apesar da ESPN2 não estar disponível em todos os pacotes de TV) ou no Facebook (apesar dos números não mostrarem grande público) em uma noite fria certamente tem o seu peso, mas esse é um fator que a CBRu terá que descobrir como contornar, pois é impensável não contar com os meios de transmissão para aumentar a visibilidade de patrocinadores. A entidade tem um bom histórico de acertos na organização de eventos, resta manter o formato sempre.
O público se identifica com a seleção?
Essa é uma pergunta que eu gostaria de ver respondida especialmente pelos amigos do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, já que posso ter o viés de estar no centro do Rugby brasileiro. Com o esporte encolhendo em número de clubes e atletas principalmente fora do eixo Sul-Sudeste, será que não estamos também perdendo torcedores? Ter atletas cada vez mais distantes dos clubes pode diminuir o interesse em apoiá-los?
E a Liga?
Se nem a seleção brasileira gera interesse no público, o que dizer das duas franquias que deverão ser criadas em 2020, que mal conheço e nem considero pacas? Como ela vai se viabilizar financeiramente?